“Austeridade enfraquece o Estado e acaba com a solidariedade”, diz Yasmin em debate da FPA/FES
Austeridade, desenvolvimento, novo modelo social: dilemas da esquerda nos governos foi tema do debate realizado pela FPA e FES no dia 24 de março
As fundações Perseu Abramo (FPA) e Fundação Friedrich Ebert/Brasil (FES) realizaram nesta terça-feira, 24, o debate “Austeridade, desenvolvimento, novo modelo social: dilemas da esquerda nos governos”.
Yasmin Fahimi, secretária-geral do Partido da Social Democracia (SPD), da Alemanha, Monica Valente, secretária de Relações Internacionais do Partido dos Trabalhadores, do Brasil, e Artur Henrique, ex-presidente da Central Única dos Trabalhadores, secretário Municipal do Desenvolvimento, Trabalho e Empreendedorismo de São Paulo, debateram as semelhanças entre a atual situação do Brasil e Alemanha. Iole Ilíada, vice-presidenta da FPA, coordenou a mesa, e a abertura foi realizada por Joaquim Soriano, diretor da FPA, e Thomas Manz, diretor da FES/Brasil.
Yasmim: Brasil e Alemanha vivem situações muito parecidas
Do ponto de vista econômico e social, o atual diálogo e semelhanças entre as situações de Brasil e Alemanha, para Yasmin Fahimi,”não é por acaso, pois estamos vivendo situações similares em nossos continentes”. Ao fazer um apanhado da evolução histórica de seu país, Yasmin explicou como a lógica do mercado prevaleceu, lógica esta que “enfraquece o Estado e também acaba com a solidariedade. Vivemos a ruína deste modelo [neoliberal] e aumento da exploração da natureza”.
A partir da afirmação, de que o neoliberalismo continua vivo na Europa, a dirigente alemã defendeu que é “essencial criar um modelo social baseado em algo diferente do que praticam os Estados Unidos ou a China”. Ela acredita ser possível implantar finanças e orçamentos públicos saudáveis, com distribuição de renda, sendo o progresso medido pela segurança no emprego e melhores níveis educacionais.
Já Monica Valente contou as mudanças vividas no Brasil desde o primeiro mandado do presidente Lula, com mudanças possíveis a partir da inclusão social: “antes o Brasil era pensado para um terço da população”.Valente relatou as políticas sociais que levaram “milhões de brasileiros e brasileiras a uma classe de renda média, sendo assim, o modelo iniciado em 2003, apesar dos problemas, é vitorioso”.
Monica propôs uma “batalha cultural” para derrotar o neoliberalismo
Sobre austeridade, Monica comentou que o neoliberalismo trata o tema de maneira sui gêneres: “o Estado não deve se meter no mercado. Mas na crise de 2008 os Estados foram chamados a agir”. Ela também contestou os exemplos de austeridade da Grécia ou das agências avaliadoras.
Monica propôs que as esquerdas se empenhem em realizar uma “batalha cultural” sobre os conceitos neoliberais, pois sem ela “não faremos a disputa política necessária na sociedade” e também que os partidos aprofundem a integração da América Latina que não seja meramente comercial.
Artur: não fomos eleitos para seguir o que dizem as agências de risco
Para Artur Henrique, é possível discutir desenvolvimento com participação social, mesmo com muitas contradições. Artur Henrique também acredita que “estamos assistindo o ressurgimento das teses neoliberais na América Latina. No Brasil, uma parte do sistema produtivo ganha mais na ciranda financeira do que produzindo. Inclusão via consumo, sem disputa de valores com os que ascenderam” não ajuda a transformar, comentou. Para ele, os “governos de esquerda não foram eleitos para seguir o que dizem as agências de risco”.
O debate foi transmitido ao vivo pela tevêFPA.
Fotos: Sergio Silva