Ilíada: Venezuela ensina que nada substitui os partidos políticos
Destaques do Vermelho: entrevista com a vice-presidenta da Fundação Perseu Abramo, Iole Ilíada, sobre as eleições na Venezuela que acontecem no domingo (14/04). A entrevista foi realizada durante o ato da campanha “Brasil com Chávez está com Maduro ” em São Paulo, realizado no dia 05/04.
A Venezuela vive um momento de alguma instabilidade, com essa dúvida possível sobre a eleição de Maduro. Como você vê o que se passa agora naquele país, com a morte de Hugo Chávez?
Acho que é natural que quando um país perde uma liderança importante como foi a de Hugo Chávez, que encarnou em si um projeto de transformação social tão grande, a perda precoce desse líder gere alguma instabilidade. Por outro lado, parece que o povo tem claro que o projeto, apesar de encarnado no Chávez, é coletivo, feito por muitas pessoas e dirigido por um partido, que é o PSUV. E esse partido indicou Maduro para suceder Hugo Chávez.
Estou otimista de que apesar dessa instabilidade. Acredito que Maduro vai ser eleito, com grande apoio popular. É claro que nesse momento começa nova etapa, de construção e de fortalecimento desse projeto coletivo, contra uma oposição sempre radical, sempre raivosa, que usa quaisquer instrumentos que estiver às mãos para fazer esse enfrentamento, inclusive que manda às favas qualquer veleidade coletiva.
Estou confiante com a vitória de Maduro. Por outro lado, acho que essa articulação das forças de esquerda e progressistas da América Latina e do mundo de apoio ao processo venezuelano é fundamental.
Você citou a questão do partido forte, um partido grande. Vimos uma reportagem na qual pessoas estariam doando um dia de salário. Qual é a capilaridade real deste partido?
O PSUV é um partido relativamente novo, que nasce já depois do processo de eleição do Chávez e de aglutinação de forças que existiam anteriormente. Como Partido novo, obviamente está se estruturando; foi construído a partir de uma ampla campanha de filiação, e nesse sentido, a capilaridade dele, pelo menos em termos de filiados, é muito grande. Sabemos bem que militante e filiado não são a mesma coisa, mas esse processo da perda de Chávez e da necessidade de eleger Maduro, vai ser importante neste momento para esse ganho de organicidade do partido. É um partido organizado em muitos lugares, com muita inserção popular e capacidade de inserção popular. E essa eleição está sendo um grande teste para o partido inclusive para se constituir enquanto uma entidade orgânica. O que para a Venezuela me parece que é fundamental.
Essa eleição deve consolidar o Partido para além de Chávez?
Para além ou para quem é complicado, mas se constitui como algo próprio, como um ente dirigente coletivo que é o que um partido político deve ser, que necessita menos das lideranças – que são importantes em todo processo -, mas menos do papel individual das lideranças e vai depender cada vez mais da capacidade de organização da sua militância. O que é muito importante para um partido político.
Nesse contexto, qual a importância dos movimentos sociais nesse momento?
É grande a importância dos movimentos sociais. O partido já nasce articulado com os movimentos sociais venezuelanos. Mas é um partido que tem essa possibilidade – que conhecemos em partidos brasileiros e em outros lugares – de ser um vetor desses interesses dos movimentos sociais. Tem condição de se constituir como um partido permeável a organização, mobilização e interesses dos movimentos Para um partido de esquerda isso é vital.
Essa experiência venezuelana pode servir de exemplo para partidos de outros países da América Latina?
Acho difícil falar de exemplo, porque cada processo na América Latina é muito particular. Cada partido nasceu em um contexto diferente. A lição universal que podemos tirar daí é: nada substitui os bons e velhos partidos políticos. As novas formas organizativas em algum momento sentem necessidade de um partido político.
(Foto: Douglas Mansur/Brasil com Chávez está com Maduro)