O Foro de São Paulo reuniu em Caracas, entre 3 e 6 de julho, cerca de 800 delegados vindos de 50 países representantando mais de uma centena de partidos políticos e movimentos de esquerda e progressistas da América Latina e do Caribe. Durante o Encontro, realizado em meio à crise internacional e sob a recente destituição do presidente paraguaio Fernando Lugo, foram discutidos temas como as ameaças à democracia na região, a integração latino-americana e caribenha, e a necessidade de fortalecimento dos instrumentos regionais de integração. Paralelamente, encontros simultâneos foram realizados reunindo parlamentares, autoridades locais, representantes de partidos e movimentos sociais para debater, entre outros, temas como meio ambiente, juventude, combate às desigualdades sociais, defesa, migrações, sindicalismo e cultura.

No encerramento do Foro, realizado na noite de 6 de julho, com a presença do presidente da Venezuela, Hugo Chavez, o  secretário executivo do Foro de São Paulo, Valter Pomar, leu a resolução final do Encontro. O documento tem entre suas principais conclusões a condenação aos golpes de Estado no Paraguai e em Honduras, o rechaço às tentativas de golpe na Bolívia e no Equador e o apoio à reeleição de Hugo Chavez na Venezuela. O Foro também defendeu o apoio à independência de Porto Rico e à criação do Estado Palestino, prestou solidariedade ao governo argentino em relação às Malvinas, defendeu a adoção de modelos de desenvolvimento que assegurem a soberania dos povos e dos países, e ratificou a necessidade de defender o socialismo e lutar contra o capitalismo.

Pomar enfatizou que o Foro de São Paulo apoia incondicionalmente a reeleição de Hugo Chavez e que é preciso estar atento a todos os fatos políticos previstos para este ano, em especial a eleição presidencial da Venezuela, em outubro. Nesse sentido, os participantes do encontro aprovaram a realização de um "tuitaço" mundial em apoio a Chavez. Também foi definido o apoio ao governo equatoriano na concessão de asilo político a Julian Assange, do Wikileaks. 

A mensagem de Lula

O ex-presidente Lula, um dos responsáveis pela criação do Foro, gravou uma mensagem em video, apresentada no evento por Luiz Dulci, ex-ministro e atual diretor do Instituto Lula. Dulci relembrou o início do Foro de São Paulo, em 1990, quando poucos países eram governados por forças progressistas ou de esquerda. "Eram exceções", segundo ele. 

Dulci enfatizou o importante papel que teve o Foro ao reunir lideranças de movimentos e partidos de esquerda da região, também destacando a acão coordenada desse grupo, que foi fator decisivo na conquista de governos em diferentes partes da América Latina e do Caribe. O Foro, segundo Dulci, defende princípios como a democracia, a solidariedade e a soberania e disso decorre a existência de governos regionais que deem prioridade ao homem e não ao capital. 

Na mensagem, Lula saudou os participantes do Foro dizendo que gostaria de estar ali para compor a delegação do Partido dos Trabalhadores e abraçar o amigo Chavez. Lula expressou seu apoio ao presidente venezuelano: "Chávez, conte comigo, conte com o PT, conte com a solidariedade e apoio de cada militante de esquerda, de cada democrata e de cada latino-americano. Sua vitória será nossa vitória", afirmou. O ex-presidente Lula também ressaltou que as classes populares venezuelanas tiveram conquistas extraordinárias sob o governo de Chavez e que "nunca foram tratadas com tanto respeito, carinho e dignidade" e, por essa razão defende a continuidade e consolidação desse projeto.

Para Lula, apesar de governos progressistas estarem no poder na América Latina e do fato de a região ter se tornado uma referência internacional, ainda há muito por fazer para consolidar a democracia e para reduzir a desigualdade social. Ele citou os exemplos dos golpes de Estado que derrubaram os governos de Manuel Zelaya em Honduras e de Fernando Lugo no Paraguai, e enfatizou a necessidade de apostar em mais crescimento econômico, políticas sociais e reformas estruturais. 

O Foro e os partidos políticos de esquerda e progressistas tiveram papel muito importante para o que foi feito na região até agora, afirmou Lula. Ele alerta, porém, que ainda há muito a ser realizado e que esse papel pode ser muito maior se for mantida a principal característica que une os partidos e movimentos de esquerda da América Latina e do Caribe: a unidade na diversidade.

Chavez: lutar pela continuidade do processo democrático

O presidente Hugo Chavez iniciou sua saudacão aos participantes do Foro de São Paulo dizendo-se muito emocionado com as palavras de Lula e enfatizando o perfil solidário do ex-presidente brasileiro, a quem conheceu durante uma das reuniões do Foro.

Chavez falou sobre o processo democrático em marcha na América Latina e mostrou preocupação com a atuação de forças reacionárias na região, traduzidas no golpe de Estado ocorrido no Paraguai e nas constantes tentativas de desestabilizaçao de que são vítimas governos como os da Bolívia e do Equador. Ele falou sobre a importância da democratização da informação e dos meios de comunicação para a conquista da democracia.

Em relação à Venezuela, Chavez disse que ganhar as eleições de outubro significará  a continuidade do processo revolucionário e que não acumula poder, e sim, o redistribui a partir das Comunas, por meio das quais a população se expressaria, exercendo-o.

Chavez ridicularizou seu opositor, Henrique Capriles Radonski, e disse estar certo da vitória em outubro deste ano. A burguesia, segundo Chavez, nunca mais voltará a governar a Venezuela. “No volveran” é um dos motes de sua campanha.

A Declaração final do XVIII Encontro do Foro de São Paulo deve ser publicada durante a semana.

Atualizado em 10/7/2012, às 18h00

 

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