Por Sócrates Santana

Pela primeira vez, Dilma Rousseff flerta com a abertura do núcleo duro do governo. Após 12 anos, a política econômica do país cogita estar sob a direção de um agente do  mercado financeiro. Trata-se do presidente do Bradesco, Luiz Trabuco Cappi, cotado para assumir o Ministério da Fazenda.  Se, por um lado, a Bolsa de Valores respondeu com fogos de artifício a simples menção do nome de Cappi, por outro, paira uma dúvida sobre o caráter desta sinalização: o governo atrai um operador para conquistar um porta-voz ou recorre até o mercado por conta de uma bolha perto de explodir.

Na última década, o governo apostou, claramente, no manuseio de uma linha de resistência e de suporte dos preços intermediária, entre a condução econômica a partir da  Esplanada dos Ministérios e a autonomia do Banco Central. Ou seja: quem abre e quem fecha os cofres é o governo. Não é o mercado quem atira primeiro para perguntar depois sobre a taxa Selic. A diferença consiste – basicamente – na defesa dos interesses do Estado em contraposição aos rompantes do mercado. Até então, todos os indicativos,
apesar da cizânia de Neca Setubal e do Manhattan Connection, apontam um plano de vôo sem turbulência capaz de garantir a política de bem-estar social em curso no país.

Soa, portanto, estranha a adesão de um operador financeiro apenas para servir de elo entre os empresários e o governo. No máximo, se a economia não passa por nenhum tipo de risco eminente de recessão, o nome de Cappi poderia vir a ser cotado para a presidência do Banco Central, a exemplo de Henrique Meirelles. Apesar da repercussão positiva do nome dele, o tiro sairia pela culatra, caso a linguagem neoliberal natural de quem tem origem no mercado financeiro prevaleça e o único ajuste fiscal possível seja aquele que prevê cortes em direitos, políticas sociais e investimentos de infraestrutura. Ao invés de uma bolha econômica para conter, o governo pode vir a lidar com uma base social  contrariada e repulsiva.

Ao longo da história – não seria a primeira vez – volta e meia a economia e a nação ensaiam um divórcio, como diria o sociólogo Roberto Schwarz. “No Brasil corremos o risco de ver reprisado o desastre da abolição, quando os senhores, ao se modernizarem, se livraram dos escravos e os abandonaram à sua sorte”. Sem mais floreios, não creio no nome de Cappi para a condução da política econômica do país. Não é ortodoxia, mas, lógica. É incoerente buscar soluções de diálogo com uma moeda de troca impossível de ser resgatada como o Ministério da Fazenda. Neste ínterim, conciliar é não governar.

Sócrates Santana é jornalista e membro da executiva estadual do PT/BA.