Queda da produção industrial em 2014 reflete fragilidade estrutural do setor

FPA Informa 241 – Queda da produção industrial em 2014 reflete fragilidade estrutural do setor

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ECONOMIA NACIONAL
Queda da produção industrial em 2014 reflete fragilidade estrutural do setor: O ano de 2014 encerrou-se com uma queda da produção industrial da ordem de 3,2% em comparação com o ano de 2013. Apenas em dezembro, a produção industrial recuou 2,8% sobre a medição de novembro (quando já havia recuado 0,7%), totalizando queda de 2,7% na comparação com dezembro de 2013. Este resultado reverte a tendência verificada ainda em 2013, quando a produção industrial havia avançado 2,1% e devolvido a retração do ano anterior. O caso mais dramático se localiza no setor de bens de capital, que apresentou queda de 9,6% no ano, com recuo de 23% na comparação entre novembro e dezembro. Apesar do destaque para este setor, todos os outros setores industriais também apresentaram recuo. Bens de consumo duráveis apresentou queda de 9,2% em 2014, enquanto bens intermediários (que corresponde a mais de 50% da indústria total) caiu 2,7%. Até mesmo a produção de bens semi e não duráveis, que geralmente apresenta alta dado o dinâmico complexo agroindustrial brasileiro, em 2014 caiu 0,3%. No conjunto dos dados, apenas os segmentos de extrativos (+5,7%), manutenção e reparos (3,8%), biocombustíveis (2,4%), produtos farmacêuticos (2,1%), perfumaria e produtos de limpeza (0,9%) e bebidas (0,8%) apresentaram crescimento positivo, com os outros 18 ramos industriais pesquisados apresentando retração, em particular a indústria automobilística (-16,8%) e toda sua cadeia produtiva.
Comentário: O resultado negativo da produção industrial certamente refletirá no resultado final do PIB de 2014, que deve vir próximo a zero ou mesmo negativo. Diversos fatores conjunturais podem ser levantados para explicar o mal desempenho da produção industrial em 2014: A crise hídrica que afeta o abastecimento e custo das empresas, a queda da confiança do empresário e consumidor em um ano eleitoral repleto de incertezas, o aumento das taxas de juros que encarecem o crédito e desestimulam os investimentos, o número de feriados devido à realização da Copa do Mundo, a crise internacional que prossegue e se aprofunda reduzindo a demanda por alguns de nossos produtos, para não falar da crise Argentina que afeta diretamente nossa industria automobilística. Todo este conjunto de circunstâncias certamente tem seu papel explicativo no resultado do desempenho industrial deste ano, mas não menos importante é a análise de longo prazo da industria brasileira, que já apresentava sinais de debilidade mesmo em momento de crescimento econômico mais vigoroso. Esta debilidade estrutural, dentre outros fatores, está ligada à manutenção por um tempo bastante prolongado (quase duas décadas) de taxas de juros excessivamente elevadas e taxas de câmbio profundamente valorizadas, o que inibe a competitividade de nossas indústrias e obriga o produtor nacional a adotar uma estratégia defensiva, tornando-se crescentemente um importador de insumos e bens finais. Diante deste quadro, podemos observar que nas décadas recentes a indústria brasileira vai cada vez mais se concentrando em bens de menor valor agregado e intensidade tecnológica, perfazendo o caminho inverso do período da industrialização pesada e reforçando seu caráter de produtor e exportador de bens primários. O crescimento do setor de serviços (decorrente em grande medida do processo de distribuição de renda e acesso a crédito dos últimos governos) compensou a queda do emprego industrial, aliviando assim as taxas de desemprego. No entanto, se quiser voltar a crescer de maneira sustentada e gerar empregos de boa qualidade e remuneração, o Brasil terá que reencontrar o caminho do desenvolvimento industrial, em particular em setores que ainda têm condições de adentrar competitivamente. Para isso, não basta superar os obstáculos conjunturais que se impuseram em 2014, mas também as razões estruturais que impediram saltos maiores na consolidação do parque industrial nacional nas últimas décadas.
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Análise: Guilherme Mello, Economista
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