Na último dia 20 de agosto, o premiê grego Alex Tsipras anunciou sua renúncia e a convocação de eleições antecipadas para setembro

Ano 2 – nº 20 – 26 de agosto de 2015
 

Grécia: renúncia, dissidência e novas eleições

Na última quinta-feira, 20 de agosto, o premiê grego Alex Tsipras anunciou sua renúncia ao cargo e a convocação de eleições antecipadas para 20 de setembro. O anúncio ocorre oito meses após a vitória do Syriza nas eleições de 25 de janeiro.

Desde a vitória da posição anti-austeridade, no referendo de julho, e o posterior acordo alcançado pelo governo grego com as instituições europeias alguns parlamentares do Syriza já vinham expressando críticas ao governo de Tsipras. A oposição dentro do partido cresceu com a votação do terceiro pacote de resgate ao país, que contou com voto contrário ou abstenção de 42 deputados do Syriza (de uma base de 149) e foi aprovado com votos favoráveis da Nova Democracia (centro-direita) e do Pasok e To Potami (centro-esquerda).

Segundo o memorando de entendimento, Atenas deve promover um pacote de reformas que afetam o mercado de trabalho, o sistema de aposentadorias, de saúde, e que incluem a liberalização do setor energético e a criação de um fundo de ativos estatais via privatizações, dentre outras. Para colocar em andamento as medidas prioritárias, o Parlamento votou mais de cinquenta itens dentro de um único projeto de lei. Durante a vigência do terceiro memorando – até 2018 – o país não pode tomar nenhuma medida fiscal contrária ao modelo de austeridade sem consulta prévia à Comissão Europeia, ao Banco Central Europeu, ao Mecanismo de Estabilização e ao FMI.

Vinte e cinco deputados do Syriza, a maioria da corrente Plataforma de Esquerda, romperam com o partido e anunciaram a formação de uma nova agremiação, a Unidade Popular, sob liderança do ex-ministro de energia, Panagiotis Lafazanis. O novo partido se constitui como terceira força política no Parlamento e já deve concorrer nas próximas eleições. Embora o ex-ministro Yanis Varoufakis e a Presidenta do Parlamento, Zoe Kostantopoulou, tenham assumido uma posição crítica ao governo e votado contra o acordo, não romperam com o Syriza.

A Unidade Popular é uma frente que agrupa 14 organizações, entre movimentos sociais e partidos (dentre estes alguns membros da frente de esquerda anti-capitalista Antarsya, que vinha seguindo até o momento uma estratégia extra-parlamentar), que têm como bandeira comum a luta contra a austeridade e contra os “governos do memorando”. O programa inclui ainda o fim das privatizações, a nacionalização de setores estratégicos, começando pelo sistema bancário, e a moratória da dívida grega, em uma clara estratégia fora do euro.

Com a renúncia de Tsipras, seguindo as disposições constitucionais, o presidente da República deu um mandato de três dias, expirado no domingo, para que a segunda força no Parlamento, a Nova Democracia, tentasse formar uma nova maioria. Sem acordo, um novo mandato foi dado à Unidade Popular até a próxima quarta-feira. Após estas duas tentativas, novas eleições serão oficialmente convocadas. Embora seja praticamente certo que a nova agremiação não será capaz de formar uma nova maioria, Lafazanis deve usar este período para dialogar com sindicatos e movimentos sociais e projetar o novo partido para as eleições de setembro.

A renúncia de Tsipras, antes mesmo da convocação de uma moção de confiança no Parlamento, tem sido vista como uma estratégia para recompor sua base política, aproveitar sua taxa de aprovação em torno dos 60% e o desgaste dos partidos tradicionais (como o Pasok e a Nova Democracia, que foram os primeiros a aceitar as condições dos memorandos prévios).

Nos últimos meses, algumas personalidades políticas de esquerda – tanto comunistas como setores críticos dentro da própria social-democracia – têm expressado a descrença na possibilidade de qualquer saída democrática e de esquerda dentro das políticas neoliberais da Zona do Euro. Ainda incipientes, estas discussões têm se manifestado por meio da ideia de uma “aliança de frentes de libertação nacional de esquerda”. Além do próprio ex-ministro grego Yanis Varoufakis, esta posição foi divulgada por Stefano Fassina, ex-vice-ministro das finanças da Itália e membro do Partido Democrático, no blog de Varoufakis, na qual prega uma “desintegração controlada da Zona do Euro”.

A adoção de um sistema monetário europeu renovado, baseado em moedas nacionais, também tem sido defendida por Oskar Lafontaine, líder do partido alemão Die Linke. No mesmo sentido, no último final de semana, Varoufakis teve reuniões com Jean Luc Melénchon, fundador do Partido de Esquerda na França, e com Arnaud Montebourg, voz crítica dentro do Partido Socialista francês e ex-ministro da economia do governo Hollande (demitido após críticas à austeridade e divergências políticas com o ministro Manuel Valls, mais à direita no partido).

Para ler mais:

Grécia: O que há por trás das cartas
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Em português: leia mais

Apresentando a Unidade Popular
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Towards the political constitution of the front of the “No”
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* As opiniões aqui expressas são de inteira responsabilidade do sua autora, não representando a visão da FPA ou de seus dirigentes.

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