CPI do trensalão já
A política está desacreditada porque alguns políticos não estão honrando seus mandatos e se apresentam de forma contraditória à opinião pública
Por Newton Lima
A política está desacreditada porque alguns políticos não estão honrando seus mandatos e se apresentam de forma contraditória à opinião pública. O que assistimos após a denúncia de corrupção envolvendo políticos do PSDB paulista é um exemplo claro desta contradição. Liderados pelos senadores Aécio Neves e Aloysio Nunes, a cúpula tucana parte para o ataque ao invés de trabalhar para instalar as CPI’s – na Câmara dos Deputados e na Assembleia de São Paulo – para que a verdade, que eles dizem haver, venha à tona.
Na semana que passou o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, foi vítima de uma grande injustiça ao determinar à Polícia Federal que investigasse denúncias de um enorme esquema de corrupção no governo de São Paulo, delatado pelas próprias empresas de um cartel, vítimas de extorção. O PSDB, com ajuda de setores da imprensa, retirou o foco do escândalo sobre o governo de São Paulo e o colocou no Ministério da Justiça, como se o mal estivesse em quem determinou a investigação e não nos investigados.
O governo paulista terá que explicar como o cartel conseguiu burlar ao menos cinco licitações bilionárias sem a conivência de autoridades governamentais. A multinacional Siemens confessou ter atuado em um cartel entre 1998 e 2008 com o objetivo de partilhar obras e elevar o preço das concorrências. Gigantes como a Alstom, a Bombardier, a CAF e a Mitsui teriam integrado o esquema. Um ex-diretor da CPTM, acusado de lavar dinheiro de corrupção, foi condenado na Suíça. Uma conta atribuída a Robson Marinho, chefe da Casa Civil de Mário Covas, foi bloqueada no mesmo país por suspeita de ter recebido propina. Tudo indica que o desvio de dinheiro do trensalão é muito maior do que se imaginava.
O ministro da Justiça simplesmente cumpriu com o seu dever. Caso soubesse do escândalo e não tivesse determinado a investigação aí sim, estaria praticando prevaricação, um crime grave para quem exerce função pública. Aécio Neves, pré-candidato à presidência da República, não honrou seu mandato de senador, cuja obrigação é ajudar a investigar seja quem for, e não prevaricar. Agiu exatamente ao contrário quando atacou o ministro.
O que queria o senador Aécio? Que o Ministro da Justiça engavetasse as denúncias, como fez o presidente Fernando Henrique Cardoso que nomeou o Procurador Geraldo Brindeiro – o famoso “engavetador-geral da República”? FHC não permitiu que o Congresso Nacional instalasse CPI’s para investigar os escândalos. Ele chegou a declarar à imprensa, na época, que se permitisse derrubariam o governo. E a lista de escândalos é imensa: compra de votos para a reeleição, caso Sivan, privatização das telecomunicações e grampos do BNDES, o escândalo da “Pasta Rosa”, os casos dos Bancos Nacional, Econômico, Opportunity e FonteCindan, o caso Proer e outros.
Por mais que os tucanos tentem confundir a opinião pública com suas manobras, o fato é que a sociedade tem o direito de saber tudo sobre o “trensalão de São Paulo”. Se não têm nada a temer poderiam começar desobstruindo a implantação das CPI’s na Assembleia e na Câmara.
Enquanto nossos governos do PT defendem investigações, doam a quem doer – como comprovam os números da Polícia Federal nas gestões Lula e Dilma – o PSDB segue com a postura do engavetamento e da cortina de fumaça. Deveria levantar a bandeira da transparência e garantir as CPI’s do trensalão já!
Newton Lima é deputado federal (PT-SP), ex-prefeito de São Carlos e ex-reitor da UFSCar.