Realização: Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase)

Apoio: ARCI – Cultura e Sviluppo (ONG italiana dedicada ao tema do desenvolvimento)

Universo pesquisado: 1.548 pessoas entrevistadas (em seus domicílios). Foram aplicados questionários com perguntas “fechadas” e “abertas”. O entrevistado (um por domicílio) respondia pela sua família/moradores da casa. A pesquisa foi feita durante 6 meses, entre junho e novembro de 2009. As entrevistas domiciliares foram feitas nas 5 regiões que compõem a Cidade de Deus: Caratê, Lazer, Apartamentos, Quinze e Edgard Werneck.

Objetivos do trabalho: mapear a realidade socioeconômica da Cidade de Deus, tendo em vista relações de trabalho, renda, escolaridade, acesso a serviços, participação em atividades comunitárias, entre outros itens. A ideia é que as informações possam ajudar a orientar políticas públicas para a área (no relatório final há sugestões pontuais).

Observação: segundo o Censo Demográfico de 2000 do IBGE, a Cidade de Deus conta com 38 mil habitantes e 10.866 domicílios (estes números, porém, são contestados por lideranças locais, que apontam que a comunidade tem uma população de 65 mil pessoas).

RESULTADOS (Resumo):

FAIXAS ETÁRIAS:
A população da Cidade de Deus é jovem: mais da metade dos moradores (53,5%) tem até 30 anos de idade, conforme os números abaixo:

. 19% dos moradores são crianças até 10 anos
. 19% são jovens entre 11 anos e 20 anos
. 15,5% têm entre 21 e 30 anos
. 14% têm entre 31 e 40 anos
. 31% têm acima de 40 anos

RESIDÊNCIA:
A maioria da população (84%) mora em residência própria.
A média de habitantes por domicílio é de 3 pessoas.
93% das casas são feitas de alvenaria e possuem média de 4 a 5 cômodos.
 
Tempo de moradia:
Apesar do perfil jovem, as famílias moram lá há muito tempo:
58% dos entrevistados residem no mesmo domicílio há 10 anos ou mais.

RENDA FAMILIAR MENSAL:
. 30% da população da Cidade de Deus têm renda familiar mensal de até 1 salário mínimo (R$ 581,00) e 40% possuem renda familiar entre 1 e 2 salários mínimos, como se observa nos dados abaixo:
. Zero a 1 salário mínimo (De R$ 1,00 a R$ 581,00): 30%
. 1 a 2 salários mínimos (De R$ 581,00 a R$ 1.162,00): 40%
. 2 a 3 salários mínimos (De 1.162,00 a R$ 1.742,00): 18%
. Acima de 3 salários mínimos (acima de R$ 1.742,00): 9% da população.

Mulheres chefiam famílias:
. 63% dos domicílios têm a mulher como principal responsável
. 37% dos domicílios têm o homem como principal responsável.

TRABALHO E INFORMALIDADE:
Os percentuais dos que não trabalham (situação de estudo ou desemprego) são elevados, bem como os índices de informalidade. Dos moradores considerados parte da população economicamente ativa (acima de 10 anos):

. 33% não trabalham (inclui estudantes, desempregados, os que não procuram emprego etc)
. 23% são profissionais liberais informais;
. 21% são funcionários de empresas privadas;
. 13% aposentados/pensionistas;
. 7% são profissionais liberais formais.
. Outros/NS/NR – 3%

EMPREGO DENTRO DA CIDADE DE DEUS
. 78% dizem não ter fácil acesso a emprego formal dentro da Cidade de Deus.
. Segundo os entrevistados, as principais atividades econômicas dos empreendimentos existentes dentro da comunidade são de medicamentos (95%), Internet (89%), Alimentos (88%), entre outras.

EM TERMOS DE FORMAÇÃO PROFISSIONALIZANTE, QUAIS SERIAM AS PRIORIDADES?
. 21% responderam: cursos para a área de informática (nível técnico)
. 10% responderam: cursos de línguas estrangeiras
. 6,5% responderam: cursos de mecânica (de automóvel)

ESCOLARIDADE
A escolaridade é baixa. Dos jovens (mais de 15 anos) e adultos que moram na Cidade de Deus:

. 44% não completaram o ciclo do ensino fundamental;
. Apenas 6% alcançaram o ensino superior (completo e/ou incompleto)
. 37% alcançaram o ensino médio (completo e/ou incompleto)
. 12% possuem o ensino fundamental completo (não tendo prosseguido os estudos).

