Encontro com empresários
Sim, é necessário, o encontro, o entendimento político entre o Governo e os Empresários, entre as lideranças do Estado e da Sociedade Civil. É da boa prática da Democracia, é da essência deste sistema político-econômico bem organizado e bem gerido, seja ele capitalista ou socialista (no socialismo democrático também haverá diálogo entre Estado e Sociedade Civil). Assim é que merece aprovação e louvor a iniciativa desta semana de reunir governo e empresários, para discutir a regência da economia neste momento difícil. É fundamental, também, reunir governo e outras lideranças da sociedade para discutir educação, saúde e tudo o mais, como vem sendo feito. A prática da participação institucionalizada da sociedade civil, levada a sério desde a presidência de Lula, é altamente positiva e certamente um dos principais fatores de êxito no desenvolvimento político do Brasil reconhecido internacionalmente.
Especialmente necessário este último encontro num momento de apreensão em que a economia do País vê-se ameaçada pela agressividade das nações que se debatem em busca de mercados que comprem suas produções encalhadas pela própria crise e pelas medidas de austeridade que vão tomando para enfrentá-la. Neste salve-se quem puder exportador, o Brasil se mostra como uma tábua de salvação, que pode afundar com o peso dos náufragos aflitos, que é realmente muito grande.
O mundo está entrando em guerra, que desta feita não é armada (pode até assumir essa forma em futuro próximo) mas é muito grave na sua forma comercial e cambial, pelo potencial de destrutividade que pode produzir em países despreparados. É imprescindível e urgente que o Brasil se proteja e se arme para enfrentar esta guerra. E o enfrentamento da guerra requer a mobilização total da nação: governo e sociedade civil em consonância, especialmente o empresariado, tendo em vista que a guerra de agora é econômica.
Numa boa democracia, o diálogo governo-sociedade civil, governo-empresariado, evidentemente deve ser contínuo, como tem sido aqui, e todas as declarações, sugestões e reivindicações apresentadas na reunião desta semana já tinham sido manifestadas ao curso dos últimos anos e meses. Não houve propriamente novidade, nem por parte do governo nem dos empresários. O que houve foi a formalidade importante, o encontro institucionalizado para consagrar a consonância; isso é decisivo para criar o clima político nacional de arregimentação para a guerra cambial.
Este clima é justamente o que leva à vitória, o que ganha a guerra. Houve tempo em que se sustentava que a ditadura era mais competente para a guerra, por ser mais capaz de unificar o comando e as ações. Hoje sabe-se que mais competente que a ditadura é a democracia aberta ao diálogo e ao entendimento, capaz de mobilizar a sociedade civil para as tarefas do esforço de guerra.
O ideal é que o clima de mobilização contamine a sociedade como um todo, gerando comportamentos incentivadores da produção nacional, que bem podiam ser estimulados através de campanhas publicitárias encarecendo a preferência pelo produto brasileiro sobre o importado. Não só nos bens industrializados como também nos serviços, como o turismo, por exemplo, onde a diversidade das belezas do nosso território é de modo geral pouco valorizada.
Outro caminho de defesa é o da intensificação da integração sulamericana que já tem produzido excelentes resultados para as economias do continente, mas pode gerar benefícios ainda muito maiores através de uma política decidida de integração industrial planejada, seguindo e criando vocações produtivas complementares nos diferentes países.
Não se trata de alarmar a opinião pública mas de conscientizá-la em relação às conseqüências graves que a crise mundial pode trazer para o Brasil, na esteira desta verdadeira guerra comercial que está declarada.
*Roberto Saturnino Braga, economista, ex-senador (PT/RJ), integra o Conselho Curador da Fundação Perseu Abramo.
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