A queda dos índices de confiança na economia brasileira segue seu caminho de aprofundamento

FPA Informa - Conjuntura 274

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Ano 3 – nº 274 – 13 de maio de 2015
 

ECONOMIA NACIONAL

Discurso catastrofista se refletiu em deterioração inaudita dos índices de confiança: A queda dos índices de confiança na economia brasileira segue seu caminho de aprofundamento, alcançando patamares de países com sérias e reais dificuldades econômicas. De acordo com o Índice de Clima Econômico (ICE) divulgado pela FGV em parceria com o instituto alemão Ifo, o indicador apresentou retração este ano, passando de 57 pontos em janeiro para 49 pontos em abril, onde qualquer número menor do que 100 pontos indica pessimismo. A queda de 14% é a pior desde a origem do índice em 1989, e o patamar alcançado em abril o mais baixo dos últimos 26 anos. A queda pode se observar tanto no indicador de Expectativas (IE), que se reduziu para 76 pontos (queda de 9,5%), quanto no Índice de Situação Atual, que alcançou inacreditáveis 22 pontos, com uma queda de 27%. O patamar de 20 pontos, ressalta a pesquisadora responsável, só é encontrado em países como a Venezuela, que recentemente tem sofrido com elevada inflação e crises de desabastecimento. Como o ICE tem alta aderência com a variação do PIB, a expectativa é que ele continue em sua trajetória de queda, reforçada pelas medidas recessivas do governo.

Comentário: Independentemente dos possíveis debates acerca da metodologia das pesquisas de aferição do clima econômico, é evidente que este tem se deteriorado continuamente desde o final de 2013 e início de 2014. A predominância de um discurso catastrofista por parte da mídia e dos analistas econômicos do mercado financeiro construiram um cenário de profunda desconfiança com a economia nacional, fazendo com que os empresários brasileiros e parte dos trabalhadores acreditem estar vivendo o pior momento econômico da história do Brasil, o que evidentemente está longe de ser o caso. O pessimismo militante destes analistas tinha alvo certo: derrubar o governo Dilma Rousseff nas eleições e, caso isso não fosse possível, obrigar o governo a rever sua orientação de política econômica (nas palavras de um analista financeiro da época e atual diretor do Banco Central, seria o caso de coagir o governo a ser “pragmático&rdquo. Malogrado o primeiro objetivo, o segundo parece ter sido conquistado: a nomeação de Levy e o atual discurso econômico do governo federal repete a visão do mercado financeiro acerca de como deve ser conduzida a política econômica. Além disso, o atual mandatário da Fazenda parece comungar da avaliação dos analistas financeiros de que a situação atual da economia nacional é fruto do fracasso do “experimento heterodoxo” do primeiro governo Dilma, ridicularizando sempre que possível as políticas desenvolvidas pelo seus antecessores. Tendo obtido uma fragorosa vitória na construção da “narrativa do fracasso”, reconquistando a condução da política econômica e elaborando um cronograma de desconstrução dos governos “heterodoxos” anteriores (particularmente no que diz respeito ao papel do Estado e do mercado de trabalho em uma estratégia de desenvolvimento nacional), a difícil missão dos liberais de plantão será reverter a percepção de que o país está no caminho do fracasso, interpretação construída pelos próprios nos últimos anos e abraçada por boa parte da população e dos empresários. Fazer as pessoas acreditarem que tudo ia mal, como foi feito ao longo do governo Dilma I, pode parecer tarefa simples diante do desafio de convencer a população de que tudo vai melhorar. A queda nos índices de confiança dos empresários e consumidores em 2015, mesmo após a posse de Levy e a adoção de políticas de austeridade, demonstra que não basta repetir o discurso do mercado financeiro para modificar a percepção das pessoas acerca do futuro do país.
 
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