Crise nos países ricos e ascensão do Brasil criam novo perfil de imigração
O Brasil está no radar de novos imigrantes em busca de oportunidades de emprego formal e qualificado. Depois da explosão da crise financeira em 2008 que gerou uma forte recessão na economia norte-americana e abalou os mercados da zona do Euro, o Brasil tem se destacado como uma economia emergente de estabilidade face a onda de desemprego e desaceleração em países do chamado primeiro mundo.
Depois de 2008, o Brasil passou a ser um país de atração não só de investimentos mas também de técnicos, especialistas, consultores, gerentes e empresários, sendo visto como uma “ilha de prosperidade” enquanto na Europa, o cenário de desemprego evidencia a dificuldade de recuperação econômica desses países.
“O Brasil está no radar dessas pessoas, a imigração formal com visto de trabalho e para estudos tem aumentado. Vivemos hoje num país que tem gerado pleno emprego, muitas oportunidades de trabalho num universo europeu com pessoas desempregadas”, explica o coordenador geral de imigração do Ministério do Trabalho, Paulo Sérgio de Almeida.
O número de estrangeiros regulares no país aumentou em 50% de dezembro de 2009 para julho de 2011 – de 961 mil para 1,46 milhão, segundo dados do Ministério da Justiça. Os vistos têm sido emitidos para realização de trabalhos temporários, estudos e pesquisa.
Os maiores aumentos absolutos de estrangeiros regulares no país são de nacionalidades como: portuguesa (de 276 mil para 328 mil, de 2009 para julho de 2011); espanhola (de 58 mil para 80 mil); boliviana (de 35 mil para 50 mil); chinesa (de 28 mil para 35 mil); e paraguaia (de 11 mil para 17 mil).
Vistos para trabalho temporário
Só no período entre janeiro e setembro de 2011, foram concedidas 51.353 autorizações de trabalho pela CGIg (Coordenação Geral de Imigração), do MTE (Ministério do Trabalho e Emprego), um aumento de 32,8% em relação ao mesmo período de 2010. A maioria das autorizações, 96% desse total, foram concedidas para estrangeiros com contrato de trabalho temporário no Brasil.
A título de comparação, em 2005, antes da explosão da crise financeira, foram 24.000 autorizações para estrangeiros. Já em 2010, foram 56 mil as autorizações de trabalho concedidas. Num período de cinco anos, o número de vistos de trabalho mais que dobrou.
Os dados de 2011 dão conta até o terceiro trimestre, quando já foi 30% superior ao mesmo período de 2010. O país deve fechar o ano de 2011 com cerca de 70.000 vistos de trabalho concedidos a estrangeiros, em sua maioria, a europeus, americanos e asiáticos – muitos dos quais chineses devido ao aumento da corrente de comércio entre Brasil e China.
Dos europeus, grande parte é proveniente do Reino Unido e de países nórdicos como Noruega, Holanda, e também Alemanha. Mas o ano de 2011 foi marcado pela vinda de profissionais espanhóis e portugueses, fugindo da crise que assola esses países aumentando o cenário de desemprego de muitos profissionais qualificados disponíveis nesses mercado.
Maior qualificação
Um fenômeno interessante tem chamado a atenção das autoridades de imigração: o nível de qualificação. Segundo Paulo de Almeida, que também preside o CNIg (Conselho Nacional de Imigração), dobrou o número de mestres e doutores que desembarcam no Brasil.
Em 2010, foram 476 mestres que entraram no país, esse volume foi mais do que quadruplicado em 2011. Até o terceiro trimestre do último ano, 1.954 mestres deram entrada no Brasil. Já o número de doutores subiu de 112, em 2010, para 153, até setembro de 2011.
As autorizações de trabalho a estrangeiros são em sua maioria de empresas que contratam profissionais estrangeiros, segundo Paulo de Almeida, que vem por conta de situações específicas como compra de equipamento do exterior como embarcações e plataformas da indústria do petróleo que são importadas e vem com tripulantes. “Mais de 90% são desses casos que nós autorizamos”, salientou.
Há também vagas de trabalho no mercado que não conseguem ser ocupadas por profissionais brasileiros e vem estrangeiros para suprir essa carência, “são vagas, em geral, para postos altamente qualificados”.
De acordo com Almeida, o maior crescimento entre profissionais com contrato de trabalho de até dois anos é reflexo do aumento de empresas de origem estrangeira que estão se instalando no Brasil. São empresas multinacionais que trazem inicialmente estrangeiros que detém técnicas e tecnologias, demonstrando também que esta mão-de-obra tem sido altamente qualificada.
Concorrência é grande
O sueco Christian N., de 30 anos, mesmo com qualificação na sua área em engenharia mecânica e administração de empresas, está em busca de emprego no Brasil desde junho de 2011, quando mudou-se com sua companheira brasileira para o Rio de Janeiro.
O jovem europeu que já morou em países como Alemanha e Espanha e trabalhou numa empresa multinacional americana em Luxemburgo e depois transferido para Holanda especializando-se em logística, não tem encontrado a vida tão fácil no Brasil.
Apesar de o mercado brasileiro estar aquecido com oportunidades para estrangeiros, muitos que buscam emprego aqui tem enfrentado dificuldades. Primeiro, a língua, e depois, a concorrência.
“Todo mundo falou que era um bom momento vir para o Brasil, mas aqui é difícil, tem sempre que ter contatos, conhecer alguém para conseguir fazer as entrevistas de trabalho. Tem vagas para se cadastrar, mas é difícil ter retorno (dos empregadores)”, contou Christian ao Opera Mundi que chegou ao país sem falar português, mas hoje já aprendeu a língua e tem um português fluente. O sueco diz que se sente preparado para o mercado brasileiro, apesar da grande competitividade.
O engenheiro conta que já imaginava que poderia levar até um ano para conseguir emprego e se posicionar no mercado. Mas é um pouco frustrante, admite. “O chato é que demora tanto”, disse.
Christian tinha um bom emprego como analista de distribuição na última empresa onde trabalhou na Holanda e recebia 3.700 mil euros, cerca de R$ 8.000. No Brasil, para ocupar esse mesmo posto, ele acha que o salário pode ser mais baixo,
Caso não consiga emprego no seu nível de qualificação, pretende partir para trabalhos que não sejam específicos da sua área ou com um nível menor. “Teria disposição para trabalhar por menos ou em outras áreas. Mas estou ainda tentando na minha”, disse.