Os quatro partidos de esquerda da base do governo (PT, PSB, PCdo B e PDT) promoveram no início da semana, através de suas Fundações, um seminário no Rio, de 9 da manhã a 9 da noite, para discutir a crise econômica mundial e suas conseqüências sobre o Brasil. Claro que foi extremamente interessante pela riqueza de informações e pela multiplicidade de visões, mas, no que concerne às conclusões, não se viram grandes divergências: a crise é realmente muito grave, de duração e desfecho imprevisíveis, com potenciais desdobramentos políticos importantes, sobre a democracia e sobre o próprio modelo de economia capitalista.

Com certeza atingirá o Brasil, que está bem preparado porém ainda necessitado de políticas públicas de defesa mais adequadas, seja no manejo das taxas de juros e de câmbio, seja na implementação de uma política industrial capaz de fortalecer este setor estratégico seriamente ameaçado. Estou fazendo o resumo do resumo, que assume, assim, uma aparência de completa obviedade. Sim, mas obviedade para esta corrente de opinião que os quatro partidos representam, corrente que está no poder desde 2003, e que tem de apresentar resultados políticos positivos para não ser derrotada no próximo pleito e abrir espaço para um retorno neoliberal que mudaria tudo.

O aspecto a meu ver mais importante do Seminário foi a sua natureza política: um grande encontro de quatro partidos, organizado pelas suas instâncias de pensamento, de cultura e de formulação política, com o fim de tirar diretrizes a serem encaminhadas para as direções e representações dessas agremiações que constituem hoje o núcleo do poder no País. Esta natureza do encontro fez com que, não obstante a maioria dos expositores fosse de economistas, o caráter das discussões assumisse contornos eminentemente políticos. O formato do encontro foi elaborado com este sentido e, a cada conjunto de exposições sobre os temas da crise e do Brasil, feitas por estudiosos e professores eminentes, seguiam-se comentários feitos por competentes representantes das direções e representações partidárias, como Rui Falcão, Renato Rabelo, Roberto Amaral, José Dirceu e os senadores Rodrigo Rollemberg e Inácio Arruda, entre outros. A interação resultou de grande proveito e interesse.

Esta é uma prática absolutamente necessária e encontros dessa natureza se devem realizar com uma freqüência pelo menos anual. Num momento histórico de crise como o que vivemos, seria importante ter uma freqüência semestral. Não só para o ajuste mais fino das diretrizes de políticas públicas de enfrentamento, como do melhor aproveitamento possível de eventuais oportunidades abertas por algum alquebramento do  sistema capitalista. Mesmo que não seja uma derrocada para ir diretamente ao socialismo, como alvitrou Roberto Amaral na sua intervenção, ensejos provavelmente surgirão para, por exemplo, um crescimento substancial da fatia socializada do sistema financeiro, uma reforma e um revigoramento da ONU, um avanço na democracia participativa em resposta ao endurecimento político do capital, ou mesmo uma redução importante no tempo da jornada de trabalho diante de um crescimento catastrófico do desemprego. Enfim, toda atenção é requerida, e toda capacidade de mobilização para respostas ágeis direcionadas para avanços democráticos e socialistas.

Duas atenções especiais devem ser rapidamente trabalhadas entre nós, a meu juízo, reforçado por tudo que escutei no Seminário: o cuidado com a integração sulamericana e com o espantoso crescimento da China.