Em 13 de outubro, o senador e ex-presidente do Uruguai Pepe Mujica participou de uma roda de conversa promovida pela Fundação Perseu Abramo (FPA), antes de sua participação na abertura do 12º Congresso Nacional da Central Única de Trabalhadores (CONCUT), em São Paulo. Nesta oportunidade, Mujica aceitou ceder uma pequena entrevista exclusiva à tevêFPA. Nela, tratou de integração latino-americana, papel do Brasil e atuação da esquerda neste projeto. Leia abaixo um resumo do que foi dito e assista ao vídeo da entrevista.

Integração

Mujica vê a integração latino-americana como uma necessidade imperiosa, que deve ser encarada como dever pelos governos dos países que formam o continente. Ele entende que, em um mundo que vem se organizando em blocos continentais, a América Latina só terá voz se estiver integrada; mas este projeto enfrenta dificuldades e só se concretizará se os setores dirigentes de países como Brasil e Argentina se derem conta do papel que têm que cumprir.

Papel da esquerda

Para Mujica, a esquerda latino-americana deve lutar por maior distribuição de renda, equidade e pelo desenvolvimento do continente; mas, para que isso seja possível, esta deve encarar a necessidade de mudar a cultura do capitalismo, que nos leva a criar novas demandas constantemente, confundindo felicidade com consumo. Segundo ele, é necessário que a esquerda diga que todos temos de trabalhar, mas que também diga que a vida não pode se resumir a isso: seria preciso entender que a felicidade está para além da riqueza e que há uma única vida para se buscar isso.

Brasil e a integração

Ao olhar para o processo de integração do continente, Mujica entende que, por suas dimensões, o Brasil tem a possibilidade de liderá-lo; mas tem que ter claro que será enfrentado porque chegou tarde e que precisa conquistar o apoio dos outros países. Para ele, seria necessário criar um sistema de imprensa latino-americano, tornar as universidades mais acessíveis, aproximar a infra-estrutura dos países e fazer com que os sistemas sejam compartilhados e se comuniquem. Mujica não sabe se as contradições internas do Brasil permitem levar este projeto adiante, pois há aqui duas frentes em disputa: uma que vê o Brasil como parte da América Latina e outra que o enxerga como um país que deve caminhar sozinho.

Fotos por Sergio Silva / Fundação Perseu Abramo