A mesa 1 – Violência – Dupla Jornada e vvDiscriminação no mercado de Trabalho foi coordenada pela gerente adjunta do GEDES SESC São Paulo Andreia Nogueira, com as intervenções de Regina Pedroso (professora de sociologia e antropologia jurídica da Universidade Mackenzie); Tatau Godinho (doutora em Ciências Sociais pela PUC-SP e integrante do Fórum de Mulheres Políticas do Cone Sul) e Denise Novais (doutora em Direito pela Faculdade de Direito da USP).

 

Cultura da violência – Regina Pedroso abordou a importância desta percepção da violência pelas vítimas, como práticas interiorizadas e cotidianas. Segundo ela, ao longo da história, as mulheres sempre são associadas à aspectos negativos (fracas, volúveis, incapazes) e foram construídos espaços dentro das esferas pública e privada para mantê-las submissas. Essa mentalidade continua presente na sociedade brasileira, no machismo que permeia as relações entre homens e mulheres, e fundamenta, as ações violentas dentro das famílias. “Há cultura da violência que faz parte da nossa sociedade e é reproduzida”, destaca a professora.

Outro dado relevante sobre esta percepção da violência, na avaliação de Regina, foi o conhecimento da lei da Maria da Penha pelas entrevistadas. Ao contextualizar essa lei que dá forma e pune a violência contra as mulheres por seus parceiros, a professora mostra que as vítimas começam a tomar consciência de sua situação degradante. “Foi lançada uma semente, a mulher se torna pouco mais sabedora dos seus direitos, pelo conhecimento de uma lei que incide não só na violência física, mas também na violência psíquica.”

Ainda que haja esse avanço, Regina aponta outro dado que evidencia a fragilidade das mulheres diante da violência: a denúncia. De acordo com a pesquisa, 58% não pedem ajuda a alguém e o número aumenta quando se trata do estupro, 74% das mulheres não denunciam o crime. Para Regina o quadro mostra que a repressão sexual leva as vítimas a se esconderem, principalmente da polícia. “Existe um certo conflito da mulher como vitima atendida por policiais homens.”


Trabalho dentro e fora de casa – Tatau Godinho, que acompanhou o processo de elaboração da pesquisa, fez uma análise da forma como o trabalho remunerado ou não é visto pelas entrevistadas, na última década. Trabalhar fora de casa já não é visto como uma coisa boa por parte das mulheres entrevistadas em 2010, em contraponto ao dado positivo da independência financeira que o trabalho traz, muito presente em 2001. No entendimento de Tatau, principalmente para as mulheres de baixa renda, essa percepção negativa do trabalho fora de casa pode ter uma correlação se o ambiente da casa é mais igualitário do que o ambiente de trabalho. “As mulheres com menor renda identificam o trabalho doméstico e família como funções positivas, o que nos leva a pensar no tipo de trabalho fazem fora, por exemplo, trabalho doméstico para outras pessoas”, pondera.

Dentro do ambiente doméstico, a carga de trabalho sob a responsabilidade da mulher é notório na pesquisa. “As percepções sobre o trabalho doméstico, dado mais angustiante, porque mexe na diferença entre homens e mulheres”, destaca Tatau. Ainda que a maioria dos/as entrevistados/a concordem que o trabalho doméstico deve ser dividido entre mulheres e homens, a carga recai sobre elas, quando se compara à quantidade de horas usadas nestas tarefas, que aumenta significativamente quando envolve cuidados com crianças. “Quando tem filhos os homens percebem o trabalho das mulheres e as mulheres não percebem isso (o cuidado com as crianças) como trabalho.”

A satisfação das mulheres com o uso do tempo livre, apontado na pesquisa, apresenta uma questão: que tempo livre é esse? Tatau destaca que essa satisfação é mais expressiva entre as idosas comparativamente às jovens, talvez porque para o primeiro grupo haja menos obrigações com família e a casa, que permite mais liberdade de ação. Por outro lado, ao descrever como usam seu tempo livre, as mulheres idosas elencam visitas aos parentes, ir à igreja e ver televisão.

 

Imagem e discriminação – A primeira mesa foi encerrada pela exposição de Denise Novais sobre os conceitos jurídicos da discriminação de gênero no mercado de trabalho. Segundo Denise, a divisão sexual do trabalho, que define um código de conduta para homens e para mulheres em todas as etapas das atividades econômicas é artificial e deve ser questionada pela sociedade, ainda que haja um discurso de condições igualitárias entre os gêneros.