Boletim comenta o processo de paz colombiano, o panorama na Venezuela e as ações do Estado Islâmico no Oriente Médio

Ano 2 – nº 12 – 17 de março de 2015
 

Processo de paz colombiano

As negociações pela paz na Colômbia, que ocorrem em Havana, ganharam a partir do início de março um novo personagem: Bernard “Bernie” Aronson, enviado especial do Governo dos Estados Unidos (EUA), com experiência em El Salvador e na Nicarágua.

A presença dele responde a um pedido das duas partes para que os EUA assumam uma posição mais presencial nesse processo. Aronson não tomará parte direta das negociações, mas espera-se que ajude com as discussões.

Há também uma pressão da bancada republicana para que o governo Obama influencie mais nesse processo, argumentando que os resultados podem ter algum efeito sobre a segurança nacional dos EUA.

Até o momento, as negociações já levaram a acordos parciais sobre participação política das FARC, reforma agrária e um possível fim para o comércio ilegal de drogas. Agora estão tratando de reparação às vítimas e desmobilização. Todos estes acordos passarão por um referendo ao final do processo.

Venezuela

O Decreto Executivo do Governo dos EUA, que declara a Venezuela como um país que supostamente “é uma ameaça à Segurança Nacional dos Estados Unidos da América” foi interpretada como uma ameaça à soberania e integridade territorial venezuelanas.

Frente a ela, a União das Nações Sul-americans (UNASUL), por unanimidade, emitiu um comunicado condenando o Decreto e classificando-o como uma ameaça aos princípios da soberania e não intervenção. Chamou os Governos a não adotar medidas coercitivas contrárias ao Direito Internacional e, especificamente, o Governo estadunidense, para que este utilizasse práticas alternativas de diálogo com o Governo venezuelano, sob os princípios de respeito à soberania e à autodeterminação dos povos, devendo revogar o referido Decreto.

Vale citar também a declaração de Ernesto Samper, Secretário-Geral da UNASUL, de que o fato dos EUA terem buscado intervir unilateralmente na Venezuela logo antes da próxima Cúpula das Américas desqualifica os esforços da Comissão de Chanceleres formada por Brasil, Colômbia e Equador, que abriram caminho ao diálogo interno.

Houve várias manifestações pelo mundo no mesmo sentido, como dos presidentes Rafael Correa e Evo Morales, e de personalidades como Leonardo Boff e Dom Pedro Casaldáliga, padre Miguel d’Escoto, bispo Thomas Gumbleton e o ex-Procurador Geral de Estados Unidos, Ramsey Clark, dentre outras.

Estado Islâmico e crescimento do “jihadismo”

O conflito no Oriente Médio em torno do Estado Islâmico (EI) continua sem qualquer indício de solução. Apesar dos esforços locais para contê-lo, ele tem conseguido manter-se graças à venda ilegal de petróleo e de material arqueológico, e o contrabando de armas para a sua região. Além disso, há uma aparente ajuda por parte de políticos sauditas e kuaitianos, numa tentativa de usá-los como contraponto ao poder iraniano e como fator de desestabilização do regime sírio. Mas oficialmente os sauditas fazem parte das forças contrárias ao EI.

Como já aconteceu no Afeganistão, os militantes do EI usam a destruição de vários sítios arqueológicos como propaganda a favor de sua religião, mas isso não impede que boa parte do material arqueológico seja saqueado e vendido internacionalmente, sem que tenha havido algum movimento dos países para impedir esse comércio.

Chama a atenção o aumento da presença de militantes oriundos de países de fora do Oriente Médio, inclusive muitos nacionais europeus de origem não-islâmica que se converteram e foram lutar pelo EI. O que leva estes jovens a tomar essa atitude e emigrar para um país e um conflito que lhes são totalmente estranhos a princípio deve ser alvo de mais estudos. O fato é que o jihadismo está crescendo não somente nessa região, mas também pelo mundo.

A presença de forças internacionais ainda não se mostrou suficiente para conter o avanço do EI, e os países da região tampouco tem se mostrado fortes opositores. A principal exceção é a luta dos curdos, incluindo a milícia Yja Star, formada somente por mulheres e oriunda do Partido Comunista Curdo, que têm conseguido recuperar partes importantes de seu território, mas ainda assim insuficientes para gerar uma perda substancial ao EI.

Para ler mais:

Noam Chomsky: Se EUA conseguirem destruir EI, terão que lidar com algo ainda mais extremista
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