Conferência em Bruxelas retoma debate sobre ação da esquerda nos governos
A conferência "A esquerda no governo II: comparando a América Latina à Europa", realizada entre os dias 27 e 29 de junho, em Bruxelas, retoma o debate sobre a atuação transformadora das esquerdas enquanto participantes de governos. Promovida pelo Instituto Rosa de Luxemburgo, esta conferência reuniu representantes de partidos de esquerda europeus (da Alemanha, Itália, Islândia, do Parlamento Europeu, Suécia, Finlândia) e da América Latina (de El Salvador, Brasil, Paraguai, Nicaragua, Uruguai, Argentina, Equador, Guatemala, Venezuela, Chile e Bolívia) para relatar as experiências das esquerdas nos governos e os desafios decorrentes destas experiências. A Fundação Perseu Abramo, representada pela diretora Iole Ilíada, participou, além dos debates, da organização da conferência.
Segundo Iole Iliada, este evento continua o debate iniciado em abril de 2009. "Na ocasião, um evento denominado "A esquerda no governo: um projeto estratégico" buscou reunir representantes de vários países europeus e latino-americanos para discutir em que medida a presença nos governos representa uma possibilidade real, para a esquerda, de implementar seu projeto transformador. Naquele momento, chamaram a atenção as respostas bastante otimistas dos latino-americanos a esta questão, em comparação com os europeus, muito mais frustrados com suas experiências nos governos dos diversos países", explica a diretora da FPA. "Diante desse quadro, decidiu-se realizar este segundo encontro, agora para debater mais concretamente as ações e medidas implementadas pela esquerda ao governar, visando criar um quadro analítico comparativo mais apoiado em dados empíricos, para além da discussão em tese do problema da participação da esquerda nos governos."
Para traçar esse quadro comparativo mais concreto, os organizadores da Conferência estabeleceram seis eixos: democracia, igualdade racial, papel do Estado, cooperação regional e internacional, política de desenvolvimento e paz e justiça ecológica, buscando sistematizar os relatos de experiências dos governos e a análise da Europa e da América Latina. Durante o encontro, foram apresentadas as sínteses preparadas por Cornelia Hildebrandt (Fundação Rosa Luxemburgo) sobre a Europa e Valter Pomar (Partido dos Trabalhadores) sobre a América Latina, a partir de informes preliminares feitos pelos representantes de cada país. "Cabe dizer que, tanto nas sínteses quanto no debate que se seguiu a sua apresentação, evidenciou-se, a primeira vista, a dificuldade em estabelecer parâmetros de comparação quando tratamos de realidades tão distintas (não só entre Europa e América Latina, mas também internamente a cada um dos continentes). Ao mesmo tempo, porém, ficou claro que há coisas a serem aprendidas tanto de um lado como do outro. E, mais que isso, há a constatação de que a esquerda mundial não pode prescindir de encontrar uma agenda comum, que possa articular suas lutas no mundo, se quer de fato fazer avançar um processo transformador, capaz de superar o atual sistema, que cada vez se mostra mais insustentável do ponto de vista social e ambiental", afirma Iole Ilíada.
O Instituto Rosa Luxemburgo deverá publicar, futuramente, todas as apresentações em livro.