Ipea: desigualdades de gênero no mercado de trabalho
Estudo recentemente publicado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) aborda a evolução da taxa de participação feminina no Brasil nos últimos anos e os fatores que atuam na inserção das mulheres no mercado de trabalho, a partir de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 1992 a 2012.
O estudo mostra que a taxa de atividade feminina no Brasil (mulheres entre 15 e 59 anos de idade) aumentou de 52,5% (1992) para 61% (2012), mas continua bem inferior à dos homens, que, apesar de cair nesse mesmo período, passa de 88,9% (1992) para 83,9% (2012).
Brasil: taxa de participação agregada e por sexo (1992-2012)
Fonte: Barbosa, 2014
Segundo o estudo, as mulheres da região Sul do Brasil são as que mais participam do mercado de trabalho, seguidas pelas do Centro-Oeste e Sudeste, Norte e Nordeste. Nota-se também que as mulheres residentes na zona urbana têm maiores chances de entrada no mercado de trabalho do que as residentes na zona rural. Também, a taxa de participação de mulheres na zona urbana apresenta uma tendência de alta ao longo do período 1992-2007, ficando estável a partir de então. Já a taxa de participação das mulheres na zona rural se encontrou relativamente estável na década de 1990, enquanto que entre 2002 e 2012 sofreu uma queda de sete pontos percentuais.
O estudo mostra que a educação e renda têm impactos positivos na probabilidade de a mulher participar no mercado de trabalho brasileiro e a presença de filhos com até 12 anos de idade tem um impacto negativo. Ainda, a taxa de participação das mulheres mais escolarizadas (com 11 ou mais anos de estudo) mostra uma tendência de relativa estabilidade ao longo do período 1992-2012. Os grupos educacionais com menos escolaridade apresentam tendência de queda, que se acentuou a partir de 2009 e é mais forte no grupo com 0 a 3 anos de estudo, caindo cerca de 6 p.p. de 1992 a 2012.
Apesar dos avanços na inserção da mulher no mercado de trabalho, ainda parece haver um baixo aproveitamento da capacidade laboral feminina, dado que suas taxas são menores que as observadas em diversos países e são bem menores que as dos homens no Brasil. No entanto, que a taxa de participação feminina seja mais baixa, não significa que as mulheres não trabalhem, mas sim que exercem trabalhos remunerados em taxa menor que os homens ou que mulheres de outros países. Uma questão importante para entender esse fenômeno é o trabalho doméstico, que, apesar de fundamental, quando feito no próprio lar não é remunerado. Assim, esses resultados mostram a importância de políticas públicas que enfrentem a questão da dupla jornada feminina (que alia trabalho remunerado e trabalho doméstico), bem como o preconceito e o machismo, que relegam o trabalho doméstico (remunerado ou não) somente à mulher.
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