O seminário A mulher e a mídia realizado de 02 a 04 deste mês no Rio de Janeiro, reuniu  organizações feministas,  jornalistas, integrantes de governos e parlamentos. Promovido pela Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM), Instituto Patrícia Galvão e Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher (Unifem), contou com 250 participantes.

A professora Eleonora Menicucci de Oliveira, pró-reitora de extensão da Unifesp, enfatizou o caráter histórico das eleições de 2010:  “Não é a Dilma que está lá. É uma geração que se desprendeu da classe média, foi para a luta e sofreu com o nosso corpo e sangue, deu um pouquinho para a conquista da democracia no país. Antes de ser a eleição da primeira mulher na Presidência, é a primeira eleição que diz não à tortura e não à violência." Tudo isso, segundo ela, coloca para o movimento de mulheres uma responsabilidade no sentido de fazer com que no governo da presidenta eleita, as questões de gênero sejam bem trabalhadas.

A comunicóloga Jacira Vieira de Melo, diretora executiva do Instituto Patrícia Galvão, apresentou os dados da Pesquisa sobre a Participação das Mulheres no Processo Eleitoral de 2010, que  analisou 3.372 notícias publicadas em 29 jornais de 14 estados, 4 revistas e 4 telejornais,  no período de  01/07 a 31/10/2010 (123 dias).  Do total de 3.372 notícias, 1.600 abordaram a questão do aborto. Alguns dados interessantes da pesquisa: mais de 50% da cobertura eleitoral estava voltada para a campanha presidencial, apenas 9% para o comportamento eleitoral feminino. Para Jacira, "a mídia ficou devendo no debate público sobre as propostas de políticas para as mulheres na cobertura da eleição presidencial."

Mulheres estereotipadas

O cientista político Luis Felipe Miguel, professor do Instituto de Ciência Política da UnB, falou sobre o mundo masculino da política e a reprodução das assimetrias  entre homens e mulheres que são reproduzidas na política. Uma análise do noticiário num período de três meses em 2006 e de três meses em 2007 mostrou que  nos noticiários de TV 87% dos personagens eram homens e nas revistas mais de 90%.  Quando uma mulher era apresentada, não pertencia ao mundo da política. "Se tirarmos Heloisa Helena, Dilma Rousseff e Marta Suplicy, não sobra quase nada", disse o professor. As mulheres no geral são caracterizadas como compassivas, maternais, e aquelas com destaque na politica têm sua vida pessoal exposta. As  matérias deixam passar que a mulher na política está fora de seu lugar (o lar).

Os estereótipos presentes na sociedade se reproduzem no espaço político. As mulheres deputadas priorizam as questões sociais; os deputados homens, a economia e a infraestrutura; o homem usa o terno como um uniforme, que passa a ideia de neutralidade; a mulher, dependendo do que veste, não tem como escapar. Dilma é chamada de “dama de ferro”, numa referência à sua capacidade gerencial, tratamento que não é dado a um governante homem. A mídia mostrava a ferocidade de Marta Suplicy atrás de um determinado cargo, enquanto muitos homens também estavam atrás do mesmo (cargo) e não eram citados. O caminho, segundo Luis Felipe, é longo: "a presença de um operário na Presidência não revogou o caráter classista da política. E uma mulher por si só não vai revogar o caráter machista. É necessário que a presença da mulher na política seja vista sem o signo da anormalidade que carrega.”

A masculinização dos jornais foi apontada pela jornalista Claudia Belfort, editora chefe do Jornal da Tarde, como uma questão visceral. "O jornal não vê a mulher como agente de transformação social", enfatizou Claudia. "Precisamos educar a sociedade para mudar essa forma de pensamento. Os jornais estão focados na pauta política e econômica. As pautas sociais são pautas de ‘mulherzinha’”.  Mas a mudança, segundo ela, deve chegar também à forma de fazer as matérias e também à forma de narrar.

A cientista política Sonia Wright, professora da área de gênero, poder e políticas públicas do NEIM/UFBA, informou que o Cfemea fez um levantamento das seis mil candidatas que disputaram nas eleições de 2010 e que registrou um aumento de mais de 50% em número de candidatas. Ela propỗs uma reflexão sobre qual é a interface entre a mídia, as candidaturas e outros atores/atrizes: os partidos, o horário gratuito, os institutos de pesquisa e a Justiça eleitoral.  

 

Atualizado em 10/12/2010