Valter Pomar, secretário-executivo do Foro de São Paulo e dirigente do PT, traça nesta breve entrevista para o Portal da FPA um panorama dos principais desafios enfrentados pelos partidos de esquerda na América Latina e, principalmente, faz uma avaliação da força desta esquerda, que se encontrou na 17a edição do Foro, realizado na Nicarágua entre os dias  18 e  20 deste mês.

Portal FPA – O Foro de São Paulo reuniu em Manágua 640 delegados de 48 países membros, vindos de 21 países, e representando partidos e movimentos sociais. Esse é o tamanho real do Foro? Existe outro Fórum que tenha as mesmas características que este?

Valter PomarO Foro muda de tamanho, a cada Encontro e a cada época. Precisamos ampliar a presença caribenha. E garantir a presença de alguns partidos e países. Agora, a grande qualidade do Foro é sua diversidade e força política: reunimos num mesmo espaço diferentes famílias ideológicas, com partidos que possuem grande representatividade em seus países, estando ou não nos respectivos governos.
 
Quais são os maiores problemas que hoje atingem todos ou a maioria dos países da América Latina e do Caribe e que requerem especial atenção dos integrantes do Foro?

A desigualdade social, que continua imensa, que vem sendo combatida onde somos governos e ampliada onde não somos governo. A ingerência externa e a falta de controle sobre as riquezas nacionais, que vem sendo superada onde somos governo e ampliada onde estamos na oposição. O sequestro da democracia pelos poderes econômicos, problema que temos enfrentado onde somos governo e onde somos oposição.

A esquerda governa inúmeros países na América Latina e no Caribe. Essa situação é completamente diferente daquela do início do Foro em 1990. Em que medida o Foro contribuiu para essa ascensão dos partidos e movimentos de esquerda?

A esquerda chegou ao governo de diversos países da região, por diversos motivos. O primeiro deles é o desgaste sofrido pelo neoliberalismo, ao longo de uma década ou mais de hegemonia sobre o continente. O segundo deles é a resistência das esquerdas políticas e sociais, que nos transformou em alternativa frente a camadas importantes do povo. O terceiro foi a capacidade de construir alianças políticas e sociais, que atraíram setores políticos e sociais que descolaram da hegemonia neoliberal. Nisto tudo, o Foro de São Paulo contribuiu, como espaço de encontro, resistência, construção de alternativas. 

O Foro manifestou apoio ao candidato Ollanta Hulama, no Peru e a Daniel Ortega na Nicarágua. Há outras eleições importantes na América Latina e Caribe no próximo período?

Há várias eleições em 2011, legislativas e municipais inclusive. Mas falando de eleições presidenciais, além do Peru e Nicarágua, há dois outros casos importantes: a Guatemala, onde os partidos do Foro se unificaram em torno da candidatura de Rigoberta Menchu; e a Argentina, onde há diferentes posições a respeito, embora a maioria dos partidos argentinos do Foro simpatize com a candidatura de Cristina Kirchner.

Além de apoiar o fortalecimento da ALBA (Alianza Bolivariana de los pueblos de America Latina y Caribe), e da Unasul (União de Nações Sul-americanas), o Foro de São Paulo também apóia a formação da CELAC (Comunidade de Estados Latino-americanos e caribenhos). Qual será o papel desta última para os povos da região?

O Foro apóia todas as iniciativas de integração. E as apóia mais, quanto mais amplas forem. Este é o caso da CELAC, que reunirá todos os países do continente, exceto Estados Unidos e Canadá. Acredito que estas duas ausências ajudam a entender a importância desta articulação.

O ex-presidente Lula, um dos fundadores do Foro, declarou sua intenção de voltar ao Foro e se colocou à disposição para visitar os países da América Latina e do Caribe. De que forma a presença e apoio de Lula pode colaborar para o fortalecimento dessa articulação dos partidos e movimentos sociais da região?

Participe ou não do cotidiano do Foro de São Paulo, Lula é uma referência para amplos setores da população latinoamericana e caribenha. Ele simboliza uma experiência de governo que, com suas limitações e problemas, melhorou a vida do povo no maior país da América Latina. Simboliza, também, a trajetória de um Partido dos Trabalhadores e de uma classe trabalhadora que conseguiu vencer três eleições presidenciais, contra uma direita poderosa como é a brasileira. Esta imagem, por si só, é um ponto de apoio importante para outras esquerdas. Agora, temos que lembrar que nosso país é muito diferente dos outros e, do mesmo jeito que não copiamos modelos, também não devemos esperar nem querer que copiem o nosso. Que aliás, como bem sabemos, tem lá seus defeitos.