Acompanhe os comentários do economista Guilherme Mello sobre as conjunturas econômica e política.

 

 
PSB deve entregar cargos no governo, mas se mantém na base aliada:O PSB do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, anunciará hoje a entrega dos cargos e a saída dos ministros que possui no governo Dilma, apesar de afirmar que se manterá na base aliada ao governo no Congresso.Com a crescente movimentação político-eleitoral de Campos, que pretende se lançar candidato à Presidência em 2014, a pressão para a entrega dos cargos do partido no governo federal era crescente, advinda tanto dos partidos da base (particularmente, PT) quanto de dentro do próprio partido. Apesar de entregar os cargos, não há ainda qualquer definição sobre a candidatura de Campos, que se ocorrer será anunciada apenas no início do ano que vem.
Comentário: A situação do PSB no governo era delicada, dada a crescente movimentação de Campos para o lançamento de candidatura própria, além de seus recentes gestos de aliança tática com a oposição (principalmente, após a divulgação da foto com Aécio Neves). A candidatura de Campos, apesar de não ser um fato consumado torna-se cada dia mais possível, dado seu gradual afastamento e as crescentes críticas que vem fazendo ao governo da presidenta Dilma, assumindo posturas algumas vezes oposicionistas e conservadoras. Apesar de não deslanchar nas pesquisas e de ainda enfrentar importantes resistências dentro do próprio partido, Campos vai tornando sua candidatura cada vez mais um fato incontornável, mesmo que isso venha a representar derrotas para seus partidários em vários estados e uma aliança com setores do conservadorismo nacional.

Inflação em setembro é baixa no varejo, mas acelera no atacado: A inflação registrada pelo IPC-FIPE na cidade de São Paulo registrou queda na segunda quadrissemana do mês de setembro, recuando de 0,21% na semana anterior para 0,16% nesta semana. O dado também é melhor que aquele verificado no mesmo período do mês em 2012, quando o índice havia registrado alta de 0,17%. Os grandes responsáveis pela moderação do índice foram os grupos de alimentação (que registrou deflação de 0,49% nesta semana, contra – 0,16% na semana anterior) e transportes (que registrou pequena alta de 0,02%). Já no atacado, a inflação de setembro tem registrado aceleração acentuada, com a segunda prévia para o mês de setembro do IGP-M registrando alta de 1,36%. Esta aceleração dos preços no atacado foi puxada pelo aumento do custo das matérias primas brutas (particularmente os insumos industriais), que subiram 3,72% no período.

Comentário: A inflação no varejo em setembro ainda será baixa e não será diretamente afetada pela desvalorização cambial recente. É provável que o mês setembro, assim como vem ocorrendo desde junho, registre uma inflação (medida pelo IPCA) inferior ao igual mês de 2012, reduzindo a inflação acumulada em 12 meses e aproximando o resultado inflacionário de 2013, aquele verificado ao fim de 2012, quando o IPCA subiu 5,8%. Deve-se ficar atento, no entanto, à rápida evolução dos preços no atacado registrados já em setembro, que podem impactar a inflação do varejo nos meses subsequentes, particularmente no último trimestre de 2013. Uma parte desta inflação não será diretamente repassada ao consumidor final, porém é de se esperar a aceleração do IPCA acima do comportamento “normal” da inflação no período, que historicamente apresenta aceleração em relação aos índices registrados no meio do ano.

Expectativas dos empresários melhoram e projetam quarto trimestre de crescimento: A confiança do setor industrial avançou novamente nas medições de setembro, indicando uma retomada dos investimentos e do crescimento no terceiro e quarto trimestres de 2013. Segundo pesquisa da CNI, após sofrerem forte queda em julho, influenciados pelo clima pessimista gerado tanto pelas manifestações de junho quanto pelo catastrofismo de alguns analistas econômicos, o índice de confiança do empresariado industrial já vinha apresentando recuperação em agosto, e registrou nova elevação em setembro, subindo 1,7 ponto e chegando a 54,2 pontos (onde qualquer valor acima de 50 representa otimismo). Já a confiança do setor comercial medido pelo ICEC (Índice de confiança do empresário do comércio) da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) apresentou alta de 5,7% na passagem entre julho e agosto, subindo para 110,1 pontos em uma escala de 0 a 200.

Comentário: A recuperação na expectativa dos empresários e dos consumidores era esperada após a exagerada queda verificada em julho. Nenhum indicador relevante mudou a ponto de influenciar negativamente a percepção dos agentes econômicos, porém as manifestações e a pressão pessimista de boa parte da imprensa tiveram um papel decisivo na rápida queda das expectativas. Passado o choque inicial, a percepção das pessoas sobre a realidade econômica volta ao normal, onde uma economia com inflação em queda, juros menores, crescimento moderado e boa situação no mercado de trabalho permanece sendo um cenário animador em um mundo que ainda vive os efeitos da crise econômica. A melhoria das expectativas dos empresários pode se elevar ainda mais com o eventual sucesso do pacote de concessões, que pode se conformar como um dos eixos do crescimento econômico nos anos posteriores, impulsionando o investimento privado nacional para abastecer as obras de infraestrutura.

Dilma adia visita a Obama em repúdio à espionagem americana:A presidenta Dilma Rousseff informou oficialmente ontem que não realizará a viagem aos EUA planejada para outubro. Após conversas com Obama e com seu ministro das relações exteriores, Dilma decidiu adiar a visita em resposta às denúncias de espionagem praticadas pela NSA, órgão de inteligência do governo americano. O governo brasileiro esperava um pedido de desculpas e uma explicação convincente acerca das atividades de espionagem praticadas pelo governo Obama e, diante da falta destas atitudes por parte do governo americano, informou que seria inviável realizar uma visita diplomática com este assunto bloqueando as outras pautas do encontro. Além disso, a possibilidade de divulgação de novos casos de espionagem contra o Brasil durante a visita de Dilma poderia criar um fato embaraçoso para ambos os governos, já que os EUA se disseram incapazes (no curto prazo) de informar o alcance e o conteúdo da espionagem que fizeram.

Comentário: A resposta de Dilma à espionagem americana mostra altivez e preserva a soberania do país, ao não se curvar à ingerência da potência externa. A resposta foi calculada para, ao mesmo tempo em que cria uma situação embaraçosa para Obama (alvo de críticas nacional e internacional pela sua política externa beligerante e agora pelos casos de espionagem), não afetar negativamente o relacionamento comercial entre as nações. Apesar disso, as negociações da Boeing com o Ministério da Defesa brasileiro para a compra de novos aviões Caça para a FAB, aparentemente esfriaram, sendo que poderiam ter avançado bastante caso a visita de Dilma se confirmasse, e os casos de espionagem não tivessem vindo à tona.
Análise: Guilherme Mello, Economista
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