Na UFABC, Lula encerra conferência sobre política externa brasileira
No campus da Universidade Federal do ABC, em São Bernardo, ex-presidente falou sobre a luta contra a fome no mundo e sobre política externa
Por Fernanda Estima
No pátio da Universidade Federal do ABC (UFABC) uma fila de pessoas foi crescendo em frente ao auditório San Tiago Dantas. Por volta das 13 horas participantes da Conferência Nacional 2003-2013 – Uma Nova Política Externa, realizada desde o dia 15 em São Bernardo, já esperavam o momento de entrar para ouvir o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na palestra “Brasil no Mundo: Mudanças e Transformações”.
Na abertura do evento o reitor da UFABC, Hélio Waldmann, lembrou que a estreia da utilização daquele espaço para debater política externa só era possível graças à ação do governo Lula, que decretou a criação de novas universidades federais, entre elas a do ABC.
No auditório lotado, estudantes de vários estados brasileiros e estrangeiros, pesquisadores, representantes de governos, sindicatos, partidos e movimentos sociais ouviram de Lula um relato sobre suas primeiras experiências como presidente da República nos fóruns internacionais, encontros com líderes mundiais e sua persistente proposta de acabar com a fome no mundo e utilizar a negociação como solução para impasses. “Nas relações internacionais colocamos peso na luta contra a fome”, disse Lula, acrescentando que se incomodava com a subserviência brasileira: “em política internacional, ou em qualquer tipo de política, ninguém respeita quem não se respeita”.
Lula defendeu que ainda há muito por fazer para transformar as relações comerciais, as garantias de direitos e democracia ou a segurança alimentar no mundo, e relatou algumas das dificuldades para que governos consigam avançar em projetos importantes, mesmo estando boa parte da América do Sul vivendo experiências progressistas e de esquerda no comando dos países. “Queremos ter relação com os Estados Unidos, o que não podemos é nos tornar dependentes. Por isso nos voltamos para a América Latina”, afirmou Lula.
Em diversos momentos o ex-presidente foi aplaudido, como ao dizer que a ONU deveria empenhar a mesma força para criar o Estado da Palestina que a utilizada para a criação do Estado de Israel, ou quando afirmou que não é possível pagar a dívida que o Brasil tem com a África em dinheiro, mas pode-se pagar com solidariedade e apoio tecnológico, inclusive para a agricultura: “a savana africana pode produzir milhões de toneladas de alimentos e o Brasil pode ajudar”.
Falando principalmente para uma plateia foramda por jovens e estudantes, Lula destacou que as recentes manifestações ocorridas no país são boas, e servem pra mostrar que sempre se tem algo a arrumar. “Na Europa estão fazendo protesto para não perder o que conquistaram e aqui estão protestando para conquistar mais”, afirmou. O ex-presidente também conclamou os jovens e manifestantes a não rejeitarem a política, mas sim a participar dela: “é dentro de vocês que está o político perfeito que vocês querem que os outros sejam”.
Lula aproveitou a ocasião para classificar de “vandalismo na internet” as afirmações de que ele estaria donte: “estão espalhando na internet que estou com metástase. Eu, graças a Deus, não tenho mais câncer. E se tivesse qualquer coisa, jamais esconderia”, disse Lula. O ex-presidente também homenageou Nelson Mandela, que completou 95 anos nesta quinta-feira.
Com mais de setecentas inscrições e organizado pelo Grupo de Reflexão em Relações Internacionais (GR-RI), formado por vários atores sociais, em parceria com a Prefeitura de São Bernardo do Campo, Fundação Perseu Abramo, Fundação Maurício Grabois, TVT, Instituto Friedrich Ebert Stiftung, CUT e sindicatos dos Metalúrgicos e Químicos, o evento teve por objetivo fazer um balanço da política externa brasileira nos últimos dez anos.
(Fotos: Ricardo Stuckert/Instituto Lula)