Pablo Solón: “Economia verde altera as leis da natureza”
Esqueça as promessas de equilíbrio ambiental. A economia verde é um negócio que aprofunda a desigualdade e a degradação do planeta. A afirmação é de Pablo Solón, ex-embaixador da Bolívia nas Nações Unidas. A seguir algumas das respostas de Solón à revista Democracia Viva. A entrevista completa fará parte do dossiê especial sobre a Rio+20 da edição 48 da revista, a ser lançada em junho e que será divulgada na íntegra no Canal Ibase.
Por que a economia verde para o sr. não é solução para os problemas ambientais e sociais?
As razões são muitas. Eu diria que o problema mais grave é o fato de que as leis da natureza serão alteradas, pela oferta e pela demanda. A natureza tem suas próprias regras, e elas não estão sujeitas às demandas de certificados de redução de emissão de gases do efeito estufa. Essas regras precisam ser respeitadas, independentemente de que haja benefícios monetários ou não. Para mim, a imposição das regras do mercado à natureza levará a um desequilíbrio ainda maior, juntamente com a desigual distribuição dos benefícios da natureza.
Qual é a relação entre economia verde e especulação financeira?
Na economia verde nada é criado. Quando uma árvore é cortada, pode-se a partir dela criar uma mesa ou um guarda-roupa. Mas quando a capacidade de redução de gases do efeito estufa das florestas é introduzida no mercado, nada é criado. Isso já é feito na natureza. A economia verde no fundo é um negócio onde não se cria um novo valor, mas se transforma em mecanismos financeiros os serviços que a natureza já oferece. Por isso eu digo que é um mercado fictício. Não precisamos das Nações Unidas ou de nenhum outro organismo internacional para vender mesas ou sapatos, porque eles existem, alguém os faz e alguém necessita deles. Mas na economia verde é necessário que se crie de maneira fictícia um mercado para comercializar títulos. As indústrias do norte, por exemplo, precisam reduzir seus gases do efeito estufa e sai mais barato comprar um bônus de emissão de carbono de uma floresta no Brasil, para continuar contaminando, do que reduzir suas emissões de fato.
E qual a dimensão desses mercados?
O mercado de carbono, ainda com baixos níveis de redução de emissão, gerou na União Européia um mercado de aproximadamente 180 bilhões de euros. Imaginemos o que será quando isso se expandir para boa parte dos serviços ambientais. Será multimilionário, e é também uma nova saída para enfrentar mais uma crise do capitalismo. Para se resolver as crises do capital é preciso aumentar a taxa de lucro, e há diversas formas de fazer isso. A guerra é uma delas, assim como a redução de conquistas sociais. Mas também o desenvolvimento de novos mercados e negócios. O negócio da economia verde é um desses novos mercados. É sobre isso que estamos falando quando discutimos esse mercado, e é nisso que está pautada a Rio+20.