Educação na Finlândia
Saiu uma reportagem no Globo durante esta semana sobre os êxitos da educação na Finlândia.
Saiu uma reportagem no Globo durante esta semana sobre os êxitos da educação na Finlândia.
Nada surpreendente porque todos conhecem o alto nível de maturidade humanística que este país atingiu, em conjunto com seus vizinhos escandinavos. Mas algumas informações específicas sobre as razões deste êxito são muito interessantes e dignas de sublinhar, ainda que não desconhecidas entre nós. A primeira é a confirmação da tão evidente importância primordial do professor, o agente da formação, ou da educação no conceito pleno, que compreende a valorização do bem-estar das crianças e vai muito além da informação que pode ser lida nos livros ou tirada do Google. O professor lá é formado e pósgraduado com cuidado em universidades de excelência; o professor tem um salário alto, no mínimo igual ao de qualquer profissional superior no mercado; o professor e prestigiado na sociedade: a notícia dá conta de que o magistério é a profissão mais procurada pelos jovens finlandeses, preferida por um em cada cinco que terminam o ensino médio e buscam a universidade.
A segunda é a da importância do ambiente escolar, na perspectiva física e na psicológica. Isto faz pensar não só em limpeza e conforto como na condução das atividades de maneira a manter elevado entre as crianças o gosto pela escola, a motivação e o sentimento de autoestima de toda a instituição. Impossível deixar de lembrar aqui a luminosidade das faces das crianças que eu vi nos primeiros tempos de funcionamento dos
CIEPs.
No que concerne ao ambiente físico, vale a pena mencionar a resposta do educador finlandês à pergunta sobre o uso de tecnologias novas no ensino, com o necessário equipamento, uma pergunta obviamente feita na expectativa de uma resposta bastante valorizadora das últimas modernidades, tendo em vista o notável desenvolvimento tecnológico daquele país. A resposta foi simples, mostrando que a tecnologia pode ser usada mas o foco principal é mesmo a pedagogia, a velha busca do melhor e mais saudável relacionamento entre seres humanos, professor e alunos, ainda que sem tecnologia. É uma pedagogia que não atende às demandas do mercado, que não sobrecarrega as crianças com saberes técnicos, com deveres de casa e provas de verificação, mas prioriza o aprendizado feliz para a vida, preocupa-se mais com o ensino da convivência do que da ciência.
A terceira característica do excelente sistema educacional finlandês é de cunho eminentemente político, democrático: trata-se da implementação efetiva da igualdade de oportunidades para todas as crianças do país no que respeita à educação. Todas as escolas são públicas; todas as crianças estudam em escolas públicas do mesmo padrão, da mesma e boa qualidade. Este é um compromisso político assumido pela nação finlandesa há quase 50 anos; é uma firme política de Estado; um compromisso antigo de toda a sociedade!
Bem, não dá para pensar em comparações nem reproduções do sistema aqui no Brasil: a Finlândia tem cinco milhões de habitantes, um pouco menos do que a cidade do Rio de Janeiro. Mas certamente dá para tirar lições. Lições que são eminentemente políticas; lições que valorizem muito mais a dimensão humanística da educação do que a dimensão econômica de formação especializada para o mercado, como vem fazendo a Coréia do Sul, tão frequentemente mencionada, e como parece que está fazendo a China no seu projeto de expansão mundial.
São lições para a política, sim, na medida em que só através da política pode uma nação realizar um projeto de tal envergadura para a educação, destinando-lhe os recursos necessários com absoluta prioridade sobre todos os demais setores.
Desde há muito, desde o tempo do grande senador Teotônio Vilela, ouço falar na importância de o Brasil ter um Projeto de Desenvolvimento. Lembro-me que Teotônio escreveu um livro sobre o tema, em parceria com o também grande Raphael Magalhães. Tenho para mim que este Projeto, mais do que um livro ou um documento escrito e aprovado, é sobretudo uma linha política, uma diretriz política geral sancionada eleitoralmente, que só pode ser detalhada na prática da sua implementação. Hoje o mundo todo reclama pela formulação de um modelo econômico-social alternativo ao do falido neoliberalismo. Seria a responsabilidade principal dos partidos de esquerda, em substituição ao modelo socialista soviético, que também desmoronou.
Acho até que há uma expectativa, pelo menos na América do Sul, que a esquerda brasileira ofereça uma proposta neste sentido. Pessoalmente, quero me dedicar a este esforço, de maneira muito modesta, mas sem deixar de contribuir com algumas considerações e sugestões. E logo aproveito para dizer que, a meu juízo, o primeiro ponto a ser listado na composição de uma diretriz política desta natureza seria precisamente este compromisso absoluto com a educação, seguindo as linhas das lições referidas neste Correio.