Ser mulher hoje X ontem, ser mulher X ser homem

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Entre as brasileiras, a avaliação de que “a situação das mulheres” está melhor, “em comparação com a vida uns 20 ou 30 anos atrás”, subiu de 65% para 74% entre 2001 e 2010.

Os homens (2010) dividem-se entre os que acham que “a relação entre homens e mulheres hoje” está melhor (41%) e os que acham que está pior (41%), “em comparação com uns 20 ou 30 anos atrás”.

Aumentou de 58% para 68% o contingente de brasileiras que avaliam que “tem mais coisas boas” que coisas ruins “em ser mulher”.

Também 68% dos homens consideram que “tem mais coisas boas” que coisas ruins “em ser homem, e não ser mulher”.

Cerca de duas em cada três mulheres (63%) elencam espontaneamente razões referidas ao mundo público para definir “como é ser mulher hoje”, com destaque para maior liberdade e independência e para conquistas no mercado de trabalho; mas quase metade refere-se (também) aos papéis tradicionais de mãe-esposa e seus encargos (43%).

Entre “as melhores coisas de ser mulher” destacam a capacidade ou a possibilidade de concepção (50%) e atributos socialmente construídos, considerando-se mais batalhadoras e guerreiras (23%) para enfrentarem as adversidades da discriminação de gênero.

"As piores coisas de ser mulher”, também citadas espontaneamente, dividem-se entre o espaço público – com destaque para a subordinação aos homens, decorrente do machismo (19%) e para as desigualdades de gênero no mercado de trabalho (16%) – e o espaço privado, com destaque para a violência de gênero (14%), a falta de reconhecimento ou de apoio para a criação dos filhos (12%) e decorrências biológicas da condição feminina, como menstruar e ter cólicas (12%).

Entre as primeiras coisas que fariam “para que a vida de todas as mulheres melhorasse” ressaltam o combate às discriminações no mercado de trabalho (28%) e à violência de gênero (15%).

Tanto mulheres como homens apontam o espaço público como locus das “principais diferenças entre homens e mulheres nos dias de hoje”, ressaltando as desigualdades no mercado de trabalho (de oportunidades e salariais) e o machismo socialmente disseminado. Apenas uma em cada cinco mulheres (20%) e cerca de um em cada quatro homens (27%) não vêem diferenças entre mulheres e homens.

No comparativo entre 2001 e 2010, as referências ao mercado de trabalho diminuíram nas respostas espontâneas a “como é ser mulher hoje”, mas subiram nas respostas às “melhores coisas de ser mulher”, sugerindo uma assimilação ou ‘naturalização’ da inserção da mulher na população economicamente ativa.

Com o aumento de referências ao espaço público entre “as melhores coisas de ser mulher”, a taxa agregada de respostas a essa questão aproximou-se à das referências à vida privada (respectivamente 52% e 62%), em contraste com a predominância das referências à vida privada sobre as da vida pública, observada dez anos atrás (respectivamente 31% e 65%).

Entre “as piores coisas de ser mulher” não houve alterações significativas, predominando em 2010, como em 2001, as referências à vida privada sobre as referências à vida pública (antes 61% a 33%, agora 55% a 32%). Para 11% das mulheres não há nada pior em ser mulher (antes 7%).

Entre “as melhores coisas de ser homem”, os brasileiros destacam hoje atributos masculinos, sobretudo biológicos (37%), como não engravidar, não parir, não menstruar; ter maior liberdade e independência que as mulheres (33%) e mais oportunidades no mercado de trabalho (31%).

Entre “as piores coisas de ser homem” destacam o peso do papel tradicional de gênero, de ser provedor ou cobrado por tal (26%). Mas para 37% não há nada pior em ser homem, em vez de mulher.

Machismo e feminismo

Para 90% dos homens e 94% das mulheres hoje (89% em 2001), há machismo no Brasil – para 58% e 67% (antes 73%), respectivamente, há muito.

Apenas 22% dos homens, no entanto, consideram-se machistas (4% muito).

De 2001 a 2010 aumentou de 21% para 31% o contingente de brasileiras que se considera feminista (depois de reclassificadas as respostas das que se disseram feministas mas claramente confundiam feminista com feminina – 13% em 2001 e 9% em 2010). Disseram não saber se são ou não feministas 18% (25% em 2001).

Considerando-se ou não feministas, metade das mulheres tem visão positiva do feminismo, identificando-o com a luta por igualdade de direitos em geral (27%), por liberdade e independência das mulheres (26%) e por direitos iguais no mercado de trabalho (7%).

Apenas uma em cada cinco (20%) tem visão negativa do feminismo. As que confundem ser feminista com estereótipos femininos (“é ser dona de casa/ viver pra família, pro marido/ preocupar-se muito com a aparência/ ser doce, delicada”) somam 15% e quase uma em cada quatro não soube definir feminismo (23%).

  • Concordam em algum grau (totalmente + em parte):
  • que “nas decisões importantes, é justo que na casa o homem tenha a última palavra”, 43% dos homens contra apenas 23% das mulheres hoje (30% em 2001);
  • o que “em um casal é importante que o homem tenha mais experiência sexual que a mulher”, 36% dos homens contra 24% das mulheres (38% em 2001);
  • o que “a mulher casada deve satisfazer sexualmente o marido mesmo quando não tem vontade”, 17% dos homens e 15% das mulheres (24% em 2001);
  • o que “se a mulher trair o homem é justo que ele bate nela”, 11% dos homens contra apenas 4% das mulheres (11% em 2001).