Leia sobre o discurso da presidenta Dilma Rousseff na ONU sobre e o acordo de justiça entre governo colombiano e as Farc

Ano 2 – nº 24 – 30 de setembro de 2015
 

Abertura da 70ª Assembleia Geral da ONU e a agenda de desenvolvimento pós-2015

Na segunda-feira, 28, a presidenta Dilma Rousseff discursou na abertura da 70a Assembleia Geral das Nações Unidas e no dia anterior participou da Cúpula da ONU sobre o Desenvolvimento Pós-2015. No discurso na Assembleia Geral, Dilma ressaltou os desafios da organização frente à multiplicação de conflitos regionais, abordou o tema dos refugiados e anunciou os compromissos voluntários que o país vai apresentar na próxima Conferência do Clima, a COP21, em dezembro, em Paris. Essa Assembleia Geral marca a adoção dos chamados Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) e da Agenda 2030, em substituição aos objetivos do milênio. Dilma anunciou a meta de redução de 37% das emissões de gases do efeito estufa até 2025 e sinalizou a redução de 43% em 2030 (ano base 2005). Segundo ONGs ambientalistas, o país é o primeiro emergente a anunciar uma meta absoluta de redução de emissões para toda a economia.

Até 2030, como medidas específicas no tocante ao uso da terra e à agropecuária, a presidenta anunciou: o fim do desmatamento ilegal, o reflorestamento de 12 milhões de hectares, a recuperação de 15 milhões de hectares de pastagens degradadas e a integração de cinco milhões de hectares de lavoura-pecuária-florestas. Na área de energia, os objetivos são garantir 45% de fontes renováveis no total da matriz energética; a participação de 66% da fonte hídrica na geração de eletricidade; a participação de 23% das fontes renováveis – eólica, solar e biomassa – na geração de energia elétrica; um aumento de cerca de 10% na eficiência elétrica; e a participação de 16% de etanol carburante e de demais fontes derivadas da cana-de-açúcar no total da matriz energética.

No Brasil, as negociações dos ODS e da Agenda 2030 vêm sendo acompanhadas pelo Grupo de Trabalho da Sociedade Civil, que reúne cerca de 60 organizações. A expectativa é a criação de uma comissão nacional multissetorial, que inclua a participação de organizações da sociedade civil para o seguimento da Agenda pós-2015. A agenda ambiental ganhou reforço com o discurso do Papa Francisco também neste final de semana nas Nações Unidas. Após a celebrada encíclica ecologista publicada em junho, o Papa fez mais um movimento em direção ao tema ambiental ao incluir a natureza como sujeito de direitos em seu discurso na ONU.

Apesar da reta final para a COP21, os efeitos da crise econômica internacional têm alimentado certo ceticismo com relação ao futuro pós-Quioto, já que muitos países desenvolvidos, cujo comprometimento é central para garantir a efetividade do regime internacional de mudanças climáticas, têm sinalizado com uma agenda minimalista para o tema e mesmo as medidas já aprovadas encontram dificuldades para serem concretizadas. O Fundo Climático Verde aprovado na COP de Copenhagen (2009), por exemplo, estabeleceu a meta de arrecadar US$ 100 bilhões para auxiliar a redução de emissões e a adaptação de países em desenvolvimento, mas até o momento a arrecadação não passou de US$ 10 bilhões. No caso da Agenda 2030, que estabelece as metas dos ODS para os próximos 15 anos, a Conferência Internacional de Financiamento para o Desenvolvimento, realizada em junho, na Etiópia, tampouco foi capaz de estabelecer fontes adicionais de recursos para o desenvolvimento sustentável.

Por outro lado, o baixo empenho dos países desenvolvidos revela uma abertura para as soluções via mercado. Uma série de estudos e análises têm lançado luz sobre as crescentes relações entre as Nações Unidas e o setor corporativo. No caso específico do meio ambiente, por exemplo, a criação de um mercado de créditos de carbono pelo Protocolo de Quioto permitiu a negociação de certificados de redução de emissões nas bolsas de valores (envolvendo grandes investidores e agências de classificação de risco) e abriu caminho para a especulação financeira e para incertezas sobre a qualidade dos projetos certificados. Artigo publicado no portal Carta Maior (referência ao final) sugere que a partir de 2008, com a crise das hipotecas subprime, cresceu o interesse dos fundos de investimento neste mercado, que entre 2006 e 2011 teria movimentado cifras em torno de US$ 700 bilhões. Uma auditoria do tribunal de contas da União Europeia aponta um excesso de licenças de emissão da ordem de quase US$ 2 bilhões.

Para além do tema ambiental, um estudo publicado pelo Global Policy Forum, poucos dias antes do lançamento oficial dos ODS, aponta uma crescente dependência da ONU de fundos fiduciários e de financiamento empresarial, que influenciam nos trabalhos da organização. Desde os anos 1980, Estados membros, liderados pelos EUA, seguiram uma política de crescimento zero do orçamento regular da ONU, o que aumentou a demanda por doações e outras formas de contribuições voluntárias de fundações e empresas. Este movimento não é novo para agências e programas específicos, como o Unicef e o Pnud, mas o peso desta forma de financiamento tem crescido para todas as áreas de atuação da ONU, influenciando o trabalho político da organização.

Governo colombiano e Farc anunciam acordo sobre justiça de transição e estabelecem prazo para acordo de paz definitivo

Na quarta-feira passada, 23, com a facilitação do presidente Raul Castro, o presidente colombiano Juan Manuel Santos e o líder das Farc Timoleon Jimenez, Timochenko, selaram pessoalmente um acordo histórico em Havana rumo a uma resolução definitiva para o conflito na Colômbia. O governo e a guerrilha fixaram o prazo de seis meses para o acordo definitivo e anunciaram medidas em uma das áreas mais delicadas das negociações. O acordo sobre justiça de transição estabelece uma jurisdição especial, com a participação de juristas internacionais, para julgar guerrilheiros e agentes do Estado. Aqueles que reconheçam sua responsabilidade em crimes e cooperem com a justiça terão penas de até oito anos de privação de liberdade em espaços especialmente destinados para o caso. Aqueles que não reconheçam e sejam julgados culpados enfrentarão penas de até 20 anos em prisões comuns. Representantes das vítimas presentes em Havana consideraram o acordo um passo decisivo para o reconhecimento e o respeito aos direitos humanos e ao direito internacional humanitário no país.

Para ler mais:

Discurso da Presidenta da República, Dilma Roussef, por ocasião da Abertura da Septuagésima Assembleia Geral das Nações Unidas – Nova York, 28 de setembro de 2015
leia mais

Blog da Abong sobre a Agenda 2030 e os objetivos do desenvolvimento sustentavel
leia mais

COP 21: a especulação financeira no mercado de carbono
leia mais

Fit for whose purpose? Private funding and corporate influence in the United Nations
leia mais

Por qué es histórico el acuerdo entre Colombia y FARC anunciado en La Habana si aún no se firmó la paz
leia mais

Víctimas consideran pacto con Farc ‘decisivo’ para respeto de derechos humanos
leia mais

* As opiniões aqui expressas são de inteira responsabilidade do sua autora, não representando a visão da FPA ou de seus dirigentes.

`