Uma polêmica recorrente nos processos eleitorais diz respeito ao papel cumprido pelas pesquisas de opinião. Qual a influência da sua divulgação nos resultados das eleições? Elas induzem o voto? Deveria haver algum tipo de restrição? Este é um debate relevante, que se relaciona com a qualidade do processo democrático. No entanto há uma outra dimensão pouco explorada desta relação das pesquisas com as eleições, que diz respeito menos à influência das pesquisas sobre os resultados e mais sobre a influência das pesquisas sobre o processo eleitoral.

No primeiro caso, existem evidências de que as pesquisas influenciam a decisão dos eleitores. Nos EUA, país pioneiro na realização de pesquisas eleitorais, estudos empíricos sobre cultura política já na década de 60 indicavam que uma parcela significativa dos eleitores se posiciona sem critérios ideológicos/programáticos e com escassa informação  sobre os candidatos e as suas propostas. Em Porto Alegre, já nos anos 80, estudos sobre a cultura política dos eleitores, utilizando a mesma metodologia, identificavam um contingente expressivo de eleitores que, por desinteresse, desinformação, decide seu voto de maneira bastante descomprometida.

Este contingente de eleitores tende a reproduzir os comportamentos e opções que considera corretos. E estas opções tendem a ser os que aparentemente são majoritários. Aí entram as pesquisas. Em pesquisas qualitativas, utilizando a metodologia de grupos focais, aparece de modo recorrente entre os eleitores a idéia de “não perder o voto”, ou “não jogar o seu voto fora”. Votar em um candidato perdedor, ainda que simpatize ou concorde com as suas propostas, é para estes eleitores um ato impensável. Disso resulta que este contingente, que eventualmente pode chegar a mais de 10% dos eleitores, tende a votar em quem está ganhando. A divulgação de pesquisas, portanto, incide sobre esta opção.

Isto sem contar o impacto das pesquisas sobre as campanhas, animando e estimulando a militância e os simpatizantes dos candidatos bem sucedidos e diminuindo o entusiasmo e reduzindo a eficácia dos candidatos de índices menores. Bem objetivamente, esta situação incide sobre a capacidade de captação de recursos financeiros para a sustentação das campanhas. Um candidato bem sucedido recebe mais apoio, portanto tem mais recursos.

Para além destas duas dimensões, que incidem sobre os eleitores e a eficácia das campanhas, há uma outra dimensão de influência das pesquisas. Mais oculta e por isso mesmo muito mais perigosa para a democracia. As pesquisas são hoje um importante instrumento na formulação dos discursos e propostas dos candidatos. O chamado marketing político, a aplicação de instrumentos das ciências sociais nas campanhas eleitorais, tem nas pesquisas um dos seus elementos centrais.

E esta utilização tem como resultado um processo no qual os candidatos, conhecendo as opiniões e angústias do eleitorado, tendem a orientar seu discurso por estas demandas. A eficácia eleitoral está dada justamente pela capacidade de incorporar os desejos e anseios dos eleitores. As distintas alternativas de políticas públicas e os projetos políticos em confronto ficam em segundo plano, em detrimento do esforço por agradar o eleitor dentro de uma dimensão publicitária. A disputa passa a ser pautada menos por propostas e programas, e mais por um esforço de agradar a média dos eleitores.

A eleição se despolitiza, na medida em que os candidatos tendem a se tornar iguais. O processo eleitoral, que deveria servir para que se discutisse e optasse por projetos políticos distintos, tende a se tornar um desfile de discursos pasteurizados e homogêneos. Diferenças são escamoteadas e a eleição se transforma em uma busca desenfreada pelo senso comum. A dimensão publicitária das campanhas, induzidas por pesquisas de opinião, transformam os projetos políticos em produtos de consumo. Entre um candidato e uma marca de sabonete a diferença se torna pequena. Uma perda de qualidade para a política e para a democracia.

*Tarson Núñez é mestrando em Ciência Política.