Apolônio de Carvalho é uma lenda que existiu na realidade: fez cem anos em fevereiro.

Apolônio de Carvalho é uma lenda que existiu na realidade: fez cem anos em fevereiro.

Brasileiro de Corumbá, Oficial formado na Academia Militar de Realengo, militante do Partido Comunista, por isso mesmo preso e expulso do Exército em 1936, foi combater nas Brigadas Internacionais, forças esquerdistas de todo o mundo que enfrentaram as tropas fascistas do General Franco na Guerra Civil espanhola em 1937. Foi para a França depois da vitória de Franco em 39, casou-se lá com Renée, foi preso pelos nazistas após a queda da França em 40, conseguiu fugir da prisão e novamente ingressou na clandestinidade e na luta armada, participando ativamente da Resistência Francesa, chegando a ser comandante da Região Sul, como combatente experiente com vários feitos heróicos. Finda a guerra em 45, foi condecorado com a Legião de Honra. Voltou tempos depois ao Brasil e à clandestinidade no Partido Comunista, foi preso e torturado pela Ditadura, libertado em troca do Embaixador Americano, viveu na Argélia até voltar depois da anistia, e prosseguir na militância política de esquerda, inscrevendo-se como fundador número um do Partido dos Trabalhadores. Faleceu há poucos anos; Teria há pouco completando o seu centenário de lutador, de legendário herói de três pátrias, símbolo mundial da rebelião contra a opressão e a injustiça entre os homens.

Seu centenário foi muito celebrado em todo o Brasil, e um grupo de militantes entre os quais eu me incluo, que resolveu constituir um Coletivo de formação política de cunho ideológico, adotou o nome de Apolônio de Carvalho, como sendo o mais representativo do que foi e continua sendo a expressão do ideal socialista em toda a sua força e em toda a sua pureza.

Este Coletivo tem desenvolvido atividades em todo o nosso Estado, apresentando palestras, debates e cursos compactos sobre política, história e filosofia, com o propósito de cultivar e estimular o interesse por esses temas decisivos para a humanidade que, infelizmente, têm sido excluídos propositadamente das linhas de quase toda a mídia, como se fossem assuntos irrelevantes ou ultrapassados pelo fascínio das novas pautas tecnológicas do mercado. Este fascínio pela tecnologia é irmão do consumismo, da obsolescência prematura e da descartabilidade das coisas recém-compradas, exigências fundamentais do capitalismo.

É indiscutível que o desenvolvimento científico-tecnológico tem sido o fator mais importante do aumento colossal da produtividade das economias de todo o mundo e dos incríveis progressos da medicina e da comunicação que tanto beneficiaram a Humanidade nas ultimas décadas. O uso deste fator científicotecnológico pode, entretanto, assumir formas diferentes daquela neoliberal dos últimos anos, tendo como objetivo a constituição de sociedades de outro tipo, não só muito produtivas como também mais harmoniosas e justas, mais humanísticas do que essas tão desiguais e tensionadas do mundo atual.

Este é um problema essencialmente político, que demanda ampla discussão com toda a sociedade, com uma informação honesta sobre as alternativas possíveis e suas consequências.

Nosso Coletivo tem propósitos desta natureza, de incitar ao debate bem informado sobre as alternativas política viáveis, contrariando a informação de toda a mídia que sempre apresenta o modelo vigente nos países mais ricos como única alternativa possível, racional, de progresso e desenvolvimento.

Existem outras políticas de desenvolvimento humanístico; existem, sim, políticas à direita e à esquerda, e isso deve ser honestamente discutido de forma democrática. A democratização da informação e da discussão é a nossa proposta. Com certeza, pensamos, seria a proposta de Apolônio de Carvalho, este símbolo brasileiro de liberdade e justiça. Nós também queremos comemorar o seu centenário; da forma que seria de sua preferência: informando e debatendo democraticamente em auditório aberto. Vamos fazê-lo nos dias 16 e 17 de julho, no Sindicato dos Servidores da Justiça Federal (SISEJUFE), com a exibição de um filme documentário sobre a vida e a figura de Apolônio e a promoção de um debate sobre o tema preferido dele: a ideologia e o socialismo.

*Roberto Saturnino Braga, economista, ex-senador (PT-RJ), autor de O curso das idéias, editado pela EFPA e membro do Conselho Curador da Fundação Perseu Abramo. Contatos: [email protected]

 

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