Os rolezinhos organizado pelos jovens da periferia estão adentrando as zonas de conforto, e os espaços de “exclusividade” de uma elite brasileira que não assimilou e não aceita as transformações que vem ocorrendo no nosso país

Por Jefferson Lima

Começa o ano de 2014 e com ele algumas questões com a periferia brasileira, com a juventude negra e sua expressão popular, dentro de um novo contexto. Os rolezinhos organizado pelos jovens da periferia estão adentrando as zonas de conforto, e os espaços de “exclusividade” de uma elite brasileira que não assimilou e não aceita as transformações que vem ocorrendo no nosso país.

O agora “famoso” rolezinho, fortemente convocado no final de 2013 e agora no início de 2014, são vistos com muita desconfiança e preconceito pelas famílias de classe média-alta que frequentam espaços como os shoppings centers. O rolezinho de 15 de dezembro no shopping de Guarulhos acabou com 23 presos, que foram liberados pouco depois. Contra eles nenhum tipo de acusação. Houve várias outras convocatórias como a do Shopping Metrô Tucuruvi, na zona norte, onde a participação de cerca de 500 jovens foi recriminada fortemente pela PM de São Paulo.

O fenômeno dos rolezinhos (centenas, às vezes milhares de jovens, combinavam para “zoar, dar uns beijos, rolar umas paqueras”, pegar geral, se divertir, sem agressão, sem roubos, sem violência.) são concentrações espontâneas de pessoas convocadas pelas redes sociais para ações em um mesmo espaço. Apenas a ocupação de um espaço até pouco tempo bem distante da realidade desses jovens, como por exemplo os shoppings nas grandes cidades.

A maioria desses jovens são influenciados pelo funk da ostentação, surgido na Baixada Santista e agora bem forte em todo o estado de São Paulo e também no Rio de Janeiro. Esse perfil musical evoca o consumo, o luxo, o dinheiro e o prazer que tudo isso dá: correntes e anéis de ouro, vestidos com roupas de grife, carros caros e utilização de espaços há pouco tempo longe da realidade.

Neste final de semana seis shoppings do Estado de São Paulo conseguiram o apoio da Justiça para bloquear a entrada dos jovens e acabar com o direito de ir e vim de qualquer cidadão. E ainda pior, autorizando policiais e seguranças privados para fazer abordagem aos jovens com perfil bem definido: menores desacompanhados, de baixa renda, negros(as), roupas largadas. Qual foi a solução para acabar com os rolezinhos? Cassetetes, a proibição de entrar no shopping e uma liminar onde o garoto ou garota indiciado terá que pagar multa de 10 mil reais.

Qual o crime essa juventude está cometendo? A saída será mesmo as bombas de gás lacrimogêneo, bombas de efeito moral, balas de borracha e a mesma truculência e violação dos direitos civis usadas durante as manifestações do ano passado? Ou o mesmo Apartheid social e irracional que ainda impera em vários países e que ainda existe no Brasil?

O verdadeiro crime é a ausência de políticas sociais que incluam essa geração de jovens, que gere um leque de oportunidades, emancipação e autonomia e que são diariamente excluídas do convívio social.

De fato o que está em jogo são os direitos civis de uma parcela significativa da juventude brasileira, que através dos rolezinhos, acabam denunciando de uma forma criativa, o estado de exceção, a atitude vergonhosa de um estado e a expressão racista e violenta do conjunto de autoridades policiais, a ausência de políticas públicas, de espaços de lazer (pistas/quadras/ anfiteatro), de expressão cultural e a privatização das cidades e da mobilidade urbana no Brasil. Esses jovens negros da periferia, até então invisíveis, para a parcela da Casa Grande que ainda existe no Brasil, tem o desejo de construir novos horizontes, ter opções de fomentar novas narrativas de qual país eles querem viver.

O direito a livre manifestação está previsto na Constituição Federal. O que vemos hoje é a usurpação dos direitos civis e das expressões populares no nosso país.

Os rolezinhos de hoje, já aconteceram em vários outros momentos da história e vai continuar acontecendo no futuro breve em contexto social diferente. Entender e valorizar as mudanças sociais no nosso país e fortalecer a diversidade da organização e das expressão das juventudes é de fundamental importância para construir um país cada vez mais justo, igualitário, livre do racismo e do preconceito e com respeito a pluralidade do nosso povo.

Que aconteçam vários rolezinhos por mais Juventude Viva, por mais espaços públicos e área de lazer, os rolezinhos contra o racismo, rolezinhos pela desmilitarização da PM, rolezinhos por um Plebiscito Popular pela Reforma Política.

É povo! É Rolê! É Juventude Viva!

Jefferson Lima é Secretário Nacional de Juventude do PT e Membro da Direção Nacional do PT