Fórum Social Mundial exalta parceria entre Brasil e África
Sob o forte sol de Dacar, no Senegal, cerca de 60 pessoas se reuniram na Place Du Souvenir, nesta terça-feira (8), para o debate “Brasil-África, balanços e desafios”, com o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, o senador Inácio Arruda (PCdoB-CE) e o professor senegalês Bernard Founou. A atividade foi promovida pelas fundações Maurício Grabois (PCdoB) e Perseu Abramo (PT), como parte do 11º Fórum Social Mundial.
Gilberto Carvalho — que representou o governo Dilma — decretou a falência do velho modelo de apoio antes destinado à África. Todo o financiamento internacional era centralizado em uma pequena elite, servindo, portanto, apenas para o aumento da grave desigualdade social do continente. Agora, o apoio de países como China e Brasil fortalece o desenvolvimento tecnológico sustentado pela valorização da rica diversidade étnica e cultural do continente.
Para Carvalho, é importante que eventos como o FSM ocorram em solo africano. Segundo ele, se os laços políticos entre os governos são importantes, os laços de solidariedade estabelecidos entre a sociedade civil e os movimentos sociais também são imprescindíveis para o pleno desenvolvimento do continente negro.
O ministro elencou as diversas iniciativas empreendidas pelo Brasil em apoio à África durante o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como a obrigatoriedade do ensino de história africana nas escolas, a instalação de uma sede da Embrapa em Gana, a criação da universidade luso-brasileira na cidade cearense de Redenção e a instalação de um laboratório da Fiocruz em Moçambique.
Carvalho falou ainda do projeto em análise pelo governo Dilma de reservar cotas de vagas do ProUni a estudantes africanos. Segundo ele, a gestão da presidente Dilma Rousseff tem a missão de aprofundar as relações com a África a partir de um novo modelo que não se baseie na exploração e no assistencialismo — mas, sim, em laços de irmandade e solidariedade com o continente.
Histórias de luta
Já Inácio Arruda traçou a identidade entre os continentes americano e africano — marcados pelo genocídio de seus povos originários e pelos saques de suas riquezas. De acordo com o senador, a história comum de sofrimento e resistência gerou, em ambas as regiões, povos que carregam a perspectiva da luta libertária e da solidariedade. Para Inácio, essas características permitiram que os continentes superassem um passado de exploração e passassem a ocupar o centro das transformações políticas em curso no mundo.
O senador destacou a necessidade da integração solidária entre a América Latina e a África a partir do campo popular e democrático das sociedades civis e dos governos. Ele disse que o Brasil é um exemplo de como as repúblicas democráticas da América Latina podem ajudar a África a reescrever sua história por uma ótica de superação e conquista da soberania plena.
Democracia e soberania
O professor Tounou iniciou sua intervenção lembrando que durante muito tempo se ensinou nas escolas que as relações com as potências coloniais se transformaram, ao longo das décadas, em relações de cooperação. Ele contestou essa falácia afirmando que a transformação que ocorreu mudou o tipo de colonialismo, mas nunca deixou de ser o que é até hoje em muitos países.
Na opinião de Tounou, enquanto os Estados Unidos diziam estar na África para salvar o continente do colonialismo europeu, estavam, na verdade, aprofundando os instrumentos de exploração e a dependência africana aos países desenvolvidos. Ele falou da grave crise que o continente enfrenta desde a década de 1980 e disse que, mesmo assim, os países ricos não titubearam em jogar nas costas do povo o preço da crise que assolou o mundo nos últimos anos.
O professor enalteceu o novo modelo de desenvolvimento africano — estabelecido através da entrada dos investimentos dos BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China). Para ele, a relação entre esses países deve se afirmar em valores como a democracia e a soberania nacional. É nesse sentido que o Brasil serve de exemplo, apoiando a África na busca de seu próprio caminho de superação dos problemas e mazelas sociais.
Segundo Tounou, a construção dessa alternativa não será fruto apenas do esforço de governos progressistas, mas precisa também ser consequência da ação dos movimentos sociais — os verdadeiros protagonistas da construção de uma nova ordem mundial baseada na igualdade e na soberania.