Não se faz saúde sem médicos; e no Brasil, além de poucos profissionais para o número de habitantes, esses estavam concentrados nas capitais e grandes centros

Por Gleisi Hoffmann

Fiquei emocionada ao ver pela tevê a chegada dos médicos estrangeiros ao Brasil. Espanhóis, portugueses, cubanos, de todas as origens. Gente que vem ao nosso país para trabalhar, atrás de uma chance de emprego, de agregar conhecimento à sua carreira ou de cumprir uma missão.

Temos todos de ser gratos a eles por terem respondido ao chamado. Penso que é essa emoção, maior com certeza, que a população de centenas de municípios começou a ter ontem, com a chegada dos médicos para atendê-la. Não só os estrangeiros, mas também os brasileiros, primeiros a serem chamados, que se dispuseram a servir a população mais pobre.

Não se faz saúde sem médicos; e no Brasil, além de poucos profissionais para o número de habitantes, esses estavam concentrados nas capitais e grandes centros. Temos aqui uma média de 1,8 médico por mil habitantes, enquanto em outros países, como os nossos vizinhos Argentina e Uruguai, por exemplo, este número é de 3,2 e 3,7 respectivamente. No Paraná, que é um dos estados mais bem atendidos se compararmos com as regiões Norte e Nordeste, a média é de 1,68 médico por mil habitantes. No país inteiro são cerca de 370 mil médicos, muito pouco para as nossas necessidades de atendimento da população.

Quando a presidente Dilma resolveu elaborar o programa, iniciou por criar mais cursos de Medicina e implantá-los onde nunca existiram, além de incentivar a descentralização dos médicos brasileiros e trazer profissionais do exterior. Nunca pretendemos desrespeitar ou brigar com a categoria. Os médicos são profissionais valorosos, dos quais precisamos muito e precisamos mais.

Na primeira etapa, conseguimos a confirmação de 1.340 profissionais. Muito aquém dos mais de 16 mil solicitados por 3.511 municípios. Em cerca de 700 municípios não temos nem sequer um médico para atender os milhões de brasileiros que lá vivem. Para eles, nenhum médico optou por se deslocar. Penso que, dentro da legalidade, temos de usar todas as estratégias para garantir-lhes médicos.

Quando decidimos firmar Acordo de Cooperação Técnica com a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) e trazer médicos cubanos para o Brasil – diferentemente do que nos acusa o jornalista Rogerio Galindo no texto “Os 10 erros do projeto dos médicos cubanos”, publicado em 23 de agosto no seu blog Caixa Zero, da Gazeta do Povo –, fizemos pensando nesses brasileiros, em quem precisa na maioria das vezes de uma atenção simples, básica, da intervenção de alguém que pode medicar uma diarreia, uma virose, e salvar a vida de uma criança.

Cuba tem um programa de cooperação internacional para a missão de médicos. Os cubanos atuam dessa forma em quase 60 países. Por isso, diferente dos outros estrangeiros, eles têm emprego garantido e carreira em Cuba. Participam por um período de missões externas e retomam suas carreiras quando retornam ao país. A participação em missão externa significa ganho adicional. O salário em Cuba permanece com a família que está lá. Assim como existem forças de paz, também existe essa força de saúde. São profissionais experientes, que serviram em muitos outros países e que estão dispostos a fazê-lo.

Pode-se manifestar diferenças e criticar o modelo de governo cubano. Mas querer impedir os médicos cubanos de participar do programa por causa disso, havendo brasileiros que precisam de atendimento e profissionais querendo atendê-los, é colocar a vida em segundo plano. Tenho certeza de que a melhor resposta às críticas recebidas será o resultado do atendimento médico que a população receberá. Esse programa valerá pelas vidas que salvar.

Gleisi Hoffmann é ministra-chefe da Casa Civil da Presidência da República.
Publicado no jornal Gazeta do Povo, 03/09/2013 – Opinião