FPA Nota de Conjuntura

 
Grupo de Conjuntura Fundação Perseu Abramo
15 de setembro de 2014
 

A reunião teve duas partes. Na primeira foram discutidos os resultados de uma pesquisa sobre juventude, educação e trabalho apresentada pela socióloga Helena Abramo; na segunda, foram tratados os informes quinzenais referentes à conjuntura internacional, economia, sociedade e opinião pública.

Juventude (1)

O tema da prioridade do foco na juventude nas políticas públicas ganhou força nos últimos dez anos graças às iniciativas iniciadas sob o governo Lula.

A conclusão geral que podemos extrair desta pesquisa é que graças às políticas públicas muita coisa mudou nesse período para a juventude brasileira, como no caso da ampliação do acesso à educação, mas ainda há muito por fazer.

O acesso à educação melhorou muito para os mais excluídos, porém as mudanças ainda são insuficientes para superar as desigualdades de renda. A educação não é suficiente para a superação da desigualdade social.

Cresceu muito o contingente dos jovens que concluíram o ensino médio. Aumentou a porcentagem de jovens até 18 anos que somente estudam. Houve aumento dos jovens que concluem o ensino superior. Com destaque para os negros. Houve uma redução do desemprego juvenil e do trabalho infantil. Jovens entram mais tarde no mercado de trabalho.

Houve uma melhoria do rendimento do trabalho mas sem redução das desigualdades sociais.

A redução do desemprego foi resultado das políticas macroeconômicas gerais, mas sem políticas específicas orientadas à população jovem.

A redução das desigualdades na educação não se traduzem em redução das desigualdades sociais no mundo do trabalho.

Há dificuldades em conseguir o primeiro emprego. Os trabalhadores jovens são mais afetados pela rotatividade. 40% dos jovens empregados encontram-se no mercado informal. Este quadro questiona as políticas de incentivar o primeiro emprego juvenil via uma contratação menos onerosa para a empresa; o problema a enfrentar é a precarização (o maior problema não é “entrar” ao mercado de trabalho, mas “permanecer” em ele).

Jovens tem percepção de ganhos, em relação a seus pais, e dois terços pensam em voltar a estudar.

Quanto às principais preocupações, destacam-se aquelas referentes à violência e segurança. Não é sem causa: a cada hora, dois jovens são mortos de forma violenta no país.

 

Em relação aos jovens “nem-nem” (nem estudam, nem trabalham), detectamos essa realidade em mulheres com filhos pequenos que têm dificuldade de voltar ao mercado de trabalho.

Não existem pesquisas posteriores a junho 2013 para saber como as manifestações impactaram na percepção dos jovens sobre os diversos temas. Novas pesquisas são necessárias.

Política externa em debate

O debate sobre a política externa do Brasil ganhou algum destaque na disputa eleitoral em curso. Os programas de governo dos dois principais candidatos da oposição, Aécio Neves (PSDB) e Marina Silva (PSB), convergem em pontos importantes que batem de frente com a política implementada desde 2003, e com a análise de conjuntura que tem orientado o governo brasileiro no período recente.

Em primeiro lugar, carregam uma percepção de que as grandes potências do Norte (Estados Unidos e União Europeia) estão se recuperando. Isto é, não se verifica seu declínio no cenário internacional que justificava iniciativas dos governos do PT. Esta percepção orienta as propostas de mudança da política externa brasileira.

Um segundo aspecto refere-se à necessidade do que chamam de “desideologizar” e “despartidarizar” a política externa. Na verdade, se tenta instalar que tudo que se fazia antes de 2003 era de carácter “técnico” e pelo “interesse nacional” e que desde então a política externa está guiada por critérios estranhos à diplomacia e interesses outros que não os do país.

Isto nos leva a um terceiro ponto: volta nestes programas a proposta do Fernando Henrique Cardoso (FHC) de políticas agressivas para a inserção nas cadeias produtivas internacionais, via acordos de livre comércio bilaterais com os blocos de países do Norte.

No caso do Mercosul com a UE, isto poderia ser feito em “duas velocidades”, com Brasil na via rápida, ou mesmo fazendo o Mercosul recuar para um simples acordo de livre comércio. As propostas valorizam também positivamente o “Aliança do Pacífico” (Chile, Peru, Colômbia e México).

Ao priorizar as relações com os países desenvolvidos surge um quarto tema que é de o desacelerar as relações com os BRICS pelas diferenças que, segundo afirmam, nos separam (pode se entender que em temas como direitos humanos, por exemplo).

O programa do PSB surpreendentemente fala em abandonar, nas negociações sobre temas ambientais e climáticos, o princípio das “responsabilidades comuns mas diferenciadas”. Por esse conceito os países mais desenvolvidos que são os que mais poluíram o planeta nas últimas décadas, teriam que assumir mais responsabilidades nas iniciativas para reverter a deterioração ambiental. Caso esta nova postura na política externa brasileira fosse implementada, seria um aceno importante para os interesses dos países desenvolvidos do Norte e um sintoma da volta do Brasil à esfera de influência dos Estados Unidos nos moldes da década de 1990 (governos FHC).

