Primeira mesa, coordenada por Cesar Bunster, do Partido Comunista do Chile, e Joaquim Soriano, diretor da Fundação Perseu Abramo

A integração latino-americana e caribenha e a participação popular é o tema do segundo dia do Foro de São Paulo, realizado em La Paz, na Bolívia, entre os dias 25 a 29 de agosto.  A primeira mesa, coordenada por Cesar Bunster, do Partido Comunista do Chile, e Joaquim Soriano, diretor da Fundação Perseu Abramo contou com palestra introdutória de Alfredo Rada, viceministro de coordenação de movimentos sociais da Bolívia, que fez um breve histórico do caminho político seguido pela Bolívia até a chegada do MAS (Movimiento Al Socialismo) ao poder, no ano de 2006, com o presidente Evo Morales.

Neste processo, Rada destacou a passagem de um estado republicano neoliberal para um estado plurinacional, no qual a democracia participativa e comunitária são reconhecidas no texto constitucional. Entretanto, destacou que apenas o reconhecimento constitucional não basta, sendo necessário fortalecer as novas formas de democracia representativa. Neste sentido, Rada ressaltou que “as tarefas de formação política, como este Foro, permitem o esclarecimento ideológico e político para os companheiros que assumem responsabilidade em suas organizações e movimentos sociais, para combater o pragmatismo político”.

Rada encerrou sua fala destacando que o aprofundamento das mudanças na democracia, na medida em que induzem transformações política se sociais, “pode ser um caminho para que continuemos avançando na América Latina e Caribe, e para preservar um bloco social revolucionário, que deu origem ao processo boliviano.

Em seguida, Roy Daza, do Partido Socialista Unido de Venezuela, lembrou a resistência dos movimentos progressistas e de esquerda na América Latina e Caribe, especialmente depois da crise de 2008, cujos impactos econômicos e sociais foram sentidos em todo mundo, acompanhados de tentativas de resgate de políticas neoliberais. “Houve três processos de revolução, na Venezuela, no Equador e na Bolívia que mantiveram sua sustentação, e também a reafirmação do caminho socialista da revolução cubano, que lograram resistir no auge do neoliberalismo ao dizer ‘Socialismo ou morte’, que foram muito importantes”, disse Daza.

A luta dos governos revolucionários na América Latina “também é uma luta pela democracia, que foi assumida como bandeira pelos movimentos sociais e pela esquerda latinoamericana, e isso tem um peso particular na nova correlação de forças no mundo”, afirmou Daza, ponderando, entretanto, que “para ampliarmos a integração temos que diminuir as assimetrias regionais, com uma nova arquitetura econômica internacional, com o banco do sul, e outras iniciativas do gênero”.

O secretário de movimentos populares da executiva nacional do Partido dos Trabalhadores, Bruno Elias, registrou a evolução das percepção da participação popular como instrumento de governo. “Durante séculos de imperialismo e conservadorismo em nossa região, a participação popular não era uma realidade. Ao contrário, a participação do povo era criminalizada e negada, e vista como um caso de polícia, e não um direito”, disse Elias. Mas “com a ascensão dos governos de esquerda, a participação popular passa a ser uma realidade em parte dos países de nossa região”, acrescentou.

Henrique Alvarez, da Alternativa Nueva Nación, da Guatemala, ressaltou a necessidade de diminuir as desigualdades regionais para ampliar a integração. “A democracia não é possível sem a participação popular, tampouco a integração latinoamericana, e a desigualdade que temos na Guatemala é um exemplo que afeta a possibilidade de integração”. Alvarez frisou que em seu país há um processo de reconstrução do movimento revolucionário sobre a base de um projeto, não de um processo eleitoral. “As eleições são necessárias para ganhar espaços políticos, mas o importante é o projeto revolucionário. Há um povo que está resistindo a uma ofensiva militar e um extrativismo que não considera as questões nacionais”, concluiu.

Na parte da tarde foi realizadda a mesa A integração latino-americana e caribenha: os desafios da representatividade e os movimentos sociais – olhares específicos, coordenada por Altair Freitas, do Partido Comunista do Brasil. A mesa contou com intervenções de Ronaldo Leite, da Central dos Trabalhadores do Brasil, ligada ao PCdoB, que destacou o panorama dos movimentos sindicais no país. Para falar dos movimentos indígenas foi chamado Modesto Condori, do Movimento al Socialismo da Bolívia. O panorama das mulheres nos movimentos sociais da america latina foi o tema da fala de Rosa Lofte, do Partido de la Revolución Democrática (PRD). O representante do Partido Socialista Unido de Venezuela, Carlos Martinez, abordou a perspectiva das juventudes no continente, enquanto Doris Pizarro, de Porto Rico, falou sobre cultura.

Encerrando as atividades da Escuela de Formación do Foro de São Paulo, a vice-presidenta da Fundação Perseu Abramo (FPA), Iole Ilíada, reforçou a importância da integração das atividades da escola. “Precisamos construir uma visão unitário de integração, que não está pronto, e, neste sentido, os debates que fizemos nestes dois dias foram muito importantes, demos passos muito firmes na direção da integração que queremos”, avaliou Iole. 

Para a vice-presidenta da FPA, três pontos são crucias para a análise e avanço da integração. “A primeira é a atual configuração geopolítica, com dois elementos centrais, a crise econômica e a contraofensiva imperial. O segundo ponto é construir outras ferramentas para a integração. O terceiro ponto é o tema da participação popular. Não vamos avançar efetivametne em um projeto de integração se este não for um projeto de povos”, elencou. 

Para Iole, a terceira escola do Foro se encerra com muito êxito e expectativa dos próximos passos. “Cada vez que nos encontramos damos passos que parecem pequenos, mas são muito importantes, e vamos seguir avançando na construção de uma pátria grande, livre e soberana, que seja efetivamente de nossos povos”, concluiu.

(Fotos: Théa Rodrigues/Vermelho)

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