Por Emílio Chernavsky

Em meio à maior crise econômica internacional desde os anos 1930, a economia brasileira tem enfrentado dificuldades e certamente não se encontra em seus melhores momentos. Agravando a situação, a cobertura da imprensa sobre temas econômicos tem se mostrado nos últimos meses particularmente pessimista, dedicando ênfase especial aos pontos negativos. Esse é o comportamento, por exemplo, do noticiário televisivo de maior audiência no país, o Jornal Nacional da Rede Globo, que, como mostra o gráfico a seguir, do tempo dedicado à economia, empregou quase 70% na divulgação de notícias negativas, e menos de 6% com notícias positivas.

Sendo para grande parte da população a fonte principal de informações sobre vários assuntos, a cobertura da imprensa, quando especialmente negativa, acaba fazendo com que a percepção das pessoas sobre vários aspectos da economia se torne mais pessimista do que a real situação normalmente justificaria1. Esse é o caso, por exemplo, do mercado de trabalho, onde mesmo com as taxas de desemprego permanecendo em níveis historicamente baixos e o número mensal de demissões se mantendo estável, a situação percebida pela população e capturada pelo índice de medo do desemprego da CNI se mostrou, no período recente, cada vez mais negativa.

Nas semanas que precederam o segundo turno das eleições, contudo, quando a população pôde avaliar as informações veiculadas pela imprensa à luz daquelas divulgadas pela campanha da candidata do governo, confrontando-as assim ao contraditório, aquela percepção negativa sobre a situação da economia se alterou claramente em várias dimensões. Se em junho 64% das pessoas ouvidas pelo Datafolha acreditavam que a inflação iria aumentar, esse número caiu a menos da metade, 31%, em pesquisa similar realizada em 21 de outubro. O mesmo ocorreu em relação à expectativa de desemprego; enquanto 48% dos entrevistados acreditavam em junho que iria aumentar, o número dos que assim pensavam havia caído a 26% em outubro. Também caiu o número daqueles que acreditavam que a situação econômica do país iria piorar, de 36% em junho a 15% em outubro. Em compensação, o número de pessoas que acreditava que a inflação e/ou o desemprego cairiam e a situação econômica do país melhoraria cresceu fortemente entre as duas pesquisas.

As expectativas da população possuem um papel determinante no comportamento real da economia, condicionando sua evolução. Para que permitam a retomada do otimismo e impulsionem o crescimento, é fundamental que a batalha da informação não seja perdida. Para isso, dado que o espaço propiciado pela campanha eleitoral não está mais disponível, outros instrumentos deverão ser encontrados.

Emílio Chernavsky é economista

Notas
1- Ver também, sobre este assunto, http://jornalggn.com.br/noticia/ha-um-pessimismo-excessivo-na-economia

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