Exposição multimídia percorre o país retratando a luta pela terra
Prefeito Fernando Haddad e secretário Rogério Sottili abrem exposição “Sentimentos da Terra”, no CEU em Campo Limpo, em manhã que bateu recorde de visitações.
Por Cecília Figueiredo
O prefeito Fernando Haddad, o secretário de Direitos Humanos e Cidadania, Rogério Sottili, chegaram cedo para a abertura da exposição Sentimentos da Terra, nesta quinta-feira, 29, no CEU Cantos do Amanhecer, em Campo Limpo, zona sul da Cidade. O museu mambembe viaja desde março por cidades do País dentro de um caminhão, para retratar a luta do povo brasileiro pela terra desde 1500.
“É uma oportunidade de trazer para a Cidade a história das lutas no campo”, disse o prefeito Fernando Haddad, que também elogiou o fato de a exposição ser multimídia. “Deixa mais atrativo o relato de acontecimentos do passado nos dias de hoje.”
Equipado com tecnologia de informação e entretenimento de ponta, o caminhão-museu conta com diversos ambientes, que abrigam grande exposição interativa. Rogério Sottili, secretário de Direitos Humanos, avalia que a mostra contribui para a consolidação dos direitos humanos na Cidade. “Ao recuperar a memória, estamos defendendo a luta e construindo em São Paulo a cultura da educação em direitos humanos.”
Prefeito e secretariado visitam Espaço da Imaginação | Foto: César Ogata/PMSP
Iniciativa do Ministério do Desenvolvimento Agrário – MDA (Nead) e da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG (Projeto República) e trazido a São Paulo pela Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania, o caminhão-museu leva atividades artísticas e culturais voltadas à formação em valores de direitos humanos a diversas localidades, fortalecendo a política de ocupação dos espaços públicos pela cidadania.
A proposta é reunir o rigor historiográfico com uma linguagem artística acessível a um público diversificado, em metrópoles e pequenas cidades, assentamentos, reservas indígenas e territórios quilombolas. Ela revela também que havia um grande interesse em vir para a capital. “Fundamental falar do Brasil rural na maior cidade do País. Fizemos contato com a Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania que imediatamente apoiou nosso projeto, pois a política da Prefeitura São Paulo é dar acessibilidade à história.”, completa a coordenadora do museu itinerante, Pauliane de Carvalho Braga, historiadora, pesquisadora e mestranda no assunto.
A média de visitações foi superada na manhã desta quinta-feira. “Hoje já batemos o recorde, somente na parte da manhã foram mais de 400 visitas”, comemora a curadora. Ela valorizou também o apoio da gestão. “Tivemos a oportunidade de apresentar esse projeto, que foi iniciado ainda quando ele [Fernando Haddad] era ministro da Educação e tem tudo a ver com o que sempre apoiou, a universidade levando o conhecimento para as escolas”, enfatizou.
Um baú de histórias e imagens
Numa das laterais do caminhão-museu, o visitante encontrará uma tv interativa, onde pode fazer a escolha pelo vídeo que irá assistir, por uma notícia ou até mesmo orientar-se para outras atividades proporcionadas no espaço.
Onze videodocumentários realizados por Gringo Cardia, a partir do conteúdo histórico pesquisado pelo Projeto República, são apresentados aos visitantes. Os vídeos são narrados por artistas, como Caio Blat, Chico Buarque, Dira Paes, Gilberto Gil, José Wilker, Letícia Sabatella, Marcos Palmeira, Maria Bethânia, Regina Casé, Vera Holtz e Wagner Moura, que cederam gratuitamente suas vozes ao projeto pela afinidade com os temas tratados. Ester Ramos, professora de Educação Fundamental I, acredita que a exposição auxiliará na problematização do tema com as crianças, em sala de aula. “Vir aqui com eles e levar esse tema para a sala de aula é uma forma de as crianças falarem com mais propriedade sobre a luta pela terra na escola”.
Visitante se caracteriza de cangaceiro
Gustavo Ferreira, aluno do sexto ano do ensino fundamental I, no CEU, aprovou a chegada do caminhão-museu. “O que eu mais gostei foi o vídeo que fala sobre as pessoas que estão morrendo, que fala de sede, de guerra”, seleciona.
O Espaço da Imaginação dispõe de seis computadores com internet, monitor com tela interativa e uma biblioteca com livros de arte, fotografia, geografia, história, costumes e tradições, além de jornais e revistas. Everton demonstra encantamento, enquanto Luis Guilherme, também aluno do ensino fundamental I no Cantos do Amanhecer, faz pesquisas e ouve músicas, mas demonstra interesse ao citar o vídeodocumentário sobre Canudos. “Fala sobre a terra, sobre os pobres, os ricos”.
Já a Exposição Gira-Gira retoma o percurso histórico de oito personagens que sintetizam a variedade dos conflitos no Brasil rural: Visconde do Uruguai, Antônio Silvino, Elizabeth Teixeira, Dom Pedro Casaldáliga, Chico Mendes, Sepé Tiaraju, Leonel Brizola e Euclides da Cunha. “A escolha é fruto da pesquisa de dez anos, a partir de fragmentos da história do País no campo, desses 500 anos, para representar por meio de vozes distintas a diversidade na luta”, explica Pauliane.
Ícones da luta pela terra na exposição Gira Gira
A Tenda para Caracterização foi um dos espaços disputados pelas crianças durante toda a manhã desta quinta. Uma arara com roupas de personagens variados é o convite para o visitante vestir-se e voltar ao tempo. Os visitantes podem ser fotografados em cenários como o do Cangaço e de Canudos, com figurinos próprios aos personagens ligados à escolha. “Os personagens mais procurados são os do Cangaço”, disse a historiadora.
A parte traseira do caminhão é destinada a um caraoquê com seleção de canções rurais e espaço para contação de história. Pelo menos três vezes ao dia é apresentada uma linha do tempo, de 1500 aos dias de hoje, numa linguagem cênica, que une narração, maquetes e intervenções dos mediadores culturais para retratar os movimentos e episódios ligados à luta pela terra.
Linha do tempo de 1500 até hoje, por meio de contação de história
Na estrada
A mostra viaja pelo país desde março último, e passou por Belo Horizonte, Jequitibá, Pouso Alegre e Poços de Caldas em Minas Gerais, Goiânia, além de Limeira e Araçoiaba da Serra no interior paulista. Na última semana, o Caminhão chegou a São Paulo, permanecendo cinco dias no Vale do Anhangabaú, centro da capital, onde recebeu cerca de 2 mil visitas.
As atividades do Caminhão Museu Sentimentos da Terra seguem até domingo, 1º de setembro, em Campo Limpo, zona sul de São Paulo.
Para as próximas paradas, a equipe do caminhão-museu já planeja a criação de um novo espaço, para a captação das histórias dos visitantes. “Uma tenda para colher as experiências que os visitantes nos trazem”, conta Vinicius Barros Zampieri, 19, estudante de artes cênicas na UFMG e mediador cultural no projeto desde o início.
Fotos: Cecilia Figueiredo
Serviço:
Exposição Sentimentos da Terra
Até domingo, 1º de setembro
9h às 18h
CEU Cantos do Amanhecer
Avenida Cantos do Amanhecer – Campo Limpo