O seminário A mulher e a mídia, realizado de 2 a 4/12/2010 no Rio de Janeiro, reuniu  organizações feministas,  jornalistas, integrantes de governos e parlamentos. Promovido pela Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM), Instituto Patrícia Galvão e Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher (Unifem), contou com 250 participantes.

O seminário A mulher e a mídia, realizado de 2 a 4/12/2010 no Rio de Janeiro, reuniu  organizações feministas,  jornalistas, integrantes de governos e parlamentos. Promovido pela Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM), Instituto Patrícia Galvão e Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher (Unifem), contou com 250 participantes.

No painel A Mídia e as Mulheres no Poder: As diferenças como desigualdades?, a socióloga Luiza Bairros, secretária da Secretaria de Promoção da Igualdade da Bahia (Sepromi), observou que além de passarem a ocupar  cargos, as mulheres precisam de fato exercer o poder. Mais mulheres no poder deve significar mais mulheres para melhorar a vida de outras mulheres. Luiza ressaltou que o poder é masculino que a mulher ao exercer o mesmo poder é chamada de "sargentão, autoritária, histérica."

A socióloga também observou que a ausência da mulher na mídia é justificável porque estão à frente do combate ao sexismo, ao racismo e isso não interessa aos meios de comunicação, nos quais "há uma desqualificação permanente das mulheres, das mulheres negras, do que queremos combater."

Para Luiza Barrios, "há um deslocamento de identidades, as condições estão modificados. Se por um lado o racismo passa a ser exercido sem qualquer etiqueta, por outro lado, uma mulher assume o cargo mais importante do país, num momento em que o Brasil deslocou sua importância no cenário internacional."

O jornalista Rodrigo Vianna, repórter especial da TV Record e editor do blog Escrevinhador também resgatou temas como a forte presença de mulheres jornalistas na redações, mas a fraca presença das mesmas nos cargos de chefia.  A mudança de mentalidades, segundo ele, se dá numa velocidade muito menor se comparada à política e a economia. O país elegeu uma mulher, apesar de tudo o que a campanha oposicionista colocou no ar. A sociedade, segundo ele, não deu muita "bola". Sobre mudanças,  o jornalista disse ainda que os homens estão tentando se reinventar com os novos parâmetros trazidos pelas mulheres. 

Ele também lembrou do evento recente quando os meios de comunicação questionavam a capacidade de Cristina Kirchner de continuar à frente da nação argentina depois da morte do marido. Aqui perguntavam se Dilma Rousseff "saberia" governar sem Lula. Por que fazem isso? Para Viana essa reação da imprensa tem a ver com a posição de Cristina em relação à regulação dos meios de comunicação. Aqui no Brasil caberá à nova presidenta tratar do tema.

Reações descontroladas

Associar Dilma Rousseff  à imagem de defensora do aborto foi uma das técnicas adotadas pela candidatura oposicionista para derrotá-la. O caso foi citado pela jornalista  Laura Capriglione, repórter especial do jornal Folha de S.Paulo,  ao falar sobre o conservadorismo que se expressou em 2010, principalmente em relação ao aborto e outras questões sensíveis.  Segundo ela, as redes de mulheres terão que ficar atentas para as questões que devem surgir depois da experiência da campanha eleitoral deste ano. E  considerou as reações de setores da sociedade brasileira à entrada de novos atores no cenário público como "descontroladas, perturbadas", típicas de quem se sente ameaçado. Exemplos não faltaram: agressão aos homossexuais na USP, agressão à aluna da Uniban, o rodeio das gordas na Unesp. Reagir é a palavra, segundo Laura.

Laura Capriglione também citou as mães do Complexo de Favelas do Alemão que estariam passando por uma situação muito difícil, em especial aquelas cujos filhos foram mortos durante a ocupação realizada pelo governo do estado do Rio. "Da listagem parcial que o IML divulgou, 90% dos mortos são negros ou pardos. Ninguém sabe em que circunstâncias morreram essas pessoas", concluiu.

A jornalista e professora da Unicamp/SP, Ana Veloso, falou sobre a necessidade de regulação dos meios de comunicação para garantir o pleno exercício do direito à comunicação. As mulheres, segundo ela, representam 24% das fontes de informação no mundo, atesta o relatório da WACC (World Association for Christian Communication).  Ela apontou a reação da sociedade para inverter o quadro de concentração do poder da mídia e do patriarcado. A retirada do programa de João Kleber do ar, há alguns anos,  reverberou no estado de Pernambuco, onde mulheres negras conseguiram atuar contra programas que veiculavam conteúdo de cunho racista.

Para a socióloga Maria Betânia Ávila, o caminho ainda é longo. Apesar dos avanços conquistados no país, as estruturas não foram modificadas e mostraram sua força na campanha eleitoral de 2010. Para ela, a correção de forças tem que se dar na sociedade para dar força à presidenta eleita dentro do governo.

 

Atualizado em 10/12/2010