A Fundação Perseu Abramo lamenta a morte de Helena Greco, hoje, 27/7, aos 95 anos. Incansável  militante dos direitos humanos e uma das fundadoras do PT em Minas Gerais,  Helena Greco se tornaria conhecida por sua luta pela anistia de presos políticos da ditadura militar. Foi fundadora do PT em Minas e vereadora pelo partido em dois mandatos.

A Fundação Perseu Abramo lamenta a morte de Helena Greco, hoje, 27/7, aos 95 anos. Incansável  militante dos direitos humanos e uma das fundadoras do PT em Minas Gerais,  Helena Greco se tornaria conhecida por sua luta pela anistia de presos políticos da ditadura militar. Foi fundadora do PT em Minas e vereadora pelo partido em dois mandatos.

No depoimento de Helena Greco à Fundação Perseu Abramo por ocasião dos 20 anos da Anistia, a fundadora do  Movimento Feminino Pela Anistia de Minas Gerais e membro do Conselho Brasileiro de Anistia de Minas Gerais, fala sobre o importante papel das mulheres na luta pela anistia. Além do caráter feminino – integrado por  mães, filhas, irmãs de presos e desaparecidos políticos -, ela ressaltou o caráter feminista do movimento, que tinha entre suas bandeiras a luta contra a discriminação e opressão de gênero. Helena Greco também fala sobre a necessidade de manter as bandeiras pela anistia porque a lei aprovada em 1979 “foi parcial para os opositores do regime e ampla, geral e irrestrita para os torturadores e membros da repressão, antes mesmo de qualquer julgamento. Todas as bandeiras do movimento pela anistia continuam valendo”.  Leia o depoimento completo de Helena Greco na página especial “20 Anos: Anistia não é esquecimento

Em entrevista a Valter Pomar para a revista Teoria e Debate (nº 27 – dez1994/jan/fev1995), Helena Greco falou sobre política, feminismo, família, mineiridade, emancipação e outros temas. Leia abaixo o que pensava Helena Greco sobre a responsabilização do Estado em relação aos crimes cometidos pelo regime militar. Para conhecer a íntegra, clique aqui.

Valter Pomar – A idéia de vocês é reivindicar a abertura de todas as informações e que a União assuma a responsabilidade, é isso?
Helena Greco – No Chile já houve o reconhecimento da tortura e nós queremos que aconteça o mesmo aqui. Que o Estado brasileiro assuma a responsabilidade plena e total pela prisão, tortura, morte e desaparecimento de pessoas. Queremos a imediata criação de uma Comissão Especial de Investigação e a reparação desses atos pelo Ministério Público, Legislativo, e com o apoio da OAB e de outras instituições. Que os familiares e amigos dos mortos e desaparecidos e os grupos Tortura Nunca Mais possam ter poderes plenos para investigar, colocar testemunhas, requisitar arquivos e exumar cadáveres, com o objetivo de esclarecer cada um dos casos. A reparação é o começo de uma mobilização para que não sejam indicados para cargos de confiança pessoas que tenha participado do governo militar e da tortura.

Valter Pomar – Vocês não acham que isso pode ser entendido pelos quartéis como revanchismo, como “troco”?
Helena Greco – Muitas vezes acham sim, mas agora já estão compreendendo que nós não estamos brincando. Não tem revanche coisa nenhuma, o que queremos é justiça. E por essa justiça vamos combater até as últimas conseqüências. Isso sempre dá um mal-estar no pessoal fardado. Inclusive é muito importante a desmilitarização das polícias militares estaduais e sua desvinculação do Exército. Trabalhamos para que seja aplicada a lei incriminadora, assegurando o cumprimento do artigo 5, parágrafo 3, da Constituição Federal, que proíbe torturas e tratamento degradante a qualquer cidadão. Na época da Constituinte mandamos milhares de assinaturas para aprovação desta lei. Nosso movimento queria que a tortura fosse considerada crime contra a humanidade e “inanistiável”, mas não conseguimos, porque a turma da pesada, com um lobby muito grande introduziu essa lei geral de crimes hediondos e um monte de modificações, que não satisfaz para a questão específica da tortura. Um torturador é uma pessoa que não dá para viver. Não é mesmo? É importante também o desmantelamento de todos os órgãos de repressão política, que ainda existem. Li há pouco tempo na Folha de S. Paulo uma carta de um militar dizendo que os sem-terra estão querendo implantar aqui uma república marxista-leninista e que eles recebem dinheiro do exterior. Isso causa uma grande preocupação, embora os militares não tenham agora a força que tinham, porque inclusive não estão muito unidos entre si. A gente deve prestar muita atenção nisso, sabe? Não podemos fazer nada que favoreça a direita. Vamos lutar para sermos bons cidadãos e conseguir o governo certo, as pessoas certas nos lugares certos. A mensagem que eu daria é essa, que eu estou muito preocupada com isso.