Mudança estatutária vai estabelecer novo marco no PT, diz Berzoini
Para o deputado Ricardo Berzoini (PT-SP), ex-presidente nacional do PT e coordenador da comissão que elaborou o anteprojeto de reforma estatutária, a finalidade do debate é aprofundar a democracia interna e estimular a participação da militância. Leia, abaixo, a íntegra da entrevista.
Informes – O texto da reforma estatutária apresenta propostas de alterações em relação a eleições internas, finanças, filiações, eleições gerais, ética e disciplina, entre outros. O senhor acredita que essas propostas podem trazer mudanças estruturais na vida do Partido dos Trabalhadores?
Berzoini – Creio que sim. É um novo marco. O estatuto reflete uma concepção partidária e um pacto interno de funcionamento democrático. Um dos objetivos de qualquer partido de esquerda é ter um partido vivo com participação dos seus filiados. A finalidade dessa discussão é estimular a participação, a construção partidária e fazer com que o PT seja um partido que possa sempre representar uma coletividade mobilizada e politizada.
Algumas dessas propostas podem tencionar o debate?
O debate do estatuto é um debate forte. Esse debate reflete a concepção e a prática partidária. Não tem um clima de disputa acirrada no PT. Por ser um tema forte, às vezes, as pessoas têm opiniões distintas sobre determinados assuntos.
Por exemplo?
Há uma discussão sobre a sustentação financeira do partido. Essa proposta define quem deve contribuir, de que forma e como essa contribuição deve ser apreciada para fins de direito de votar e ser votado. Para esse tema, as propostas vão desde a isenção para filiado comum e contribuição financeira para os detentores de responsabilidades executivas ou legislativas do partido, até proposta que prevê uma contribuição semestral.
E em relação às prévias? A mídia quis pautar a sociedade e o partido dizendo que havia uma divisão dentro do PT sobre essa questão. Como a comissão conduziu essa discussão?
É um debate presente e não acho que a mídia tenha inventado. É óbvio que a ótica da mídia é sempre no sentido de dizer que o PT está rachando. É um viés simplificador que empobrece os meios de comunicação, mas é um direito deles. Eu acho que a discussão sobre prévias reflete visões diferenciadas sobre democracia.
Em que consistem essas diferenças?
Existem aqueles que entendem que prévia deve ser um instrumento de debate público e disputa interna e acreditam que isso ajuda a democracia. Outros entendem que a prévia deve ser um processo para ser realizada somente após um amplo debate interno sobre a conveniência de se fazer uma eleição interna, de candidatura, antes de uma eleição geral.
Como as diferenças expressas nesses temas serão resolvidas?
Acredito que as posições estão sendo defendidas com autenticidade pelos seus proponentes. São visões diferentes, legítimas e sinceras de todos que estão debatendo. Obviamente que, no processo de embate, vamos ter deliberações com muita reflexão e debate interno. O importante é que todos saibam, na hora de deliberar, qual é o melhor caminho para o partido.