Carta de Repúdio: A insegurança pública em SC para os negros, do NEN – Núcleo de Estudos Negros
Nós do NEN- Núcleo de Estudos Negros, entidade do movimento negro de Santa Catarina, vimos por meio desta manifestar nosso repúdio em relação à agressão policial ocorrida contra o ator mineiro Alexandre de Sena que participava do Festival Internacional de Teatro Universitário de Blumenau (Fitub). O ato de violência contra o jovem ator vem compor, com outros já praticados no estado, um cenário de permanente tensão, especialmente para negros catarinenses e visitantes! A gravidade de tal ato assume proporções imensuráveis, pois partiu daqueles que institucionalmente tem o dever de garantir o direito de (circulação nos espaços públicos de) todos os cidadãos.
Somos aproximadamente 800 mil negros e negras distribuídos pelos 293 municípios e participando ativamente da produção agrícola, industrial, cultural e comercial do estado, o que faz de Santa Catarina um estado pluriétnico, multicultural e com uma diversidade social inegável. Mas, essa compreensão é todo o tempo contestada pela apologia europeia na construção do estado catarinense, que pode ser constatada na página oficial do governo do estado, onde se encontra entre outros textos, o que segue: “Na segunda metade do século passado chegaram os alemães, espalhando-se pelo vale do Rio Itajaí, adentrando ao interior em busca de melhores terras e oportunidades. Com trabalho e determinação, construíram a pujante face industrial de Santa Catarina. Joinville, Blumenau, Brusque e Pomerode são cidades que preservam esta forte herança germânica na arquitetura, na culinária, no sotaque e através de concorridas festas populares, como a Oktoberfest”.
A leitura monocultural contribui com a invisibilidade dos trabalhadores negros e negras em território catarinense, bem como, com a expressão do racismo tal como ocorrido com Alexandre Sena e outros tantos homens e mulheres negros.
Temos diferenças regionais e desigualdades sociais. Recente matéria veiculada em jornal local indica que os municípios mais pobre do estado integram regiões com grande expressão de população cabocla. Quando de observa as denúncias de uso de mão de obra escrava, também se identifica regiões com a mesma população, o que só nos faz acreditar da orquestração racista que ainda vigora por aqui.
Com esse entendimento, e em memória do militante negro Vicente Francisco do Espírito Santo, demitido da Eletrosul por racismo em 1992 e falecido recentemente, o Núcleo de Estudos Negros – NEN vem solicitar publicamente que a Polícia Militar do Estado: – apure rigorosamente os fatos e tome as medidas cabíveis aos crimes de violência e de racismo; – implemente ações formativas em relações raciais obrigatórias para todos os policiais; e que a PM se retrate publicamente pela agressão realizada por profissionais de sua corporação.
Atenciosamente,
Coordenação Executiva do Núcleo de Estudos Negros – NEN
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