Tivemos nesses últimos dias duas notícias altamente alvissareiras para o mundo, novas que acenderam faróis bem luminosos no horizonte: A primeira foi a apresentação oficial, na ONU, da proposta decriação do Estado Palestino; a segunda, o antes impensável movimento popular que cresce nos Estados Unidos, contra as especulações financeiras de “Wall Street”, responsáveis pela crise econômica que promete muitos desmoronamentos pelo mundo a fora.

Tivemos nesses últimos dias duas notícias altamente alvissareiras para o mundo, novas que acenderam faróis bem luminosos no horizonte: A primeira foi a apresentação oficial, na ONU, da proposta decriação do Estado Palestino; a segunda, o antes impensável movimento popular que cresce nos Estados Unidos, contra as especulações financeiras de “Wall Street”, responsáveis pela crise econômica que promete muitos desmoronamentos pelo mundo a fora.

Mahmoud Abbas, o líder da Autoridade Palestina, desta vez não aceitou o velho jogo de empurra feito de promessas e ameaças das grandes potências,  especialmente dos Estados Unidos, e forçou a barra, apresentou à ONU, oficialmente, o projeto de criação do Estado Palestino. Provavelmente vai ganhar no voto e vai perder no veto americano no Conselho de Segurança, e, assim, o Estado Palestino não será criado imediatamente, mas o gesto decidido de Abbas criou uma nova e enorme pressão mundial para a retomada acelerada das velhas negociações de paz e reconhecimento dos dois Estados. O isolamento de Israel se  aprofunda e se torna temerário, na medida em que seu aliado maior e decisivo também se vai isolando num unilateralismo insustentável. Ainda que vetada de modo chocante no seu direito pleno, a Palestina doravante estará na ONU, mesmo com status de observador, como o Vaticano. E a ONU foi criada para resolver os conflitos internacionais pela negociação, sem guerra, ainda que o Premier israelense queira depreciá-la, afirmando que nada se resolve na ONU mas por entendimentos diretos entre os países.

Vale aqui um registro especial de aplauso à Presidente Dilma, a primeira mulher a abrir uma sessão da ONU desde a sua criação, pelas posições que tomou, pelo discurso impecável naquela tribuna, que honra as melhores tradições do Brasil em política internacional.

Passando à outra notícia, quem quiser pode acreditar, e eu sou dos que acreditam, que o mundo está mudando e que toda a movimentação do Fórum Mundial Social, a partir de Porto Alegre, partir do Brasil, a partir do PT, afirmando que outro mundo é possível, está mostrando que vale alguma coisa. Um dos lemas do “Ocupemos Wall Street” é “ A revolução começa em casa”.

Algo muito importante e transformador está efetivamente acontecendo nos Estados Unidos, e talvez seja esta a razão da Miriam Leitão (quem diria!) ter escrito dias atrás que o capitalismo pode estar acabando. Não creio que esteja acabando mas creio, sim, que está mudando profundamente, assumindo outro paradigma, em que o Estado, e a Política, vão passar a interferir, quem sabe mesmo comandar o Mercado. A partir da estatização do sistema financeiro! Por delinqüência e deliqüescência. O primeiro sinal claro da mudança foi a eleição de Barack Obama: um negro, filho de muçulmano africano, nascido no Avaí, com um mandato s[ó de senador, que afrontava o poder estabelecido afirmando “sim, nós podemos”, querendo dizer podemos mudar o país e o mundo; era realmente muita coisa contra, era muita improbabilidade, foi uma eleição espantosa, que evidentemente estava anunciando alguma coisa nova.

Tanto estava que, mesmo sem Obama avançar quase nada na linha da sua campanha, nada além de falar na tributação dos ricos e propor uma mudança no sistema de saúde para garantir a assistência dos pobres, mesmo assim suscitou uma reação raivosa da direita, verdadeiramente histérica, também espantosa pelo despautério, constituindo o segundo sintoma sério de alguma mudança profunda em perspectiva. Depois veio o terceiro sintoma: o episódio da dívida pública incontrolável que resultou num rebaixamento inacreditável da confiabilidade dos títulos americanos. E finalmente, surge o quarto sintoma, o mais forte a meu juízo, um movimento desorganizado de americanos inconformados com a pobreza a que estão relegados, em contraste com a fabulosa riqueza dos magnatas de Wall Street, movimento inicialmente ridicularizado pela mídia, mas que vai num crescendo inesperado e atinge agora quase todo o território da grande potência, a exigir um fim da especulação que só favorece o grande capital em detrimento do povo, quase dizendo que Marx não estava errado.

Bem, a revolução começa em casa, sim, eu também acho, mas já está espalhada pelo mundo, pelo menos na Europa ocidental e nos países árabes, chegando até aqui, na América do Sul, no país que até pouco era exemplo bem sucedido de neoliberalismo, o querido Chile.

A onda demolidora, tudo indica, vai ser bem mais forte do que a de 2007, e com certeza nos atingirá com intensidade maior do que a da marola do Lula. O que vale é que Lula foi previdente, acumulou reserva grandes e escolheu a melhor sucessora que, com tranqüila sabedoria, vai ganhando a adesão dos brasileiros em geral. A redução da taxa de juros e o controle da entrada de capitais foram dois tiros na mosca, a mostrar que, finalmente, o Banco Central está agindo a serviço do Brasil e não do mercado financeiro.

Belas notícias.

*Roberto Saturnino Braga é ex-senador pelo PT/RJ, integra o Conselho Curador da Fundação Perseu Abramo.  É autor de O Curso das Ideias: A história do pensamento político no Brasil e no Mundo, publicado pela Editora Fundação Perseu Abramo.