A grande imprensa vem dedicando grande espaço para falar do 11 de setembro de 2001, quando ocorreu o ataque contra as torres do World Trade Center, em Nova Iorque. 

 
Nós da esquerda devemos analisar aqueles fatos e suas repercussões.
 

A grande imprensa vem dedicando grande espaço para falar do 11 de setembro de 2001, quando ocorreu o ataque contra as torres do World Trade Center, em Nova Iorque. 

 
Nós da esquerda devemos analisar aqueles fatos e suas repercussões.
 
Mas devemos, também, analisar o 11 de setembro de 1973, quando um golpe militar derrubou o governo da Unidade Popular chilena.
 
Hoje, em diferentes países da América Latina, as forças de esquerda enfrentam dilemas estratégicos parecidos com aqueles enfrentados pela “via chilena para o socialismo”.
 
Por exemplo:
 
1. Os Estados Unidos (e seus aliados) continuam se opondo a governos que busquem democracia, bem-estar social, soberania nacional e integração da região. E não têm compromisso efetivo com a legalidade institucional e eleitoral, nem tampouco com a soberania e autodeterminação dos povos;
 
2. A grande burguesia segue alérgica a pagar os “custos sociais” de uma elevação constante na qualidade de vida do povo. E, por isto mesmo, está sempre disposta a financiar e participar de movimentos oposicionistas, desestabilizadores e golpistas;
 
3. As camadas médias seguem tratadas como massa de manobra, ideológica, social, política e eleitoral, dos setores conservadores. Os que têm algo a perder, mesmo que seja relativamente pouco, são mobilizados contra os que têm menos ainda, em defesa dos que têm muito mais do que necessitam;
 
4. As forças armadas e a alta burocracia estatal não são neutras. Sua origem social, seu processo de seleção, treinamento e funcionamento resultam num comportamento geneticamente conservador;
 
5. Na política, a indústria de cultura e comunicação equivale ao papel da indústria de armamentos para a guerra. O controle das televisões, rádios, jornais, revistas, editoras de livros, provedores e sítios eletrônicos ajuda na mobilização de hoje e forja as mentes de amanhã;
 
6. Não adianta pintar-se de ouro. Mesmo que a esquerda abra mão, na teoria e na prática, do socialismo e da revolução, ainda assim a direita vai enxergar intenções comunistas por trás de cada política compensatória. E agirá conforme esta visão;
 
7. A Europa demonstrou que não é possível a coexistência de longo prazo entre capitalismo, bem-estar social, democracia e paz. Na América Latina, os limites da social-democracia e do reformismo são ainda maiores;
 
8. É decisivo não confundir estratégia com tática, assim como medir a correlação de forças faz toda a diferença. Mas correlação de forças não é pretexto para a imobilidade. Correlação se altera. E se não a alteramos em nosso favor, eles a alteram em favor deles.
 
A “via chilena” não desembocou no socialismo. E, até hoje pelo menos, não conseguimos construir uma “via eleitoral” para sair do capitalismo.
 
Por outro lado, a combinação entre luta ideológica, mobilização social, auto-organização das classes trabalhadoras e disputa eleitoral produziu uma situação política inédita na América Latina e em muitos dos países da região.
 
E isto está ocorrendo numa situação internacional também inédita: ampla hegemonia das relações capitalistas e, por isto mesmo, uma brutal crise do capitalismo neoliberal. 
 
Nessas condições, a América Latina pode ser não apenas território de resistência ou de um capitalismo não-neoliberal. Pode ser, também, espaço de construção de uma alternativa ao capitalismo. 
 
Motivos de sobra para estudar e aprender com a experiência da Unidade Popular chilena.

 

Valter Pomar é membro do Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores.