Integrante do PRD – Partido da Revolução Democrática do México, Xadeni Méndez Márquez, que é também bacharel em Estudos Latinoamericanos pela Universidade Nacional Autonoma do México (UNAM), trata nesta entrevista para o portal da FPA sobre a grave interferência do tráfico de drogas e  a ausência do Estado na crescente violência que ameaça o povo mexicano. Márquez participou do Foro de São Paulo, realizado na Nicarágua entre os dias 18 e 20 de maio.

Integrante do PRD – Partido da Revolução Democrática do México, Xadeni Méndez Márquez, que é também bacharel em Estudos Latinoamericanos pela Universidade Nacional Autonoma do México (UNAM), trata nesta entrevista para o portal da FPA sobre a grave interferência do tráfico de drogas e  a ausência do Estado na crescente violência que ameaça o povo mexicano. Márquez participou do Foro de São Paulo, realizado na Nicarágua entre os dias 18 e 20 de maio.

Portal FPA – Qual é o saldo atual da ação  dos traficantes de drogas?

Xadeni Méndez MárquezMais de 55 mil mortes só no que diz respeito à guerra contra o narcotráfico; milhões de pesos investidos numa luta que não tem fim nem resultados claros;  insegurança constante nas ruas do país; uma sociedade atemorizada e em pânico permanente, migração diária de centenas de habitantes e empresários, por medo da violência.

O governo mexicano diz que tem controle total sobre a situação. Até que ponto isso é verdade?

Não é absolutamente verdade. Há vários estados mexicanos onde o controle exercido pelo narcotráfico é absoluto, pode-se, ao contrário, falar de um desaparecimento dos poderes. A corrupção do sistema judicial no México foi, e continua, sendo elevada, com as consequências nefastas que isso acarreta quanto à expedição e aplicação da justiça. Estão documentados dezenas de casos de abuso de poder e violação de direitos humanos por parte inclusive dos órgãos militares, isso sem mencionar as forças policiais e as instâncias judiciais responsáveis pela aplicação da lei e que estão mancomunadas e/ou em conluio com a delinquência organizada.

Fala-se de um Plano Colômbia para o México. A ideia tem apoiadores no seu país? É o necessário para que o México e os mexicanos tenham paz de novo?

Um Plano Colômbia para o México sería altamente arriscado e questionável. Em primeiro lugar, constitucionalmente não cabe ao exército mexicano cumprir tarefas que são da polícia, o exército é dos quartéis, para onde deve voltar. A rejeição a "colombianizar" o México é majoritária na sociedade mexicana. Por tradição e experiências históricas  nada agradáveis, o México rejeita qualquer tipo de intervenção direta ou indireta dos Estados Unidos em seus assuntos internos, ainda que, nos últimos anos, a política da direita em nosso país tenha sido de um forte entreguismo.

Em abril, o poeta mexicano Javier Sicilia fez um chamamento para a mobilização nacional. "Ni un muerto más" levou milhões de mexicanos às ruas. O que aconteceu depois dessas manifestações? O povo esta se organizando para resistir ao narcotráfico?

A convocação da sociedade civil feita por Sicila continua latente. O povo, em vários setores, está farto de uma guerra improvisada na qual se fala em seu nome mas não se reconhece a seus mortos. A obstinação do sr. Calderón e sua birra têm provocado o repúdio de milhões. As pessoas nas ruas, as massas, não são as responsáveis diretas por garantir sua própria segurança e tranquilidade: essa é uma tarefa e um dever inquestionável que devem ser assumidos pelo Estado e suas instituições, coisa que tem faltado até hoje, e a presença do exército fora de suas funções é um bom exemplo.

Em alguns dias, o esforço de Sicilia e de milhões de mexicanos vai continuar quando for assinado em Tijuana um documento integral que abriga as demandas e ações propostas pela sociedade civil para barrar de uma vez por todas esta mal represada e incompleta guerra ao narcotráfico e começar já a buscar e implementar uma solução integral ao problema de violência e das drogas no México.

Em sua opinião, como o México pode sair dessa situação?

Com um enfoque integral do problema do narcotráfico e da delinquência em geral. Por um lado, atacando as verdadeiras causas e raízes do mesmo: pobreza social, falta de oportunidades, concentração da riqueza nas mãos de uns tantos potentados, má qualidade da educação, muitos fatores que foram decompondo o tecido social e os valores tradicionais da sociedade mexicana.

Por outro lado, não estamos falando de pactuar com a delinquência ou deixá-la agir. É preciso sim atacar a delinquência, mas para tal, também é necessária uma reforma integral – que não foi feita – do atual sistema judicial mexicano que, por outro lado, está falido. E, entre outras coisas, focar a luta contra o poder econômico real e sem tamanho do crime organizado e suas redes de corrupção e cumplicidade com as grandes fortunas empresariais e políticas que, além de notórias, também se sabe onde se encontram.