Ontem de madrugada, quando, em todo o País, se preparavam as comemorações escolares e cívicas da Independência da Pátria, o Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) foi vítima de uma tentado terrorista.

O Cebrap, embora não seja propriamente uma instituição escolar, é sobejamente conhecido nas escolas, principalmente superiores, de todo o País. Entidade de direito privado constituída com fundos provenientes de doações e do produto da venda de suas publicações científicas, o Cebrap congrega, já há vários anos, professores e pesquisadores dos mais categorizados da América latina, em suas especialidades. Muitos desses cientistas foram os que mais se destacaram, em seus respectivos campos, pelas suas posições. Três são as características que têm marcado a atividade e a produção intelectual desses pesquisadores: a fidelidade aos rigorosos princípios internacionais do método científico, a lealdade aos alvos teóricos e práticos da independência nacional, o engajamento nas aspirações mais coletivas da sociedade brasileira.

Se não com exclusividade, é o Cebrap um dos núcleos de inteligência brasileira que mais se têm preocupado em gerar a reflexão crítica e o debate científico em torno das principais questões do Brasil das duas últimas décadas: o modelo econômico, o modelo político, o problema da democracia, o populismo, as manifestações populares, a marginalidade, a religiosidade popular, o controle demográfico, a própria autonomia do pensamento científico, reflexivo e crítico.

Por essa razão é que o produto intelectual do Cebrap – os seminários e os simpósios que realiza, as conferencias e os artigos de seus dirigentes e pesquisadores, as pesquisas e publicações que edita – tem sido procurado e consumido por professores e estudantes dos principais centros universitários do País, por políticos e parlamentares preocupados com os destinos da Nação, por jornalistas interessados em fazer passar a pertinência da observação do cotidiano pelo crivo sereno das interpretações a médio e longo prazo.

O Centro Brasileiro de Análise e Planejamento, portanto, é uma entidade científica que merece ser respeitada. Como a ABI e a OAB, o Cebrap, também é uma conquista da sociedade brasileira que precisa ser defendida e preservada.

A bomba que atingiu o Cebrap foi colocada por mãos comandadas por cérebros que têm pavor ao debate, o ódio ao diálogo e ao entendimento, a repugnância à palavra escrita e falada, a incapacidade à convivência pacífica: mãos terroristas, cérebros antidemocráticos.

Nada revela melhor a autoria dos atentados do que o denominador comum de suas vítimas: Associação Brasileira de Imprensa, símbolo do direito social à informação e à comunicação, bem como da liberdade de Imprensa; Ordem dos Advogados do Brasil, bastião da defesa dos direitos humanos; Cebrap, exemplo de Ciência crítica.

A bomba, portanto, é a bomba contra o pensamento, contra a palavra. À bomba sé poderão opor-se, então, o pensamento e a palavra. Os atentados contra a ABI, contra a OAB, contra o Cebrap, são atentados contra os jornalistas, contra os advogados, contra professores e estudantes, contra cientistas e pesquisadores, contra os que desejam, democraticamente, debater as questões nacionais. Aos atentados, portanto, pesquisadores e cientistas, estudantes e professores, advogados e jornalistas devem responder com a palavra, com o pensamento, com o debate e a reflexão, com a crítica , com a consciência. Historicamente, a bomba e os atentados serão derrotados, pela força da consciência democrática, pelo impacto da palavra livre, pelo pensamento de todos quantos repilam as soluções de força para resolver os problemas da Nação. A Ciência, a Educação, a reflexão e o pensamento, a organização e a disposição democráticas, o sentido da nacionalidade e o espírito de independência – essas as forças capazes de se opor e de vencer as bombas e os atentados terroristas.