Um ano depois, documentário registra repressão e resistência em Honduras
Quase um ano atrás, em 28 de junho de 2009, ocorreu o golpe que derrubou o presidente constitucional de Honduras, Manuel Zelaya. Desde então uma forte reação popular se desencadeou no país, além de uma grande pressão diplomática contra o governo golpista e seu continuador, o atual presidente Porfírio Lobo.
Quase um ano atrás, em 28 de junho de 2009, ocorreu o golpe que derrubou o presidente constitucional de Honduras, Manuel Zelaya. Desde então uma forte reação popular se desencadeou no país, além de uma grande pressão diplomática contra o governo golpista e seu continuador, o atual presidente Porfírio Lobo.
Desde o primeiro dia do golpe, a cineasta hondurenha Katia Lara começou a registrar os fatos que estavam ocorrendo nas ruas do país, filmando as manifestações contra o golpe, a repressão – que gerou dezenas de mortes desde então – e a resistência persistente de grande parte da população à destituição de Zelaya.
Desse trabalho surgiu o documentário “Quién dijo miedo. Honduras de un golpe”, cuja primeira exibição pública ocorreu na noite desta segunda, 07 de junho, em Buenos Aires. Desde dezembro Katia Lara está exilada na Argentina, e aqui concluiu a realização do documentário, com apoio do Instituto Nacional de Cine y Artes Audiovisuales (INCAA) argentino. A sessão teve um público de cerca de mil pessoas, que lotaram a sala do INCAA.
Trata-se do primeiro documentário longa-metragem sobre o golpe de estado no país centro-americano. O filme descreve as causas imediatas do golpe e porque os setores mais conservadores de Honduras resolveram derrubar Zelaya – que, afinal, era do Partido Liberal, um dos dois partidos que sempre se revezaram no poder no país. E conta o que aconteceu desde que o presidente deposto Zelaya teve de abandonar o país, passando por suas tentativas de retornar e, finalmente, sua entrada de forma clandestina em Honduras e seu abrigo na Embaixada do Brasil durante quatro meses.
A força do filme está na riqueza de imagens da resistência popular – e da fortíssima repressão que desde o início o governo golpista impôs ao país. O que vemos é que houve uma reação popular imediata ao golpe, em defesa de Zelaya – um “caudilho” com ares progressistas, como define um dos entrevistados do documentário –, mas principalmente das mudanças que estavam ocorrendo no país e da legalidade. A Frente Nacional de Resistência se organizou rapidamente e, a partir de organizações camponesas, indígenas, sindicais e culturais, conseguiu unificar e coordenar a oposição ao golpe.
Sem maiores pretensões formais, o filme é um forte e bem documentado manifesto contra o golpe e contra a repressão, retomando as heranças de um certo cinema militante, mas de caráter não dogmático, ou seja, sua causa principal é a defesa de um caminho democrático para Honduras e para a América Latina. E, por isso mesmo, acaba por ser também um alerta para todos os países do continente sobre esta nossa velha e triste tradição, os golpes mitares.
Ainda não há previsão para a exibição de “Quién dijo miedo. Honduras de un golpe” no Brasil. A ideia da diretora não é exibir o filme em circuito comercial, mas sim por meio de organizações sociais e sindicatos.