O assassinato de Bin Laden e os jovens
Diz a imprensa internacional, ainda faltando dados mais consistentes, apesar do anúncio oficial do governo Barack Obama, que Osama Bin Laden foi assassinado neste domingo, 01 de maio.
Diz a imprensa internacional, ainda faltando dados mais consistentes, apesar do anúncio oficial do governo Barack Obama, que Osama Bin Laden foi assassinado neste domingo, 01 de maio.
Não entrarei no mérito dos procedimentos que levaram à morte de Osama Bin Laden e muito menos nas especulações sobre a veracidade ou não do anúncio, mas tão somente nos impactos e significados desse suposto assassinato para os jovens, especialmente os do mundo árabe e estadunidenses, neste caso, lados da mesma moeda geracional que influenciarão o mundo em médio prazo, porque serão os senhores de mudanças ou retrocessos na "América" e no mundo islâmico.
A primeira coisa, a saber, é que a ideologia em si mesma de uma "jihad global", impulsionada por Osama e a Al Qaeda tinha força variável a depender da região islamita. Nas nações em "primavera árabe", essa guerra santa transnacional já era uma força cambaleante. Em nenhum dos protestos legitimamente juvenis (porque na Líbia, é claro que não se trata disso), ineditamente, foi queimada ou maldita a bandeira dos EUA, porque a pobreza, falta de emprego, oportunidades, perspectivas, liberdade e novos pontos de vista culturais da juventude identificaram como inimigo os regimes autoritários e geralmente corruptos, aliados ocidentais ou em vias de se aliarem, mas sem ter isso como foco, pois a nova questão da atual geração em marcha só tem a ver como "céu" e "inferno" no sentido da realização pessoal. A essa geração, só o desfecho de suas revoluções poderá dizer algo sobre o significado do desaparecimento de Bin Laden, mas a priori tem pouca ou nenhuma consequência.
Todavia, o mesmo sobre essa parcela da juventude árabe não pode ser dito sobre a de todos os países, como Iraque, Afeganistão, Paquistão, Palestina, que vivem sob intervenção direta do Império e seu patrocínio díário de carnificina e onde a democracia formal, implantada por morteiros, sequer estava na consciência da juventude (poderia estar hoje, aliás) e onde é mais ou menos exercida, é desrespeitada e afrontada por EUA, UE e Israel, como na Faixa de Gaza e Cisjordânia. Nesses lugares, jovens morrem aos milhares todos os meses, vivendo com suas famílias em dramática pobreza e na mais completa falta de perspectiva, restando-lhes a ação extrema via engajamento nos grupos de resistência, muitos adeptos da "propaganda pela ação".
Para eles, desses países, a "guerra" na região continuará apesar da morte de Osama e, por outro lado, este era o líder de uma forma de pensar, não estava sozinho e seu assassinato vai torná-lo um mártir a inspirar uma nova geração de terroristas. Que ninguém se espante se Bin Laden se transformar, em pouco tempo, em popular estampa de camiseta de certa juventude do oriente.
O preocupante é a fundamentalização que se deu entre os jovens americanos, que saíram eufóricos em NY e defronte a Casa Branca para comemorar a morte de Bin Laden, pois as promessas de campanha que embalaram a "Geração Obama (‘O-Generation’, em inglês)", de emprego e facilidades para estudar, além de não cumpridas, foram trocadas por cadáveres anti-americanos, típico da Era Bush. Assim como antes jovens árabes aplaudiam e se engajavam na produção de cadáveres que simbolizavam os Estados Unidos e o Ocidente, a despeito de sua condição social e da responsabilidade dos regimes de seus países com ela.
Isso indica o não florescimento de uma geração crítica nos EUA, disposta a transformar certas coisas pelo não cumprimento das promessas de prosperidade e seu lançamento num período de menos direito e escassez oportunidades. Enquanto a vida material dos jovens árabes se manifesta politicamente em reivindicar constituição, governo eleito, separação de poderes, nos EUA restou à juventude cultuar o sangue e se embasbacar com um espetáculo estéril e emburrecedor típico dos filmes de aventura hollywoodianos.
Mas este é um nó entre os jovens americanos a que todos devem estar atentos: justamente os que estão há anos em missões no Afeganistão e Iraque, além de bases militares em países aliados, por causa da "guerra ao terror". O espírito das manifestações de jovens sindicalistas e outros atores em Wiscosin, dá esperança de que um movimento juvenil crítico possa pôr em cheque essa pirotecnica, exigindo agora, numa ação cuja capacidade de envolver a sociedade precisa ainda ser testada, a retirada das tropas estadunidenses das nações árabes ocupadas e a liberdade definitiva de tantos jovens, como revelou semana passada a Wikileaks, presos injustamente no Auschwitz guantanamero. Talvez uma chance de salvar parte da atual geração de jovens americanos para uma reflexão mais crítica sobre seu país, seu planeta e suas vidas, com impacto direto nos rumos da governança global.
*Leopoldo Vieira, foi assessor de Juventude da Casa Civil do Governo do Pará e é consultor para o desenvolvimento de políticas públicas e legislação de juventude, editor do blog Juventude em Pauta! e autor de "Juventude: Novas Bandeiras".