A escalada do golpismo
Por Lúcio Costa
Na noite da última de 30 de outubro, o PSDB diante de um alegado “quadro de desconfiança por parte considerável da população brasileira” pediu ao TSE uma “auditoria especial para fiscalização de todo processo eleitoral”, inclusive a totalização dos votos.
A ação assinada pelo coordenador Jurídico Nacional do PSDB, deputado Carlos Sampaio (SP) requer a criação de uma comissão formada por técnicos indicados pelos partidos políticos para a fiscalização dos sistemas da eleição. De momento, alegam os tucanos “absoluta confiança no TSE” e, dizem que “não se trata de pedir uma recontagem dos votos”. Puro “papo para inglês ver”.
Derrotado nas urnas o golpe articulado em conluio com barões da mídia para adulterar a vontade popular – cujas expressões maiores foram à edição de sexta-feira de Veja e, o Jornal Nacional de sábado vésperas das eleições – deu a direita brasileira um novo passo no caminho do golpismo.
Os tempos mudaram ou, como diz o povo, “a chapa esquentou”.
Ontem tentaram manipular a vontade popular através de uma enxurrada de calunias lançadas sobre a população. Hoje, principiam um caminho que lhes permitirá questionar a legitimidade do resultado eleitoral. Amanhã, se não defendidas vigorosamente as liberdades democráticas, acabarão por colocar em questão o mandato da reeleita presidenta Dilma.
Assim, a casa grande dá sinais cada vez mais fortes de desconforto com uma legalidade através da qual, com todas as suas limitações, a vontade popular expressa nas urnas têm lhe imposto sucessivas derrotas últimas 04 eleições presidenciais.
Na disputa em curso, como fizeram no passado diante dos governos dos presidentes Getúlio Vargas e João Goulart a reação conservadora tem recorrido aos grandes meios de comunicação para, sob o manto de Marinhos, Mesquitas, Frias e Civitas, com afinco propagar um discurso politico erguido tanto, a partir do uso de seculares preconceitos de classe, raça e região quanto, realizar a recuperação do espantalho da ameaça comunista ou, de sua versão moderna, o dito bolivarianismo.
Desta maneira, forma-se uma parcela da opinião pública de direita e, em especial junto à burguesia e as classes médias tradicionais a ela acolheradas, cada dia vez mais truculenta e propensa à violência politica como, aliás, revelam os assassinados e as violências e intimidações perpetradas contra eleitores e eleitoras da presidente Dilma na recente campanha e nestes últimos dias.
Nada é gratuito. Tenhamos presente que, nesta seara, busca a reação conservadora criar as condições que lhes permita mobilizar capaz de enfrentar, intimar e derrotar na sociedade e, em particular nas ruas, a opinião pública e a militância democrática.
No terreno institucional, em compasso a histeria oriunda da opinião publicada, um Congresso de feições notadamente conservadoras – fenômeno que se agravará na próxima legislatura – revela-se arena de um revanchismo e a demagogia desvergonhadas como, por exemplo, revelou o episódio da derrota no governo na votação do decreto que sistematizava a regulamentação da participação junto à administração pública.
Para as oligarquias trata-se, de criar as condições para levar, se possível, a deposição da presidente Dilma ou, no mínimo, paralisar e com isso impedir, que seja dado prosseguimento e sejam aprofundadas as mudanças em curso nestes últimos 12 anos.
A curto prazo busca a reação neoliberal impedir que a presidenta reeleita de dar curso a reforma politica com participação social e a regulamentação econômica dos meios de comunicação social.
Tudo isso sob os auspícios dos banqueiros e de parcelas expressivas de uma burguesia que prefere a especulação financeira à produção e, dos entreguistas que almejam alienar o patrimônio e a soberania nacional a duras penas preservado da privataria tucana praticada pelo governo de Fernando Henrique Cardoso.
Hoje, 60 anos depois da tentativa de golpe que resultou no suicídio do presidente Getúlio Vargas e, 50 depois do golpe civil-militar que deu origem a 25 anos de ditadura, as elites burguesas estão cada vez mais dispostas a seguirem o caminho do golpismo, do autoritarismo e, da exclusão das maiorias da vida pública nacional.
Estejamos atentas, pois vivemos tempos nos quais são necessárias tanto, a serenidade de evitar as provocações; a firmeza na busca da unidade democrática, nacional e popular em defesa do governo da presidenta Dilma e, a certeza de que derrotaremos os lacerdinhas de plantão na exata medida em que as mudanças sejam aprofundadas e embaladas pela mobilização do povo brasileiro e, em especial, de sua generosa juventude.
Lúcio Costa é advogado