Conferência debate maior participação na política externa
Cerca de 500 pessoas participaram na noite de segunda-feira (15), da abertura da Conferência Nacional “2003-2013: Uma Nova Política Externa”. Na abertura do evento, que inaugurou o auditório San Tiago Dantas, da Universidade Federal do ABC (UFABC), o presidente da Fundação Perseu Abramo, Marcio Pochmann, a vice-presidenta, Iole Ilíada, o reitor da UFABC, Hélio Waldmann; e o prefeito de São Bernardo do Campo, Luiz Marinho, representando o Consórcio dos Municípios do ABC, recepcionaram o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota.
Organizada por representantes de movimentos sociais e sindicais, partidos, fundações, integrantes de diversas áreas do governo, pesquisadores universitários e ONGs, que integram o Grupo de Reflexão em Relações Internacionais (GR-RI), a conferência visa o aprofundamento do debate sobre a política externa. “A política externa é pouco permeável e é preciso ampliar a capacidade de participação da sociedade civil”, afirmou Iole Ilíada.
Iole Ilíada, vice-presidenta da FPA, durante abertura dos trabalhos da Conferência
O embaixador Antonio Patriota, na mesa coordenada pelo economista Marcio Pochmann, abordou os “Próximos anos: cenários e desafios da Política Externa Brasileira”. O ministro fez um balanço das alterações na política externa do Brasil nos últimos dez anos, numa conduta que não se limita às denúncias, mas propõe alternativas. De exemplos de âmbito regional, como a valorização da América do Sul como “espaço privilegiado de atuação”, às grandes questões globais, o ministro afirmou que o Brasil tem buscado “uma participação propositiva em todos os assuntos relevantes”.
Ao comentar questões polêmicas da política externa, Patriota destacou ainda a importância atribuída pelo governo às relações Sul-Sul e a articulações como o IBAS (Índia, Brasil e África do Sul) e o BRICS (Brasil, Índia, Rússia, Brasil e África do Sul), sem causar prejuízos às relações com os Estados Unidos e a Europa. A mesma preocupação esteve presente em sua referência à Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e do Caribe), ao assinalar que esse “não foi um movimento contra determinados países”. Patriota ainda elogiou a participação brasileira na missão da ONU no Haiti, mas deixou claro que, no entendimento do governo, o papel que o país tinha a desempenhar naquela ilha caribenha já foi cumprido, no essencial, e que já é hora de iniciar o “nosso desengajamento”.
Patriota manifestou, durante o evento, a disposição do Itamaraty em criar, até o final deste ano, um organismo consultivo sobre a política externa brasileira, reunindo governo e representantes da sociedade civil.
O GR-RI encaminhou ao governo uma carta na qual reivindica “a criação de um órgão institucional permanente de consulta, participação e diálogo sobre a política externa brasileira”.
Integrantes do GR-RI entregam carta ao ministro Antonio Patriota
De acordo com o ministro Patriota, o futuro organismo será um “campo permanente de diálogo com a sociedade civil em relação à política externa” e buscará atender a dois objetivos. O primeiro é permitir ao governo “esclarecer e explicar” suas políticas nessa área com mais profundidade e detalhes do que a cobertura habitual na mídia e nas publicações especializadas. O segundo objetivo, nas suas palavras, é o de “receber os anseios e aspirações legítimas da sociedade civil brasileira em um mundo onde o Brasil tem cada vez mais a dizer”. Ele não se manifestou sobre o nome, a composição e a dinâmica de funcionamento da instância consultiva a ser constituída.
A carta, dirigida também à Secretaria Geral da Presidência da República, foi apresentada na conferência pelo diretor da Fundação Perseu Abramo, Artur Henrique; pela professora de Ciência Política e Relações Internacionais Maria Regina Soares de Lima, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (IESP/UERJ); e por Ricardo “Alemão” Abreu, secretário de Relações Internacionais do PCdoB e da Fundação Maurício Grabois, que se revezaram na leitura do documento.
Fotos: Roberto Parizotti