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Havia se tornado rotina assistir aos belos pronunciamentos dos próceres do PSDB. São muito bem elaborados, em geral. Isso porque, quase sempre, tem em comum entre si o fato de desdizerem completamente aquilo que foi a prática horrorosa deste partido ao longo dos oito anos de triste memória em que Fernando Henrique Cardoso foi presidente do Brasil.

Houve várias ocasiões em que Lula foi posto diante do que seriam contradições entre as ações de seu governo e os discursos radicais outrora proferidos pelo Partido dos Trabalhadores. Isso foi repetido de forma tão exaustiva que virou consenso entre a mídia prevalente que o governo Lula nada mais seria do que a continuação da era FHC. A diferença seria tão somente a sorte do petista, que teria governado em um contexto internacional de uma economia mais favorável. Como se de fato a crise econômica mundial fosse uma “marolinha” – vejam que assim sendo, eles aceitaram a tese de Lula!

O que víamos até agora era a contradição entre o discurso atual do PSDB e seu passado enquanto governo. No governo foram horríveis, mas no discurso eles são bons. No papel, afinal de contas, este partido é social-democrata. Logo é programaticamente preocupado com a questão social. Um surto de humanismo tomou conta do PSDB quando de sua saída do governo, em descompasso com sua Realpolitik de submissão incondicional ao que seria o Renascimento de fins do séc. XX, a Globalização Neoliberal, sustentada por uma poderosíssima campanha publicitária internacional. Eles esqueceram – ou quiseram nos fazer esquecer – da submissão de seu governo ao FMI. Quem governava o Brasil eram as metas impostas para que pudéssemos pagar o que devíamos. Traduzindo para o nosso dia-a-dia, adeus política social na Era FHC. Bem-estar social foi um luxo suprimido até mesmo da classe-média.

Essa contradição entre prática e discurso era o que podíamos assistir até agora. Mas há uma tênue névoa de mudança no ar. Aparentemente, estamos diante de uma nova fase discursiva do PSDB, diante do momento em que eles parecem sair do casulo e assumir aquilo que eles verdadeiramente sempre foram.

Recentemente, FHC se manifestou no sentido de que o PSDB deve esquecer os pobres, viciados nas políticas sociais do PT, e partir para a conquista eleitoral da classe-média. Classe-média que ele, aliás, tanto espezinhou quando de sua estadia no Palácio da Alvorada. Quem não lembra do arrocho salarial, da desvalorização do funcionalismo público, das privatizações selvagens? Só o PSDB não lembra e insiste em querer fazer o Brasil esquecer.

O aumento da classe-média é uma realidade proporcionada pelas políticas do governo Lula. Como disse FHC em uma entrevista ano passado, o país sempre se preocupou muito em produzir riqueza, mas sempre produziu pouco bem-estar. Finalmente tivemos um governo que se preocupou em produzir algum bem-estar: estão aí os números demonstrando o crescimento da classe-média. Com Fernando Henrique, nem riqueza nem bem-estar.

É irônico que FHC entenda que deve buscar votos nas fileiras beneficiadas pelas políticas do Partido dos Trabalhadores. Aparentemente não tem sentido. Mas vejamos.

Ele demonstra pouco apreço pela capacidade reflexiva do pobre, incapaz, segundo ele, de ver além da própria barriga. Ao mesmo tempo aposta no medo da classe-média de perder as suas conquistas. Tradicionalmente o discurso do PSDB é o do medo (vide Regina Duarte em 2002). FHC acredita que a chave para a retomada de poder está no confronto, na exploração do preconceito. A cartada final para ele seria o uso do conflito. A eleição passada foi uma amostra disso.

Ainda é freqüente que se vejam manifestações de paulistanos contra os nordestinos. A mídia prevalente exibiu, orgulhosamente, gráficos com o norte do país “Vermelho-Dilma” e o sul “Azul-Serra”. É a teoria do racha. FHC, como grande cientista social, afinal de contas, é dado a criar teorias. O PSDB tenta uma nova estratégia, a de dizer a verdade. Maquiar a verdade é bonito, mas tem sido pouco efetivo eleitoralmente. O partido albergue do elitismo finalmente se assume elitista. A nova aposta é o racha entre pobres e os de classe-média acima na pirâmide social. No fundo no fundo, é o mesmo de sempre: o PSDB aposta no medo.

A classe-média cresceu. Veio de algum lugar. Muitos cidadãos classe-média de hoje eram pobres ontem. Se eram pobres, aos olhos de FHC, tem uma capacidade de análise de segunda categoria. Podem cair na sua lábia, não entender que fazem parte da mudança proporcionada pelo Partido dos Trabalhadores, e aceitar o chamado para o conflito. Podem ter medo de não poderem mais contratar o porteiro do seu condomínio, a empregada doméstica para cuidar de sua casa e de suas crianças, de não ter mais condições de andar de carro próprio – confortos que adquiriram recentemente. Outras “Regina Duarte” virão, com certeza, concretas ou metafóricas. Estejamos certos disso.

A filosofia por trás da mudança é a da Direita Política. O discurso ficou feio porque sempre evoca o medo, o ódio e a intransigência. Adeus social-democracia. Nem no discurso os tucanos são mais social-democratas. Seria o fim dos belos pronunciamentos?


*Lucas C. Vaz Costa, bacharel em Direito pela Universidade Federal do Ceará.