A imprensa e o PT: uma batalha
Um texto muito atual de Perseu Abramo que integra o capítulo “Comunicação e jornalismo” do livro Um trabalhador da notícia – textos de Perseu Abramo, organizado por Bia Abramo e publicado pela Editora Fundação Perseu Abramo
1988
A grande imprensa continua tendo, em relação ao PT, uma atitude de militância política. O Partido não é visto como uma realidade a ser descrita e analisada com isenção e eventualmente criticada. Mas um adversário a ser combatido o tempo todo, mesmo em detrimento da verdade, se necessário. Combatido pelo silêncio, pela omissão, pelo mutismo. Ou pela distorção e pela manipulação.
Um jornal combate o PT porque o Partido resolveu ampliar sua política de alianças com outras forças e outros setores. Segundo o jornal, é uma postura hipócrita, porque o PT é contra os setores com os quais busca alianças. Há aí ignorância e má-fé: ou o editorialista não leu as resoluções, ou leu e não entendeu, ou entendeu mas fingiu que não. E imaginem vocês o que diriam se tivesse sido aprovada a linha oposta: o PT seria acusado de estreito, sectário, preconceituoso etc. Outro jornal elogia o processo adotado pelo PT para escolha dos seus candidatos. Mas, passada a prévia, ataca a candidata escolhida pelo processo elogiado no dia anterior. Ou seja: democracia só é bom se vence quem eu quero; senão não serve. Mas, se o vencedor da prévia fosse o outro candidato, o jornal também encontraria pretextos para atacar o PT.
A grande maioria dos órgãos da imprensa procura no PT não o essencial das resoluções, os indicadores do crescimento qualitativo e quantitativo, as inovações políticas ou organizacionais, a democracia interna, a coerência pública, a fidelidade ao programa e aos compromissos com a classe trabalhadora. Mas, sim, o detalhe, o pormenor, a minúcia, o pequeno erro, a falha insignificante.
Contrários à prática da democracia no interior das empresas, supervalorizam qualquer divergência de opiniões, fazem um carnaval com uma ligeira disputa entre dois companheiros, fingem escandalizar-se diante da coexistência de correntes de pensamento dentro do Partido.
De nosso lado, nós, petistas, precisamos começar a mudar nossa atitude diante da grande imprensa. Perder um pouco a ingenuidade, a bisonhice que às vezes caracterizam nossas relações com ela. Não imaginar que a grande imprensa esteja acima do bem e do mal, acima dos interesses de classe. Uma entrevista, uma reportagem, uma cobertura, um debate — na TV, no rádio, no jornal ou na revista — não é um ato puro de comunicação que se dá no limbo. É uma batalha política. Com estratégia, táticas, armas e recursos logísticos. Exige planejamento antecipado, definição de objetivos, adequação de meios, firmeza de propósitos, clareza de situação, do campo, dos aliados e dos adversários.
Se a grande imprensa acha que é seu dever atacar o PT, o PT deve entender que é de seu dever resistir e contra-atacar. Principalmente num ano eleitoral.