E como é o acesso a serviços de educação?
. 96% afirmam haver uma escola de ensino fundamental pública perto de casa;
. 19,5% afirmam haver uma escola de ensino médio pública perto de casa.
. Apenas 0,1% afirmam haver uma escola de ensino superior perto de casa.
. 69% afirmam haver uma creche pública perto de sua casa
 
SERVIÇOS:
A ampla maioria tem aceso a luz (99,7%), água (96%) e esgoto (96%).

UTENSÍLIOS DOMÉSTICOS
. 99% têm fogão
. 97% têm geladeira
. 93% têm TV
. 74% têm vídeo/DVD
. 65% têm máquina de lavar roupa
. 62% têm telefone
. 34% têm computador em casa (sendo que 23% têm acesso a Internet)
. 33% têm microondas
. 19% têm TV a cabo
. 15% têm carro

COMPUTADOR
. A maioria (56%) dos moradores da Cidade de Deus não usa o computador;
. Dos que usam computador, o principal uso é para lazer (20%)
. 24% acessam o computador em casa; 13% em lan houses

COMO SE INFORMAM?
. O principal meio utilizado para obter informação é a TV (80%). A Internet aparece em segundo lugar, com 6%, superando o rádio (3%) e jornais (2%).
. Apesar da leitura de jornais ser baixa, 59% dos moradores afirmam que lêem manchetes de jornal (provavelmente nas bancas).

LÍNGUAS ESTRANGEIRAS:
Apenas 8% dos moradores da Cidade de Deus possuem algum conhecimento de inglês e 3% de espanhol.
 
PRINCIPAIS CARÊNCIAS NA ÁREA DE COMÉRCIO:
. Agência bancária – 29% (apontaram como a principal carência)
. Supermercados – 18%
. Lojas de roupas – 7%
. Farmácia popular – 6%

COR:
A maior parte dos moradores se declara “parda” (44%), seguida por “negros” (32%) e brancos (22%).

RELIGIÃO:
A maioria (46%) se diz católica, seguida por evangélicos (30%) e espíritas (3%). Parte significativa (18%) se declara “sem religião”.

PARTICIPAÇÃO SOCIAL
. 71% não participam de práticas social-comunitárias, embora 26% participem (pesquisadores consideram relevante este índice de participação)
. Apenas 2% dos moradores têm prática político-partidária
 

COMENTÁRIOS FINAIS:

O perfil socioeconômico da Cidade de Deus revela uma comunidade em situação relativamente precária, com um alto índice de trabalhadores informais (23%), baixa escolaridade (44% dos jovens e adultos não completaram o ensino fundamental) e baixa renda (30% têm renda familiar de até 1 salário mínimo). Apesar disso, é significativo o percentual dos moradores que têm computador em casa (34%), embora, no cômputo geral,  um em cada dois moradores (56%) não faça uso dele. Este último item parece despertar a atenção dos moradores, já que diante da pergunta sobre quais seriam as prioridades na área profissionalizante, 21% responderam “cursos para a área de  informática”.  Embora não intenso, o associativismo pode representar um potencial de mudanças (ao fortalecer reivindicações), já que 26% participam de atividades sociais-comunitárias.
 
RECOMENDAÇÕES DE POLÍTICAS PÚBLICAS E SOCIAIS:
Investir em formação educacional e profissional formal:
. ampliar a rede pública de educação no bairro principalmente no que tange ao ensino médio (apenas 19,5% afirmam haver uma escola de ensino médio perto de sua casa). No que diz respeito à educação profissional, é preciso lutar para que espaços de formação técnica e superior sejam implantados no sistema educacional público local.

Investir em políticas para jovens:
. é preciso promover projetos que atendam às crianças, jovens e jovens adultos (que são mais da metade da população) para criar uma consciência de participação e comprometimento dos moradores em relação à comunidade e lutem pelo desenvolvimento social e econômico da mesma.

Geração de trabalho e renda:
. tendo em vista o alto índice de informalidade existente, desenvolver atividades de fomento, formação e comercialização para iniciativas de geração de trabalho e renda, sobretudo economia solidária (com eixos como a cooperação, autogestão e solidariedade).