Finalmente, ambos partidos tomam posição contra a proposta que o Itamaraty aceitou implementar durante a gestão do ministro Patriota de um conselho consultivo, formado por representantes da sociedade civil, para o debate sobre temas de política externa. Tal proposta é vista como algo que visa “diminuir” o papel do Itamaraty.

Conjuntura econômica e social

Há sinais de uma leve recuperação econômica no segundo semestre em relação ao primeiro de 2014. Houve melhoria na criação de emprego (medida pelo CAGED) e é possível que se chegue ao final do ano com um milhão de novos postos de trabalho.

O sinal de alerta veio da queda do varejo em julho – o que não era esperado – e como em junho já havia se registrado um desempenho negativo, o resultado é ruim.

Os diversos índices de inflação sugerem que estamos em um cenário mais tranquilo em relação aos preços, até porque em agosto houve reajustes da energia elétrica com pouco impacto global.

Os discursos dos principais candidatos da oposição sugerem que, caso vencessem, iriam implementar políticas duras de ajuste visando reduzir a inflação. Isso obviamente terá impacto sobre o emprego e o bem estar social da população. O programa de governo da candidatura à reeleição da presidenta Dilma indica um caminho mais gradual onde o foco está em preservar os ganhos sociais e buscar os caminhos de “menor resistência” para a retomada do crescimento.

É importante mencionar que se é verdade que o desemprego no Brasil também afeta mais aos jovens que aos demais segmentos, também as taxas são muito menores que as de outros países (por exemplo, os da União Europeia). Isto se deveu fundamentalmente a que os governos brasileiros, que enfrentaram a crise mundial de 2008 e seus prolongados reflexos, recusaram as receitas de ajuste recessivo que foram aplicadas em países da União Europeia. No atual cenário eleitoral, as propostas de ajuste recessivo reaparecem pelo lado dos economistas que assessoram as duas principais candidaturas da oposição e, caso implementadas, terão fortes efeitos negativo sobre a juventude trabalhadora.

Esta dimensão juvenil, no entanto, tem estado pouco presente nos debates políticos na atual disputa eleitoral.

Opinião pública

As pesquisas eleitorais divulgadas entre 7 e 12 de setembro desenharam um novo cenário. A candidatura da presidenta Dilma retomou um lento crescimento enquanto que a da Marina parou de crescer. Na média dos resultados do IBOPE a Datafolha Dilma estaria com 37,5% e Marina com 32%. Já Aécio Neves ficou relegado a um distante terceiro lugar (15%) e os brancos, nulos e indecisos segundo ambos institutos estariam em 13%.

Para o segundo turno ambos institutos apontam para um empate técnico entre ambas candidatas com vantagem para Marina (43% a 42, IBOPE; 47% a 43%, Datafolha).

As disputas mais acirradas entre ambas candidatas se dão, para o primeiro turno, entre os segmentos “intermediários” (segundo medições de ambos institutos). Nos eleitores a partir de 35 anos, Dilma volta a liderar (37% a 31%); entre aqueles com ensino médio concluído empatam dentro da margem de erro (35% para a Marina contra 34,5%); nos estratos com renda entre 2 e 5 salários mínimos a disputa também é dentro da margem de erro (34% para a Dilma contra 35,5%); os moradores das regiões metropolitanas (ambas têm 32%) e na região Sul do país (Dilma 36% contra Marina 31%).

Os eleitores mais definidos das candidaturas podem ser resumidos assim: Dilma, entre os mais velhos, com nível fundamental de escolaridade, menor poder aquisitivo, municípios do interior, não participantes da PEA, nas regiões do N/CO e NE; Marina entre os mais jovens, com maior escolaridade e na região SE.

Por região. No Sudeste Dilma (26%, 28%) perde de Marina (35%, 36%). Os piores resultados para Dilma são em S.Paulo e Espírito Santo. Já no Rio de Janeiro está sob forte disputa (Datafolha indica Marina com 36% e Dilma com 30%, mas Ibope dava ordem inversa com 37% a 34%). Em Minas Gerais Dilma lidera com 33% contra 25% da Marina.

Na região Nordeste Dilma vence por 57% (Ibope) ou 47% (Datafolha) contra 24% ou 31% da Marina (respectivamente segundo institutos). A presidenta lidera em todos os estados da região exceção de Pernambuco onde Marina tem 45% contra 38% da Dilma.

Na região Sul Dilma está adiante com 37% ou 35% contra Marina com 34% ou 28%. Nos três estados Dilma está à frente.

Na somatória das regiões Norte e Centro-Oeste Dilma lidera com 47% (IBOPE) ou 39% (Datafolha). Mas perde no DF para Marina (43% a 22%), Goiás (34% a 29%). Enquanto que empara no Mato Grosso do Sul (35% Marina, 33% Dilma) e lidera no Mato Grosso (com 36% contra 26%). Nos estados do Norte Dilma lidera em todos menos no Acre onde Marina se encontra com 49% contra 25% da Dilma.

(1) Os dados analisados são de uma pesquisa realizada em nível nacional em maio de 2013.

 

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