Um programa do governo federal chamado Cultura Viva, pouco (para não correr risco de ser injusto) ou nada repercutido na imprensa tradicional, tem sido responsável por um acréscimo significativo da produção cultural no Brasil, além de mudar a maneira como a cultura é feita e o acesso da população a ela.

Um programa do governo federal chamado Cultura Viva, pouco (para não correr risco de ser injusto) ou nada repercutido na imprensa tradicional, tem sido responsável por um acréscimo significativo da produção cultural no Brasil, além de mudar a maneira como a cultura é feita e o acesso da população a ela.

Uma parceria entre o governo federal, que teve seus primeiros passos em 2004, e segmentos produtores de cultura da sociedade civil, que ao longo dos anos foram aumentando em número, forma o chamado Ponto de Cultura.

Explicando em termos gerais, neste programa entidades culturais situadas nos mais diversos espaços geográficos com suas mais diversas formas de expressão cultural (grandes cidades, favelas e periferias, pequenos municípios, aldeias indígenas, assentamentos rurais, comunidades quilombolas, universidades etc) através de um edital público apresentam projetos para ampliarem suas atividades culturais já exercidas e/ou disseminarem seus conhecimentos através de cursos, oficinas, etc. Uma vez aprovados seus projetos, as entidades passam a ter o estado como parceiro.

Atualmente, há mais de 2000 parcerias espalhadas por todos os Estados brasileiros e no Distrito Federal disseminando cultura e tendo os tradicionais percalços enfrentados pelos produtores culturais brasileiros, pelo menos, amenizados.

Em um país de vasta cultura apesar das históricas ausências de políticas públicas e de recursos disponibilizados para esta área por parte da federação trata-se de uma revolução.

No contexto atual, em que as tecnologias para a produção e a disseminação da cultura estão mais acessíveis, graças ao barateamento do preço dos computadores verificados nos últimos anos e graças ao avanço dos softwares livres e da internet que possibilitam a rápida e praticamente gratuita troca de conteúdos, uma explosão de conteúdos é disponibilizada, memórias e tradições são registradas, além de outros avanços significativos que são viabilizados já que parte da verba é destinada à compra de equipamentos multimídia (câmeras de filmagem, fotográficas, microfones para registro de áudio, etc).

Para que o uso destes equipamentos e a produção cultural se deem com maior qualidade técnica, organizações com expertise em cultura digital se tornam Pontos de Cultura Digital e fazem trabalhos de capacitação oferecendo cursos e oficinas gratuitos aos Pontos de Cultura que muitas vezes se estendem para a população não diretamente ligada a eles.

Com tudo isso, grupos teatrais oferecem oficinas de teatros e peças gratuitas ou a preços muito baixos à população; fabricantes de instrumentos dão oficinas de construção e de como tocá-los; quilombolas e indígenas registram e promovem suas tradições; grupos ligados ao hip-hop, ao circo, a práticas tradicionais como maracatu, bumba-meu-boi, folias-de-reis ganham apoio em sua arte; produções áudio-visuais são viabilizadas, instituições como museus, centros culturais, bibliotecas, cineclubes, rádios comunitárias são valorizadas e uma infinidade de outros grupos, que até então, só contava com o esforço e a boa vontade de seus integrantes, passa a poder planejar a execução de suas atividades além de transmitir seus conhecimentos e/ou sua herança cultural.

A cultura popular, patrimônio inestimável no Brasil, ganha fomento de quem antes, na melhor das hipóteses, só privilegiava a cultura erudita ou o entretenimento da indústria cultural.

O povo tem acesso maior a uma arte que não passa pelo filtro da indústria cultural e que não precisa de seu intermédio para ser distribuída, além de ter papel ativo na produção e disseminação cultural que disponibiliza fisicamente à sua região ou, através da internet, ao Mundo todo.

À medida em que progredirmos com a universalização do acesso à rede mundial, tendência irreversível para países que almejam a liberdade de comunicação, expressão e inclusão de seus cidadãos, o Programa Cultura Viva, ao qual os Pontos de Cultura estão ligados, passará a significar um avanço ainda maior. Ainda assim, dados do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) estimam que as atividades dos Pontos de Cultura já chegaram a mais de 8 milhões de brasileiros, entre os que participam ativamente da produção cultural e como espectadores.

Esta experiência brasileira, ainda menos conhecida pela população do que deveria devido ao silêncio sem justificativa da imprensa televisiva e impressa já está sendo exportada para países do Mundo todo, em especial os da America Latina.

Os pontos de Cultura representam o sucesso do diálogo entre o Estado e uma parte da sociedade civil que nunca havia entrado na agenda pública do país; representam um método de gestão inovador cujos frutos devem ser saboreados por todos que admiram cultura.

Este texto, portanto, pretende ser apenas um aperitivo que impulsionará o leitor a conhecer pessoalmente os Pontos de Cultura. O site do Ministério da Cultura , embora não totalmente atualizado, disponibiliza mais informações sobre eles e sobre suas localidades:, o site Iteia (http://www.iteia.org.br/) registra parte da produção desses Pontos.

Bom descobrimento!

*Thiago Esperandio atua como jornalista, arte-educador no Coletivo Digital, é mestre em Ciências da Religião pela PUC-SP e mantenedor do blog Mundo Vasto Mundo – twitter @tjesperandio.

 

Publicado no Portal TID, em 18/5/2010