A Junta Diretora do Parlamento Latino-Americano (Parlatino) aprovou nesta segunda-feira (23) uma resolução em apoio ao governo da Argentina à decisão de expropriar a petrolífera YPF, administrada pela espanhola Repsol. Os parlamentares do grupo que representa 23 países da região entendem que a medida se baseou na soberania nacional e no respeito aos interesses da população argentina.

A Junta Diretora do Parlamento Latino-Americano (Parlatino) aprovou nesta segunda-feira (23) uma resolução em apoio ao governo da Argentina à decisão de expropriar a petrolífera YPF, administrada pela espanhola Repsol. Os parlamentares do grupo que representa 23 países da região entendem que a medida se baseou na soberania nacional e no respeito aos interesses da população argentina.

“A decisão do governo da Argentina de nacionalizar a empresa YPF foi um ato de [respeito de] soberania energética para o bem-estar do povo”, diz o texto do Parlatino, rejeitando quaisquer medidas de represália. “[Somos contra as] represálias no campo comercial em vez de tomar o caminho do diálogo e da negociação.” Apenas os representantes do México e de Saint Martin não apoiaram a medida e se abstiveram da votação.

A Junta Diretora é formada pelo presidente e por vários secretários-gerais que representam os diversos segmentos internos da entidade. A decisão foi aprovada durante sessão, na Cidade do Panamá, e proposta pela representante da Argentina, Nancy Gonzalez. “[A presidenta da Argentina, Cristina Kicrhner] tomou a decisão no exercício dos seus poderes e deveres [constitucionais] para resgatar e gerenciar com eficiência os recursos de hidrocarbonetos do povo argentino”, diz a resolução.

Em seguida, o texto acrescenta que o Parlatino “compartilha a posição dos governos da América Latina e do Caribe, que, em grande parte, já simpatizavam com a decisão da Argentina, que visa a beneficiar não só o crescimento e desenvolvimento do povo argentino, mas tembém a promoção da integração energética regional”.

Na Espanha, autoridades suavizam discurso em relação à expropriação de petrolífera

O governo da Espanha adotou um discurso mais brando em relação à decisão argentina de expropriar a petrolífera YPF, administrada pela Repsol. O primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, deve comparecer nesta terça-feira (24) ao Parlamento para um debate sobre a expropriação. Ao contrário dos últimos dias, as autoridades da Espanha evitam mencionar represálias e alegam que o tema será discutido na Organização Mundial do Comércio (OMC).

A estratégia das autoridades espanholas é manter a pressão em organismos internacionais, como a União Europeia, para conquistar mais apoio à condenação sobre expropriações, mesmo sendo um instrumento legítimo na soberania de qualquer país, pois as leis e os acordos têm que ser respeitados.

Está em estudo na Espanha um eventual corte nas importações de biodiesel, cujo impacto econômico é considerado insignificante por analistas. Essa é a única definição feita pelo governo espanhol, apesar das ameaças e dos repetidos anúncios de medidas concretas por parte de empresários que investem na Argentina.

Pesquisa mostra que maioria dos argentinos apoia expropriação da YPF

Seis de cada dez argentinos apoiam a decisão de expropriar 51% das ações da empresa petrolífera YPF. Segundo pesquisa de opinião da consultoria Poliarquia, 44% dos entrevistados, no entanto, culpam os Kirchner (no poder desde 2003) pela crise energética do país. Apenas 36% atribuem a queda da produção de combustível, que transformou a Argentina em país importador de energia, à iniciativa privada.

Uma semana depois do anúncio do projeto de lei de expropriação, o governo garante que ele passará no Congresso, onde conta com a maioria. A primeira votação, no Senado, será nesta quarta-feira (25). Até o ex-presidente Carlos Menem, responsável pela privatização da estatal YPF nos anos 1990, diz que votará a favor da medida, devolvendo as ações da empresa espanhola Repsol ao Estado argentino. “Os tempos mudaram”, justificou Menem, senador do Bloco Federalismo e Liberação (uma dissidência do Partido Justicialista ou Peronista).

Apesar de contar com apoio popular e político, a expropriação anunciada por Cristina Kirchner está sendo questionada por especialistas. Todos concordam que a Repsol repatriava os lucros da empresa, sem investir na exploração de novas reservas de petróleo e gás e na produção de combustível. Resultado: em 2011, importou o equivalente a US$ 9 bilhões em energia, que podia ter produzido. A soma equivale a quase todo o saldo da balança comercial do país, que no ano passado foi US$ 10 bilhões. Este ano, estima-se que as importações de energia ficarão entre US$ 12 e US$ 14 bilhões.

Outro problema a ser resolvido é o preço que a Argentina pagará à Repsol pelas ações expropriadas. A empresa espanhola quer, no mínimo, US$ 10 bilhões. O governo argentino avisou que não pagará essa soma. O economista Roberto Kozulj dá razão à presidenta Cristina Kirchner. Segundo ele, a Repsol já lucrou o bastante e não investiu o suficiente no país.

Com informações da Agência Brasil, Agência Lusa e Telesur